3 DE JULHO DE 2019
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Entendemos que o debate sobre os grandes temas do futuro — do clima à inteligência artificial, passando
pelos desafios demográficos que enfrentamos — reclama o envolvimento e participação continuada de todos os
partidos políticos desta Câmara.
Portanto, após um processo de reflexão, envolvendo o grupo parlamentar e o Partido Social Democrata, onde
olhámos tanto para a realidade desta Assembleia como para modelos existentes noutros Parlamentos, em que
escutámos vários elementos e peritos da sociedade, independentemente da cor política ou ideologia, vimos aqui
assumir o compromisso de propor a criação da «Comissão para o Futuro», na próxima Legislatura.
Não pretendemos, com isto, condicionar quem vem a seguir a nós, mas sentimos que temos a
responsabilidade de criar um espaço, tanto formal como real, para reflexão, um santuário onde se olhe para lá
da tática e da agenda eleitoral, onde se avalie o que foi feito no passado e se identifiquem os desafios que se
adivinham no horizonte.
Sublinhamos: esta ideia não é inédita — o exemplo finlandês tem mais de duas décadas — e pretende ajudar
todo e qualquer Governo.
Estamos a chegar ao final de mais um ano desta Legislatura e de um ciclo parlamentar. É, portanto, tempo
de integrar a grande aprendizagem que nos é oferecida todos os dias nesta Câmara.
É neste contexto que faço a minha intervenção e que escolho uma proposta para o futuro. É um enorme
privilégio e uma profunda responsabilidade sermos quem somos, neste momento e neste lugar. Representamos
um País que olha para nós expectante e ávido de soluções e de respostas aos desafios que a sociedade enfrenta
no mundo de hoje.
A imprevisibilidade da política tem-me permitido confirmar que as pessoas fazem, de facto, a diferença. A
ação de uma só mulher ou de um só homem pode ser o que baste para que a mudança aconteça.
Falo dos agentes políticos, naturalmente, cuja responsabilidade é brutal face aos desafios do futuro. Tal como
indica a origem latina da palavra, «ministro» significa «servo», não aquele que se serve mas o que serve os
outros.
No final desta Legislatura, não posso deixar de lamentar a falta de sentido de Estado e de serviço deste
Governo, que insiste em não pensar nas gerações futuras, apenas nos ganhos de curto prazo, nos jogos
políticos, nos acordos por conveniência.
O Sr. António Costa Silva (PSD): — Muito bem!
A Sr.ª Margarida Mano (PSD): — Não serve quem, para salvaguardar os seus interesses pessoais, sacrifica
o futuro das novas gerações; não serve quem se preocupa apenas com as aparências e com o controlo das
situações, quem não vê que o futuro não se controla, quanto muito mitigam-se os impactos e adaptam-se os
meios.
Estamos aqui para servir o Estado, não para nos servirmos do Estado. Somos veículos do Estado, mas não
nos confundimos com ele. Só assim a mudança pode estar, de facto, nas mãos dos cidadãos, pode ser a voz
de todos aqueles que nos interpelam, individualmente ou como membros de algum grupo. É sempre uma honra
e uma lição de humildade servir.
Esta é uma Legislatura pouco habitual em alguns aspetos. Pela primeira vez, o Presidente da Assembleia da
República não foi nomeado pelo partido mais representado, uma novidade que demonstrou outros caminhos
possíveis, dentro do respeito pelo sufrágio.
Mas foi também uma Legislatura na qual, infelizmente, a democracia saiu fragilizada, pela flagrante falta de
sentido de Estado do Primeiro-Ministro relativamente a esta Câmara, em algumas situações.
Sinais dos tempos, talvez, mas, acima de tudo, sinal de que vivemos um tempo excecional.
Num mar de incertezas, sem horizonte claro, é fundamental uma democracia forte e saudável, para que o
povo português saiba que está em boas mãos.
O tempo corre e as oportunidades perdem-se, por falta de ação decisiva e consciente. Por outras palavras:
há um excesso de ações táticas, mediáticas e, frequentemente, enganadoras, que não nos levam a lado
nenhum, mas que dão a impressão de ruído e movimento. Qualquer ganho que possa advir destes enganos
será de curta duração. Governar é olhar mais longe, é construir um futuro comum, sempre com o maior sentido
de humildade.