I SÉRIE — NÚMERO 103
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Mais do que nunca é-nos exigida transparência, mas não apenas formal. Não nos pode assustar a exigência
da prestação de contas. Os mecanismos já existem, é verdade, e são respeitados formalmente os processos.
No entanto, isso não chega. Tem de haver um maior respeito pelo espírito desta Assembleia e não apenas pela
letra do seu funcionamento.
Isto também se aplica ao processo deliberativo nesta Câmara.
Sejamos francos: debatemos os assuntos ou apenas expomos posições imutáveis, independentemente dos
argumentos apresentados pelas outras partes?!
Funcionamos mesmo como um fórum, onde as várias visões da sociedade coexistem, num esforço conjunto
de consenso democrático, ou como uma arena, onde vencer é sempre, e apenas, o mais importante?!
A quem servimos, se entre alas diferentes existem, para além das ideologias, abismos intransponíveis?!
Estamos neste Parlamento para servir o presente e preparar o futuro. Isto implica construir plataformas de
consenso num espaço próprio que poderá ser, e espero que venha a ser, a Comissão para o Futuro.
Termino, com as palavras de Greta, a corajosa jovem que «vê o Rei nu» e quer mudar o mundo. Ela diz:
«Isto não é um discurso político. (...) Isto é um pedido de ajuda». Ela diz: «E sim, precisamos de esperança,
claro que precisamos. Mas aquilo de que precisamos, mais do que de esperança, é de ação. Quando
começarmos a agir, a esperança surgirá em todo o lado».
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, viva a democracia num Portugal de gente livre, solidária e informada!
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Passamos agora à intervenção do Sr. Deputado Fernando
Jesus.
Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Fernando Jesus (PS): — Sr. Presidente da Assembleia da República, Sr.as e Srs. Deputados: No
momento em que se aproxima o fim da XIII Legislatura, termino também um percurso parlamentar de cerca de
20 anos.
Tomei esta decisão por considerar que faz bem ao Parlamento o contributo de novos protagonistas, de gente
com novos conhecimentos e experiências, que tragam um novo arejamento à vida parlamentar.
Esta decisão foi já por mim anunciada num almoço de reconhecimento com que, generosamente, cerca de
500 amigos e camaradas me presentearam no Porto.
Saio do Parlamento, mas não saio da vida política. Vou continuar a apoiar o Governo e a servir o meu partido
nos combates que for necessário travar.
Neste momento, quero agradecer, em primeiro lugar, ao meu partido, por ter confiado no meu trabalho, ao
permitir que fizesse parte deste grupo parlamentar durante tantos e bons anos.
Quero dirigir também um agradecimento ao povo português, muito especialmente aos cidadãos do distrito
do Porto, o meu círculo eleitoral, pela confiança que depositaram no PS, sem a qual não teria sido eleito.
Não posso deixar de dirigir um agradecimento a todos os colaboradores e assessores do Grupo Parlamentar
do PS, pela prestimosa colaboração e apoio que me prestaram ao longo dos anos, e também aos colaboradores
e assessores da Assembleia da República, cujo profissionalismo nunca é demais sublinhar.
Aos Deputados do meu grupo parlamentar uma palavra muito especial pela amizade e camaradagem que
construímos ao longo do tempo.
Não obstante as diferenças de opinião e de projeto de sociedade que nos separam no plano ideológico, foi
possível conviver e construir pontes de entendimento, no respeito democrático, e mesmo de amizade com muitos
colegas Deputados de praticamente todas as bancadas.
Uma palavra de simpatia e muita estima também para os representantes dos órgãos de comunicação social,
alguns deles a trabalhar nesta Assembleia desde que cá cheguei.
Se algum inimigo tenho nesta Casa, desconheço, mas saio com a certeza de que deixo cá muitos amigos e
muitas amigas em todos os quadrantes políticos.
Sr. Presidente, V. Ex.ª tem exercido a presidência da Assembleia da República com inteligência e especial
bom senso, exercício que deve ser cada vez mais assumido, para que esta Casa seja a Casa em que os
portugueses se revêm na sua plenitude.