27 DE NOVEMBRO DE 2020
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O Sr. Presidente: — Para que efeito, Sr. Deputado?
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Sr. Presidente, o Sr. Primeiro-Ministro e alguns membros do Governo estão, neste momento, a dar entrada na Sala, pelo que, quase em solidariedade com o Sr. Deputado Cotrim de
Figueiredo, penso que talvez seja melhor fazermos uma breve pausa.
O Sr. Presidente: — Então, Srs. Deputados, vamos fazer uma breve pausa.
Pausa.
Agora, sim, estamos em condições de dar início ao período de encerramento do debate.
Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado João Cotrim de Figueiredo, da Iniciativa Liberal.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as Deputadas, Srs. Deputados, penso que não serei o único nesta Câmara, e até fora dela, que, ao longo de
muitos dias e de longas horas de debate orçamental e infindáveis votações, terei formulado a seguinte pergunta:
para quê? Para quê todo este esforço e todas estas noites mal dormidas dos excelentes funcionários e serviços
— que aproveito para saudar e para agradecer, e sei que não estou sozinho —, dos assessores, dos jornalistas
e dos Deputados?
A resposta a essa questão não é, certamente, a de que este debate orçamental serve para termos um
excelente Orçamento, para que o País possa lidar competentemente com a pandemia e preparar Portugal para
sair da crise mais depressa e mais forte. Já todos percebemos que este não é esse Orçamento. Mas creio que
devo partilhar convosco outras respostas possíveis para esta magna pergunta: para que serviu este debate
orçamental?
Em primeiro lugar, este debate orçamental serviu para mostrar que grassa uma enorme desorientação no
Governo. Não sabe o que anda a fazer no combate à pandemia — isso já todos percebemos — e este Orçamento
também mostra que não tem nenhuma ideia nem nenhuma estratégia para recuperar a economia, que é,
chocantemente, a parente pobre deste Orçamento.
Como aqui disse na abertura do debate, este Orçamento tem dinheiro para clientelas eleitorais e políticas,
tem dinheiro para investimento público de retorno inexistente ou duvidoso, tem mais 500 milhões para enterrar
na TAP — a conta já vai em 1700 milhões, mas os sindicatos já avisaram que isso nem chega a metade do que
vai ser preciso —, tem dinheiro para aumentar a massa salarial da função pública em 800 milhões de euros,
para manter contentes as clientelas do PS e do PCP. Há dinheiro para isso tudo e mais, mas não há dinheiro
para um plano concreto para recuperar os atrasos do SNS e salvar vidas, não há medidas para estimular o
investimento privado, não há vontade de baixar impostos, e o PS até se orgulha de já termos muita sorte de os
impostos não aumentarem.
Como muitos anteciparam, este Orçamento mostra que o PS gere mal em tempos de vacas gordas e
pessimamente em tempos de vacas magras.
Em segundo lugar, ficou clara neste debate orçamental a dimensão da fatura que os partidos de esquerda
apresentaram ao PS para viabilizar o Orçamento. Quanto às faturas do PCP e do PAN, o Governo resolveu
pagar, ou, pelo menos, rachar a meias, porque parece que, no final, se vão abster; já a fatura do Bloco de
Esquerda era demasiado alta e o Governo terá dito «paga tu».
Por falar em Bloco de Esquerda, este debate orçamental também serviu para demonstrar que não é boa ideia
ter uma estratégia partidária baseada no ressentimento e no despeito. Compreende-se que o Bloco tenha ficado
despeitado por ter feito bluff, achando que o PS não poderia viver sem ele e por, no final, ter sido trocado por
outros. Mas o despeito é mau conselheiro, principalmente para partidos com tendências populistas, como o
Bloco de Esquerda.
Com a sua proposta sobre o Fundo de Resolução, o Bloco de Esquerda consegue, de uma só penada,
desvalorizar um banco em que o Fundo de Resolução ainda tem 25%, prejudicar os trabalhadores do Novo
Banco e fortalecer os argumentos do Lone Star.
Se o ódio do Bloco de Esquerda aos privados não fosse conhecido, era caso para perguntar: de que lado é
que está mesmo o Bloco de Esquerda?