9 DE OUTUBRO DE 2020
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Até hoje, os trabalhadores por turnos não viram nenhuma melhoria concreta, nem nenhuma alteração
concreta, que resultasse desse compromisso e nós, Deputados da Assembleia da República, também
desconhecemos qualquer estudo, como estava previsto nesse compromisso.
Pela nossa parte, não esquecemos este tema, nem estes 800 000 trabalhadores e não deixaremos de
insistir na urgência destas respostas.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Com este agendamento, o Bloco pretende reabrir formalmente este debate no Parlamento.
Na anterior Legislatura, apresentámos um projeto de lei sobre o trabalho por turnos, ao qual se juntaram
outros projetos de lei, e foi criado, no âmbito da Comissão de Trabalho, um grupo de trabalho que fez dezenas
de audições, havendo, no final dessas audições, um reconhecimento geral da necessidade de melhorar o
enquadramento normativo desta forma de organização do trabalho.
Contudo, contrariamente às necessidades reconhecidas, acabaram por ser chumbadas as propostas da
esquerda.
Sr.as e Srs. Deputados, temos hoje uma nova oportunidade para conferir dignidade ao trabalho
desenvolvido pelos trabalhadores noturnos e pelos trabalhadores por turnos, clarificando o conceito de
trabalho por turnos e trabalho noturno, definindo regras que permitam uma maior sincronização com a vida
social; que valorizem a participação destes trabalhadores; que garantam um período mínimo de descanso de
24 horas entre a mudança de horário de turno e, pelo menos, dois fins-de-semana de descanso em cada seis
semanas; que definam as 35 horas como horário máximo de trabalho para quem tem estes regimes de
trabalho; que alarguem o acesso a exames médicos e a cuidados de saúde; que consagrem o direito a mais
um dia de férias por cada dois anos de trabalho por turnos; que definam os acréscimos remuneratórios
retributivos pelo trabalho por turnos e que reconheçam o acesso à reforma com uma redução de dois meses
por cada ano de trabalho por turnos ou noturnos.
O apelo que fazemos hoje é que o Parlamento não ignore a importância deste assunto, que o Parlamento
reconheça a justiça, e até a urgência, destas propostas que hoje apresentamos e que o Parlamento não
desperdice esta oportunidade para realizá-las.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para apresentar a iniciativa do PCP, tem a palavra a Sr.ª Deputada Diana Ferreira.
A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o dia a dia de centenas de milhares de trabalhadores no nosso País é marcado por horários desregulados e pelo ritmo fortemente desgastante do
trabalho por turnos e do trabalho noturno.
Mais de 16% dos trabalhadores trabalham por turnos, correspondendo a cerca de 835 000 trabalhadores,
dos quais mais de 423 000 são mulheres.
Em 2009, seriam mais de 440 000 os trabalhadores em trabalho por turnos; em 10 anos esse número
quase que duplicou.
Quase 11% dos trabalhadores trabalham à noite. São trabalhadores em contraciclo, são mães e pais que
não estão com os filhos, que saem de casa com as crianças ainda a dormir e que chegam quando estas já
estão deitadas; são as festas e as muitas atividades dos filhos a que não se vai porque o turno não deixa; são
fins-de-semana que não há; são mães, pais e filhos que não têm tempo para viverem em conjunto; são
crianças que crescem privadas do tempo de descanso, de lazer, famílias que se constroem nos intervalos dos
turnos.
A esta realidade familiar acrescem as consequências de saúde, profundamente negativas deste trabalho,
para cada um dos trabalhadores que trabalha por turnos ou em horário noturno: alterações do ritmo circadiano,
perturbações do sono, aumento do risco de outros problemas físicos ou psíquicos. É evidente que o trabalho
diurno é o trabalho adequado ao ser humano e o trabalho noturno e por turnos, de um modo geral, causa