22 DE JUNHO DE 2019
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O PCP tem um património de intervenção no reconhecimento da dimensão social e política quanto à violência
doméstica e na adoção de políticas que visem a proteção das mulheres vítimas, porque as mortes de mulheres
são expressão dramática de uma realidade que urge erradicar. Por isso o PCP votou favoravelmente. Contudo,
tem uma posição oposta ao modo como é feita a contextualização das causas e dos responsáveis por estes
fenómenos e pelos seus trágicos desfechos.
Reconhecendo que as mulheres são as principais vítimas, condenamos toda a violência doméstica, sem
desvalorizar os seus trágicos desfechos que afetam mulheres, homens e crianças.
Não pactuamos com o branqueamento do sistema capitalista assente na exploração e dominação que
alimenta a violência nas suas diversas dimensões na sociedade, ao mesmo tempo que faz uso dos mecanismos
de opressão sobre as mulheres, de que a violência sobre a mulher na família bem como a exploração das
mulheres na prostituição são expressões extremas e concretas, nem com o branqueamento das políticas
realizadas em Portugal, que explica a distância entre a legislação que reconhece a violência doméstica como
um crime e a necessidade de adotar medidas de proteção às suas vítimas e a falta da sua implementação,
deixando desprotegidas muitas mulheres e continuando a registar-se as mortes como o desfecho mais dramático
e intolerável.
Para o PCP, a melhor homenagem que pode ser feita às vítimas de violência doméstica, designadamente no
que concerne aos trágicos desfechos de mortes, é dar uma efetiva prioridade política aos investimentos
necessários em importantes serviços públicos e funções sociais do Estado que assegurem uma adequada
proteção às mulheres vítimas de violência. É preciso ir bem mais longe na prevenção, combate e erradicação
do flagelo social da violência doméstica.
Consideramos fundamental mudar as mentalidades de mulheres e de homens, seja no contexto familiar, seja
dos profissionais que intervêm ou devem intervir nestas áreas, como consideramos fundamental a condenação
de sentimentos e práticas de «posse», de «propriedade», da lei do mais forte sobre o mais fraco. Mas tal só será
possível enfrentar com a adoção de políticas que de forma séria, articulada e consistente impulsionem efetivas
mudanças, desde logo:
Ampliar uma intervenção de sensibilização e de sinalização a partir de uma estrutura descentralizada de
prevenção e combate à violência doméstica, reforçando de forma continuada os recursos financeiros, humanos
e técnicos dos diversos serviços que devem intervir nestes domínios — forças de segurança, sistema judicial,
segurança social, cuidados primários de saúde (incluindo a saúde mental, designadamente na vertente do apoio
psicológico). No que à saúde diz respeito, é necessário reforçar a resposta do Serviço Nacional de Saúde, em
particular na área da saúde mental;
Reforçar os meios que assegurem uma resposta qualificada, individualizada, rápida e eficaz na proteção das
mulheres vítimas (antes e depois de lhes ter sido atribuído esse estatuto), bem como aos seus filhos, garantindo
uma adequada articulação entre serviços que permita celeridade de resposta, designadamente nas 72 horas
subsequentes à queixa, e lhes assegure o apoio em todas as etapas a percorrer até iniciar um novo projeto de
vida livre de violência;
Promover uma adequada sinalização e acompanhamento dos agressores, não apenas na eficácia do
processo criminal e judicial mas também visando prevenir futuras reincidências;
Aprofundar as medidas de acompanhamento e proteção das crianças e jovens filhos das mulheres mortas
por violência doméstica e das que têm estatuto de vítima.
Criar uma rede pública de apoio às mulheres vítimas de violência.
A mudança de mentalidades no domínio da violência doméstica, tendo especificidades, não pode ser
desligada da sua permanente reprodução numa sociedade em que se «banaliza a cultura da violência» que
atravessa diversos domínios da sociedade, da subversão dos valores e de comportamentos e atitudes que
minam as relações interpessoais, como está patente na mercantilização do uso da imagem da mulher como
objeto sexual e na crescente mercantilização da prostituição como opção das mulheres, quando igualmente se
trata de uma grave forma de violência sobre as mulheres que são propriedades das redes de proxenetismo
organizadas.
Assembleia da República, 25 de junho de 2019.
A Deputada do PCP, Paula Santos.