I SÉRIE — NÚMERO 54
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Terminava só dizendo que hoje tive uma experiência de serviços públicos que foi muito interessante, ao
tentar marcar um atendimento presencial numa loja do cidadão. Liguei cinco vezes para o número e, de cada
vez que me tentavam reencaminhar a chamada, esta era automaticamente desligada. Ora, imagino que também
seja preciso pagar uma taxa para que a chamada seja feita.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza). — Srs. Deputados, passamos ao ponto 8 da nossa ordem de
trabalhos de hoje, que consiste na apreciação conjunta, na generalidade, dos Projetos de Lei n.os 723/XIV/2.ª
(PAN) — Criação do regime jurídico de proteção do arvoredo urbano, 733/XIV/2.ª (PSD) — Define os critérios
de gestão do arvoredo urbano público e a obrigatoriedade da criação de regulamentos municipais, 734/XIV/2.ª
(Deputada não inscrita Joacine Katar Moreira) — Cria o regime de proteção e ampliação do arvoredo urbano,
741/XIV/2.ª (BE) — Aprova o regime jurídico da proteção, conservação e fomento do arvoredo urbano e
748/XIV/2.ª (PEV) — Instrumentos de gestão do arvoredo em meio urbano.
Para apresentar a iniciativa legislativa do PAN, tem a palavra o Sr. Deputado André Silva.
O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Dezenas de árvores abatidas em
Guimarães, para requalificação do centro cívico da vila de Caldas das Taipas; abate de árvores em Coimbra,
para instalação de um campo de golfe; 400 árvores abatidas em Monsanto, para, alegadamente, diminuir o risco
de incêndio; previsto o abate de milhares de árvores, para instalação de painéis solares, em Santiago do Cacém;
o projeto de mega urbanização da Quinta dos Ingleses, em Carcavelos, prevê abater 51 ha de árvores; o ICNF
(Instituto Nacional da Conservação da Natureza) autoriza o abate de 200 sobreiros e azinheiras, para a
construção de um campo de golfe, em Vila Nova de Cacela, justificando que as árvores estavam secas, por
coincidência, todas no local da construção do golfe; e abate de árvores em Braga, para construção de ciclovias.
Todos os dias se assiste, nalgum ponto do País, ao abate desnecessário de árvores, seja para a instalação
de projetos particulares, com a concordância da APA e do ICNF, seja para instalação de projetos municipais.
Mas também, ao abrigo de uma leitura errática de gestão deste património natural, temos assistido a uma
multiplicidade de situações que vão hipotecando este bem comum, nomeadamente com podas excessivas que
poderiam ser perfeitamente evitadas se houvesse um correto planeamento na ordenação e arquitetura do
espaço público, seja ele urbano ou não, bem como uma acertada escolha dos espécimes plantados a fim de
evitar tensões sociais.
As árvores severamente podadas ficam mais perigosas, desenvolvem mais ramos e mais folhagem e perdem
equilíbrio biomecânico. Uma árvore rolada é uma árvore desfigurada, enfraquecida, mais vulnerável a doenças,
em risco de queda, que perdeu todas as características da espécie e o seu valor patrimonial.
E tudo isto ocorre num contexto em que, como já sabemos, Portugal vai ser um dos países europeus mais
afetados pelas alterações climáticas, o maior desafio que a humanidade enfrenta, com 60% do nosso território
ameaçado pela desertificação.
Também sabemos que as árvores capturam dióxido de carbono e emitem oxigénio e que, por isso, são
fundamentais para mitigar os efeitos das alterações climáticas, mas o papel das árvores não termina aqui, têm
a capacidade de diminuir a temperatura, pelo sombreamento, de reter água no solo e combater a desertificação
e também de melhorar a qualidade do ar, cuja poluição é responsável por 7000 mortes anuais no nosso País.
Outro desafio que enfrentamos é a perda de biodiversidade. Portugal é o quarto país europeu com mais
espécies ameaçadas, estamos na lista dos 15% de países com mais espécies em risco de extinção. Tendo em
conta o tamanho do nosso território, é uma performance incrível, pelos piores motivos. Também aqui o papel
das árvores é fundamental para a preservação dos ecossistemas e o fomento da biodiversidade.
Em Portugal, só se encontram protegidas as árvores classificadas de interesse público ou espécies
protegidas. Todas as outras — que são quase todas —, estão completamente à mercê dos interesses
económicos ou da insensibilidade de alguns autarcas que ordenam podas inqualificáveis ou que mandam abater
árvores porque têm qualquer projeto para executar e mostrar obra feita.
O PAN não pode aceitar esta situação e, por isso, apresentámos este projeto de lei. Assim, e tal como
acontece com a generalidade das infraestruturas de cariz público, torna-se necessário proteger legalmente a
estrutura arbórea, importa criar um quadro normativo para a gestão do arvoredo autóctone e alóctone, de
propriedade pública ou privada, de crescimento espontâneo ou cultivadas, no qual se abranja as operações de