5 DE JULHO DE 2019
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Aliás, o que dizer também dos partidos que aprovaram que os impedimentos dos titulares de cargos políticos
ficavam reduzidos aos pais e aos filhos e que agora já apresentam propostas, em relação aos gabinetes, que
vão até ao quarto grau da linha colateral? Revela muito pouca coerência.
E quando surgir um novo caso? Já agora, e os amigos?! Esqueceram-se dos amigos, sejam eles mais ou
menos generosos? Esqueceram-se de legislar sobre os amigos, os padrinhos, os afilhados?
Sr.as e Srs. Deputados, na sequência de um mau Estatuto dos Deputados também não pode haver um bom
código de conduta.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, termino dizendo que
«o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita».
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares,
do Bloco de Esquerda.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em primeiro lugar, queria deixar
registada a posição do Bloco de Esquerda sobre o trabalho que tem sido feito na Comissão da Transparência.
Temos dito, desde há muito tempo, que tardamos em chegar a algum lado, mas não desvalorizamos o trabalho
que tem sido alcançado, porque permitiu que as obrigações de declaração e de transparência fossem
aprofundadas, alargadas a um universo mais lato, tanto de políticos como de altos cargos públicos, e falta-nos
dar um passo fundamental para dar corpo à criação da entidade da transparência.
Registo que o Bloco de Esquerda demorou a ter um espaço de consenso nesta Câmara para que a entidade
da transparência fosse uma realidade. Propusemo-lo na Legislatura passada, altura em que PSD, CDS e PS
estiveram contra, mas agora, quatro anos depois, estamos nas vésperas da sua criação. É fundamental que ela
seja criada e só quem não quer que exista, de facto, uma fiscalização a fundo das obrigações declarativas
daquilo que é inscrito pelos políticos, pelos altos cargos públicos, é que pode achar que o que hoje existe já
chega para tudo. Disse-nos o Tribunal Constitucional, pela voz do seu vice-presidente, que, atualmente, são o
Ministério Público ou o Tribunal Constitucional que correm atrás dos casos levantados pela imprensa.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Já eram!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Por isso, se o CDS vive bem com esta realidade, nós não vivemos. Se
outros vivem bem com esta realidade, nós não vivemos, porque é desta ausência das obrigações declarativas
e da falta da sua fiscalização que vivem os populismos.
Para fazer discursos populistas, o CDS serve; para criar mais obrigações ou para dar mais músculo a esta
fiscalização, o CDS já foge!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Muito bem!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — São escolhas, Sr. Deputado, são escolhas, mas não é a escolha do Bloco
de Esquerda.
Vozes do BE: — Muito bem!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Este debate exige a seriedade de quem quer uma democracia mais
qualificada para o País, de quem quer uma transparência que qualifique essa democracia e que rechace
qualquer tipo de populismos, e isso só se faz com os meios para fiscalizar as declarações.
Sabemos que temos de acautelar alguns dos alertas que foram lançados pelo Tribunal Constitucional.