5 DE JULHO DE 2019
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vésperas de eleições e ainda por detrás do que John Rawls chamava de o «véu de ignorância», de não saber
quem cá estará a seguir. Muitos não estarão, pelo que poderemos ser mais imparciais nesta matéria.
No que toca à transparência na seleção de cargos dirigentes, estamos na altura de fazer uma avaliação do
modelo de seleção de dirigentes através da CReSAP (Comissão de Recrutamento e Seleção para a
Administração Pública) e de reforçar a sua transparência e clareza.
Há, de facto, campo para melhorias neste modelo. Desde logo, no processo de seleção da ou do Presidente,
o papel da Assembleia da República deveria ser reforçado e deveria haver um consenso alargado sobre a
personalidade em causa.
Depois, na informação que é veiculada nos processos concursais, não deveria haver uma ordenação dos
candidatos e uma divulgação de todos os CV (curricula vitae) dos candidatos da shortlist? Parece-me que sim.
Importante também é saber para que cargos deve haver apenas parecer da CReSAP e quais aqueles em
que deve haver concurso.
A forma de melhorar a transparência e clarificar a responsabilidade dos titulares de cargos políticos é dar-
lhes a possibilidade de nomear diretamente as pessoas para certos cargos em que é essencial o alinhamento
de interesses entre o político e o alto dirigente. Devemos assumir, com toda a naturalidade, que há cargos de
confiança política que devem ter mandatos semelhantes aos do titular do cargo político e cargos
predominantemente técnicos com mandatos mais longos e processos concursais.
Finalizo, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, com uma ideia fundamental, retomando o início da minha
intervenção. Temos uma oportunidade única, de dar um passo em frente na transparência e na eficácia da
seleção de cargos dirigentes, que não devemos desperdiçar. As propostas que apresento não são minhas,
resultam do que li, ouvi de outros aqui, na Assembleia da República, conversei e pareceu-me razoável. Devem
certamente ser debatidas e melhoradas e, por isso, solicitei a baixa à comissão dos referidos projetos.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Paulo Rios
de Oliveira, do PSD.
O Sr. Paulo Rios de Oliveira (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O tema hoje em debate,
ligado a nomeações, transparência ou códigos de conduta, coloca automaticamente os olhos dos portugueses
sobre nós. E nós temos de, aqui, assumir responsabilidades.
A verdade é que neste debate, que não começou hoje, o PSD não esteve somente a acompanhar, esteve a
intervir de forma ativa e participada.
Aliás, a nós, cabe a iniciativa de apresentação da entidade para a transparência,…
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Não, não é verdade!
O Sr. Paulo Rios de Oliveira (PSD): — … cujo conceito fomos beber à Entidade para as Contas e
Financiamento dos Partidos, bem como do novo código de ética para os Srs. Deputados.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Não é verdade!
O Sr. Paulo Rios de Oliveira (PSD): — Mas se cumpre aqui realçar o que o PSD fez, também cumpre realçar
aquilo que o Governo e o Partido Socialista, infelizmente, não fizeram. É que o Governo, sendo talvez o maior
responsável, neste momento, pelo clima de forte descrédito que incide sobre os governantes e os políticos, não
nos conseguiu dar respostas que pusessem fim a esse clima de desconfiança. Ou seja, o Governo continua a
não fazer parte da solução e, pelo contrário, faz parte do problema.
Protestos do Deputado do PCP Jorge Machado.
Quando a questão das nomeações ou a existência de vários membros da mesma família no Governo não
está sequer respondida, nós perguntamos: onde é que está o Governo? Onde é que está o Partido Socialista?
Mas, mais do que isso, esta discussão acabou por ser descentrada no tempo e no espaço. Primeiro, porque
o Governo, podendo chamar a si esta matéria, pois era matéria da sua reserva, e resolver em tempo próprio a