I SÉRIE — NÚMERO 108
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O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Vânia Dias da Silva, do CDS.
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, gostaria de começar por
dizer que o princípio que preside a esta ideia das barrigas de aluguer ou da gestação de substituição é uma
ideia bondosa, é um princípio bondoso: ajudar no projeto de ter filhos quem não pode, de todo, ter filhos, não
tenho dúvidas de que todos aqui abraçamos a intenção, em tese. E pôr a ciência ao serviço do homem é um
princípio que tem feito progredir a humanidade, e isso é uma coisa boa.
Mas nem sempre, Sr.as e Srs. Deputados, a ciência pode resolver todos os problemas, e muitas vezes
confronta-se com questões éticas que são absolutamente inultrapassáveis. É exatamente esse o problema neste
caso.
O Tribunal Constitucional, a pedido do CDS, disse que a mãe de substituição teria que ser tratada com
dignidade e que, por isso, teria de poder arrepender-se. Por isso, o Bloco de Esquerda fez a alteração que agora
apresentou. Só que há um problema que, também ele, é inultrapassável: ao protegermos a mãe de substituição
desprotegemos a criança, que fica num limbo, filha de ninguém, até que passe o prazo para que a mãe de
substituição possa arrepender-se. E deixar a criança nesta situação é absolutamente inaceitável!
Protestos do PS e do BE.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Isso é falso!
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Sr. Presidente, pedia-lhe que moderasse a audiência!
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr.ª Deputada, tem toda a razão.
Srs. Deputados, se a matéria é relevante, merece, da vossa parte, a consideração bastante para se ouvirem
todos os argumentos que tiverem que ser expressos!
Aplausos de Deputados do PSD e do PS.
Queira continuar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Muito obrigada, Sr. Presidente. É a esquerda tolerante a
funcionar!…
Dizia eu, Sr. Presidente, que deixar a criança numa situação destas é absolutamente inaceitável, sob
qualquer ponto de vista. É uma criança, Sr.as e Srs. Deputados, não é um boneco nem o objeto de um contrato
que todos podem rejeitar ou que todos podem querer.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Por isso, Sr.as e Srs. Deputados, repetimos aquilo que sempre
dissemos: por muitas voltas que deem, esta lei será sempre inconstitucional. Se protegermos a mãe de
substituição, desprotegeremos a criança; se protegermos a criança, desprotegeremos a mãe de substituição; se
desprotegermos os pais, desprotegeremos a mãe de substituição! E eu poderia continuar por aí fora, ad
nauseam.
Por isso, é impossível proteger todos os interesses em presença, que são constitucionalmente protegidos. E
uns esbarram com outros de maneira tal que é impossível que uns cedam perante os outros.
Este é, pois, um instituto impossível e que nunca será viável. O CDS não deixará de voltar a submeter esta
lei ao crivo constitucional.
Aplausos do CDS-PP e de Deputados do PSD.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Carla Cruz, do PCP.