I SÉRIE — NÚMERO 54
66
Neste projeto de lei, «percebemos da poda», literalmente. Não nos limitamos a dizer que queremos uma
melhor manutenção do arvoredo urbano. Vamos mais longe: apontamos à definição de procedimentos e
orientações baseados no melhor conhecimento técnico e científico e garantimos o enquadramento
procedimental num documento com a designação de «guia de boas práticas para gestão do arvoredo urbano»,
constante do próprio diploma legal.
Para o seu aperfeiçoamento, entendemos que este projeto de lei deve baixar à comissão, de maneira a colher
os contributos, nomeadamente, do Partido Socialista, que, desde a submissão desta iniciativa, demonstrou total
disponibilidade para a enriquecer. A responsabilidade e a pertinência do tema exigem, hoje, tempo e discussão
para tal. Não alinhamos em fundamentalismos nem em processos-relâmpago, como o PAN tentou que este
fosse.
Da análise às iniciativas apresentadas, que saudamos, será importante ainda ressalvar que a tentativa de
regular a manutenção do arvoredo em espaço privado não nos parece exequível, não por questões ideológicas,
mas principalmente pela dificuldade que toda essa realidade traria a estes processos.
Ao acabar com os abates indiscriminados e as podas radicais em espaço público, estaremos a fazer história
na proteção das árvores em Portugal, sem correr riscos relativamente a bloqueios ou à existência de árvores
sem manutenção, tornando-se perigosas ou perturbadoras da necessária coabitação com o tecido urbano.
A regulamentação, por via dos municípios, da manutenção do arvoredo em espaço público e em domínio
privado do município constitui, sim, um princípio de salvaguarda, a par da fiscalização por parte do ICNF.
O Grupo Parlamentar do PSD está aberto a enriquecer e complementar ainda este projeto de lei, certo da
importância vital que este representará para as nossas cidades e vilas, para o ambiente e para a qualidade de
vida das populações.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem agora a palavra a Sr.ª Deputada
Joacine Moreira.
A Sr.ª Joacine Katar Moreira (N insc.): — Esta iniciativa legislativa tem como objetivos garantir a integridade
do arvoredo urbano, tanto na sua parte aérea como na sua parte subterrânea, valorizar as árvores como
elementos estruturantes da paisagem no espaço urbano e promover a ampliação do arvoredo urbano.
Isto vai exigir que tenhamos uma ótica de preservação, mas também de reparação, como algo fundamental.
É necessário igualmente que haja a criação de um departamento de gestão e valorização do património arbóreo
no espaço do ICNF. É necessário que cada município faça um investimento na existência de um regulamento
municipal do arvoredo urbano, assim como é necessário o reconhecimento da profissão de arborista.
Mas é igualmente necessário que, além dessa ótica antropocêntrica, que geralmente é o elemento que une
estas nossas iniciativas legislativas, não encaremos as árvores unicamente enquanto elementos ao serviço dos
indivíduos, da urbanidade e das nossas necessidades.
É necessário que estas iniciativas também tenham em conta que as árvores, pela sua existência, pela sua
importância, merecem o reconhecimento necessário da sua história individual. Neste aspeto, esta iniciativa é
igualmente uma enorme chamada de atenção para os excessivos crimes ambientais, para o desrespeito e a
destruição, muitas vezes desnecessária, do arvoredo.
Gostaria ainda de usar este minuto para saudar o povo rom, para saudar o povo cigano, neste dia tão
especial.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra, para uma intervenção, em nome do Bloco
de Esquerda, o Sr. Deputado Nelson Peralta.
O Sr. Nelson Peralta (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Bloco de Esquerda traz hoje uma
proposta com vista à criação de um regime jurídico para a proteção, a conservação e o fomento do arvoredo
urbano.
Queremos começar por agradecer aos peticionários que trouxeram primeiramente este tema ao Parlamento.
O seu exercício de cidadania e os contributos qualificados que trouxeram ao debate foram de toda a importância.