I SÉRIE — NÚMERO 46
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É incompreensível e inaceitável que Portugal, um dos primeiros países a considerar a obesidade como
doença, não tenha até hoje nenhum fármaco comparticipado para o tratamento da obesidade, impedindo muitos
cidadãos de aceder aos tratamentos, o que tem de ser rapidamente corrigido, visto que os dados apontam para
uma maior prevalência da doença entre a população mais desfavorecida.
Do ponto de vista económico, o que se está a fazer é a não comparticipar o tratamento, para prevenir as
múltiplas doenças associadas, pelo que, mais tarde, estas terão de ter tratamento.
Quanto ao Programa Nacional de Combate à Obesidade, os resultados apenas surgirão se ele for
devidamente implementado, sem esquecer a importância de intervenções multidisciplinares e a concretização
de um conjunto de políticas públicas integradas que respondam adequadamente a este grande desafio.
Assim sendo, é fundamental melhorar o acompanhamento aos doentes obesos, reforçando os meios
humanos e materiais no SNS, para que seja possível fazer um diagnóstico atempado e apostar na promoção de
uma melhor educação para a saúde.
Em suma, são necessárias políticas de prevenção primária, através do incentivo à adoção de estilos de vida
mais saudáveis, um maior acesso dos doentes aos cuidados de saúde para o tratamento da obesidade, com o
intuito de reduzir a prevalência das doenças que lhe estão associadas e garantir uma melhor qualidade de vida,
tendo presente que ainda estamos longe de um acesso integrado, equitativo e em tempo útil a estes cuidados.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, pelo Grupo Parlamentar do PAN, o Sr. Deputado André Silva.
O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A obesidade é, segundo a Organização
Mundial de Saúde, uma doença grave que se caracteriza pela acumulação anormal ou excessiva de gordura
corporal, afetando pessoas de todas as idades e sexos.
A prevalência da obesidade é já superior à desnutrição e às doenças infeciosas, definindo-se como a
epidemia do século XXI. A obesidade é, à escala mundial, a segunda causa de morte evitável, logo a seguir ao
tabagismo.
Portugal ocupa o quarto lugar entre os países da OCDE com maiores taxas de população com excesso de
peso. Cerca de 62% dos portugueses encontram-se em condições de obesidade ou pré-obesidade.
Se, por um lado, na génese da obesidade, podem estar fatores genéticos não modificáveis, em muitos casos,
esta condição está intimamente relacionada com fatores de ordem comportamental, passíveis de alteração,
entre os quais o sedentarismo e os hábitos alimentares não saudáveis.
Somos o que comemos. Esta devia ser uma expressão popular bem presente nas nossas realidades. E
somos o que comemos desde o início da nossa vida, começando na gravidez e ao longo de todos os ciclos de
vida. Para o PAN, a obesidade tem de se combater de forma precoce e, essencialmente, através da prevenção,
desde logo: acompanhando as mulheres grávidas; prevenindo a diabetes materna, pelo impacto desta condição
no peso dos bebés; na prevenção de peso alto ou baixo dos bebés, pelas consequências deste na sua saúde
futura; na promoção de condições para o aleitamento materno nos primeiros dois anos de vida das crianças,
medida mais do que comprovada pelas organizações internacionais e nacionais de saúde.
Apesar de algumas medidas e políticas existentes, é muito preocupante a prevalência da obesidade infantil
em Portugal — aos 8 anos de idade, 15% das crianças já são consideradas obesas e, destas, 5,5% têm
obesidade severa.
A comunidade científica e a Direção-Geral da Saúde alertam para a necessidade de alteração dos nossos
comportamentos e hábitos alimentares, lembrando que os alimentos e a forma como nos alimentamos têm um
impacto direto na nossa qualidade de vida e na saúde.
Mas não basta recomendar! É necessário que as políticas de saúde pública sejam coerentes na forma como
toda a sociedade se organiza. Não se pode defender o combate nacional à obesidade e, ao mesmo tempo,
desvalorizar o impacto da publicidade a produtos alimentares pouco saudáveis que, todos os dias, entra na
nossa casa. Não se pode falar de mudança de comportamentos alimentares e dar um sinal contrário às crianças
e às famílias, disponibilizando diariamente, nas escolas, pacotes de leite achocolatado. A Bastonária da Ordem
dos Nutricionistas refere que não é concebível que, num momento em que se fala de um consumo excessivo de
açúcar, estejamos a dar leite achocolatado às crianças. Infelizmente, sabemos que o Partido Socialista e o
Partido Social Democrata, antes de cuidarem da saúde e dos interesses das crianças, cuidam da proteção da
poluente e cruel indústria do leite. Prioridades…