I SÉRIE — NÚMERO 103
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Sr. Deputado, devo dizer que, depois da sua intervenção, percebi que a grande força de bloqueio é o próprio
Partido Socialista e que, hoje, veio emendar a mão das suas Jornadas Parlamentares. Da nossa parte, esteja à
vontade, porque não guardamos nenhum tipo de ressentimentos.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para pedir esclarecimentos, tem agora a palavra o Sr.
Deputado António Filipe, do PCP.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Fernando Rocha Andrade, queria começar por
dizer que valorizamos muito o que aconteceu nesta Legislatura.
Valorizamos muito, desde logo, a contribuição que o PCP deu para que esta Legislatura tenha sido aquilo
que foi e não a continuação da Legislatura anterior. É que, na noite de 4 de outubro de 2015, aliás, numa altura
em que o Secretário-Geral do Partido Socialista até já dava como adquirido que ficaria na oposição, ficou
conhecida uma frase do Secretário-Geral do PCP, quando afirmou que o Partido Socialista poderia formar
Governo se quisesse. A partir daí, de facto, abriu-se um caminho.
Importa daqui retirar algumas lições, desde logo, a de que, afinal, as eleições não eram para eleger primeiros-
ministros.
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Ora bem!
O Sr. António Filipe (PCP): — As eleições eram para eleger Deputados à Assembleia da República e a
solução governativa sairia daquela que fosse a correlação de forças na Assembleia da República. A direita tinha
perdido a maioria absoluta e havia todas as condições para ser afastada do Governo.
Portanto, congratulamo-nos muito que, em função deste novo quadro que se abriu, tenha sido possível
encontrar uma solução governativa que, de facto, trouxe grandes avanços para os portugueses em matéria de
reposição de direitos e rendimentos, que demonstrou que o caminho que a direita dizia ser o único não o era,
pelo contrário, era o pior dos caminhos, e ficou demonstrado que a economia portuguesa só tinha a ganhar com
um aumento do poder de compra da maioria dos portugueses, particularmente daqueles que menos tinham e
que menos podiam.
O Sr. João Dias (PCP): — Muito bem!
O Sr. António Filipe (PCP): — Isso refletiu-se nos números da economia, refletiu-se nos números do
desemprego, refletiu-se, de facto, numa outra realidade para o nosso País.
Porém, Sr. Deputado, do nosso ponto de vista, era possível ter ido mais longe em algumas matérias e não
se foi porque, de facto, aí, o Partido Socialista não nos acompanhou. O Partido Socialista não quis alterar para
melhor a legislação do trabalho e, portanto, não só se conformou com aquilo que a direita tinha feito como até
apresentou propostas que ainda estão em discussão mas que, do nosso ponto de vista, não melhoram, pelo
contrário, a fragilização dos trabalhadores, provocada pela política de direita.
Era possível ter ido mais longe, relativamente aos serviços públicos, à contratação de funcionários.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sr. Deputado, tem de terminar.
O Sr. António Filipe (PCP): — Vou terminar, Sr. Presidente.
Era possível ter reposto as freguesias que foram extintas pelo PSD e pelo CDS e isso não foi por diante
porque o Partido Socialista preferiu ficar fiel à sua ideia das contas certas para fazer boa figura em Bruxelas,
fazendo má figura em Portugal.
Por isso, Sr. Presidente — e termino —, congratulamo-nos com o que aconteceu nesta Legislatura mas
podíamos ter ido mais longe e na próxima Legislatura o PCP cá estará para lutar por mais avanços e para
impedir que se volte para trás.