I SÉRIE — NÚMERO 5
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Caso não sejam revistas as exceções desta Convenção, de futuro, isso corresponderá, basicamente, a não
estarem definidos quaisquer caudais mínimos, nem anuais, nem trimestrais, nem semanais, nem diários, o
que, obviamente, fará perigar o caudal ecológico.
De facto, é natural até que o Governo sublinhe que não há incumprimento dos caudais, neste momento.
Não há incumprimento porque as exceções previstas esvaziam de conteúdo o objetivo principal desta
Convenção, ou seja, a existência de caudais mínimos.
Nesta equação, em que são partes interessadas o Estado português, o Estado espanhol e as centrais
hidroelétricas, claramente, o Governo português escolhe colocar-se como o elo mais fraco.
Num cenário em que a escassez de água se irá sentir em Portugal cada vez mais e em que 58% do nosso
território estará suscetível à desertificação, urge atuar no sentido da definição destes caudais para que
garantam a nossa subsistência hídrica e a aplicação de regimes de exceção compatíveis com os cenários
climáticos atuais e futuros.
Por fim, uma palavra para o Bloco de Esquerda, que felicitamos por ter aceite o repto do PAN para uma lei
de bases do clima.
Deixamos esse mesmo repto aos restantes partidos aqui representados.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Rui Cristina, do PSD, para uma intervenção.
O Sr. Rui Cristina (PSD): — Ex.mo Sr. Presidente, Srs. Deputados: Não sei se o Ministro do Ambiente e da Ação Climática e a Sr.ª Ministra da Agricultura pretendem resolver a questão, cada vez mais grave, da seca
que atinge o Baixo Alentejo e o Algarve recorrendo a algum sortilégio, como a dança da chuva. Esta é uma
dúvida legítima, dado que a seca continua a assombrar o Algarve, o Baixo Alentejo e outras regiões de
Portugal sem que existam quaisquer iniciativas sérias por parte do Governo.
O ano de 2020 foi mais um ano em que, segundo o IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera), os
valores de percentagem de água no solo foram inferiores a 20% em algumas zonas do Algarve e do Baixo
Alentejo, no mês de junho.
As campainhas de alarme já soaram há muito, levando a empresa Águas do Algarve a anunciar que só
existiam reservas nas barragens até dezembro deste ano. Este prazo até já foi dilatado, infelizmente, pela
quebra drástica das atividades turísticas, o que diminuiu o consumo em cerca de 9%.
Daqui a uns tempos, poderemos estar confrontados com a escolha entre ter água nas torneiras ou água
para produzir alimentos.
Perante a gravidade da situação, não se vislumbram medidas concretas de combate à seca por parte deste
Governo. O Sr. Ministro do Ambiente aponta a reutilização de águas residuais como a solução mais imediata
para garantir maior disponibilidade hídrica no Algarve. Não disse, porém, em que prazo será alcançado este
objetivo. No Plano Regional de Eficiência Hídrica do Algarve, recentemente apresentado pelo Governo, a
frase-chave da apresentação foi: «As potenciais soluções para reforçar a oferta de água na região». Ou seja,
isto quer dizer que não são soluções definidas, ainda estão em estudo. Por enquanto, ficamos pelo
«potencial».
Portugal é um País vulnerável e exposto às alterações climáticas. A instabilidade pluviométrica tende a
agravar-se, verificando-se períodos de seca mais extensos e severos, registando-se, simultaneamente,
ocorrências de fortes fenómenos de chuvas intensas.
Como tal, Srs. Deputados, neste debate, estão em discussão diversas propostas em que os efeitos da
problemática da seca na agricultura também são abordados, designadamente na iniciativa do CDS, que o PSD
acompanha, que trata da elaboração de um plano de investimento para reter e armazenar mais água.
Entretanto, esperamos que haja uma ampliação da área de regadio, do potencial agrícola e do seu uso
múltiplo, lembrando, no entanto, que esta visão já está expressa no nosso programa eleitoral.
Já a iniciativa do PCP e mesmo a da Deputada não inscrita não pretendem resolver o problema da seca.
Não pretendem nenhuma solução para o problema de abastecimento de populações ou de produção pelo
setor primário ou secundário.
O que o PCP propõe é um ataque ao mercado, a tudo o que funciona de modo empresarial, que gera
emprego, valor e riqueza.