24 DE SETEMBRO DE 2020
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Confessamos que a relevância do tema para o nosso futuro comum gerou em nós, talvez, expectativas de
um maior contributo. Continuaremos à espera até ao limite do tempo, que, como sabemos, é curto nesta
primeira fase de conceção e desenho deste nosso programa.
Hoje demos nota de como pretendemos aumentar, em primeiro lugar, a resiliência do nosso País,
reduzindo, desde logo, as vulnerabilidades sociais, que se mostraram, aliás, tão críticas como fatores de
indução da pandemia, reforçando o nosso potencial produtivo de resposta às necessidades não só no
combate à pandemia, mas a necessidades críticas em momento de crise, e, finalmente, reforçando a
competitividade e a coesão territorial.
Ficou, igualmente, claro como, ao alinhar com as transições gémeas priorizadas pela União Europeia, a
climática e a digital, não deixamos de ter sempre a preocupação de as traduzir — a essas prioridades, que,
por princípio, são comunitárias — em projetos, em opções que correspondem aos nossos interesses, aos
interesses nacionais.
Na transição climática, com a definição de agendas coladas às nossas necessidades em matéria de
ferrovia, de mobilidade sustentável, de transporte em sítio próprio, de modalidades de eficiência energética, de
economia circular e de descarbonização.
Na transição digital, aproveitando, aliás, uma oportunidade única de utilizar os recursos e também o
potencial disponibilizado por esta transição, usando-a como a verdadeira alavanca de uma reforma
generalizada da Administração Pública, promovendo a sua orientação para servir melhor os cidadãos e as
empresas, sem descurar, obviamente, esse mesmo potencial como fator de modernização e posicionamento
das nossas empresas, sobretudo das empresas de menor dimensão, no sentido do aproveitamento de todo o
potencial da economia digital.
Foi esta a arquitetura do plano de recuperação e resiliência que trouxemos hoje a debate.
De uma forma ou de outra, uns com mais vocalidade e outros com menos, quase todos os partidos de
direita criticaram, neste plano, uma alegada alocação excessiva de fundos ao Estado. Trata-se de uma
apreciação que consideramos muito limitada e redutora, apenas sustentada numa visão curta, na
contabilidade do quinhão de financiamento diretamente atribuído às empresas.
Aplausos do PS.
É limitada, porque não tem em conta que é com investimento público previsto que o Estado vai produzir
bens e serviços que irão reduzir custos de contexto para as empresas e oferecer melhores serviços coletivos
aos cidadãos, entre os quais estão também os trabalhadores das empresas. Isto melhora o contexto geral que
incrementa o contexto favorável para a melhoria da produtividade do conjunto da atividade económica.
Melhorar as condições dos cidadãos, melhorar as condições de vida das pessoas também melhora o
conjunto da produtividade, no contexto global da nossa economia.
Aplausos do PS.
Mas também se trata de uma visão redutora, porque ignora a procura gerada pelo investimento público na
construção, nas obras públicas, nos bens de equipamento, de transporte e de serviços TIC (tecnologias de
informação e comunicação).
Finalmente, a obsessão ideológica da direita contra o papel do Estado impede-a de perceber, afinal de
contas, aquilo que é evidente: o setor privado não está, nas atuais circunstâncias, nas melhores condições
para fazer aquilo que a situação de crise e relançamento exige que seja feito na economia, que é investir. A
recuperação apenas pode passar pela promoção do investimento público e é apenas o Estado que pode,
nestas circunstâncias, promover e desempenhar esse papel.
Aplausos do PS.
De uma forma rápida, basta olhar, aliás, para os prescritores, os analistas, os economistas, o BCE (Banco
Central Europeu), o FMI (Fundo Monetário Internacional), a OCDE (Organização de Cooperação e de