I SÉRIE — NÚMERO 70
8
O Bloco de Esquerda apresenta este projeto de lei, em que, basicamente, procura fazer uma alteração à
alteração de 2016, que o Bloco de Esquerda já reconheceu, no texto e na tribuna, que teve uma escassa
aplicação por falta de meios e por dificuldades operacionais.
A minha primeira pergunta é esta: se o Bloco reconhece que é por falta de meios e por dificuldades
operacionais, de que forma é que uma alteração ao Código do Trabalho vai resolver este problema de falta de
meios?
O Sr. Jorge Costa (BE): — Não ouviu com atenção!
A Sr.ª Margarida Balseiro Lopes (PSD): — Fazendo fé — e eu faço — nas boas intenções do Bloco de Esquerda ao apresentar esta iniciativa, pergunto se não reconhece que estar a mexer no regime de
responsabilidades é desonerar o Estado das responsabilidades máximas que tem, por ter ignorado e fechado
os olhos a este escândalo que se passa há anos e anos?
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Tem a palavra o Sr. Deputado José Soeiro, para responder aos pedidos de esclarecimento.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Nuno Sá, registamos a declaração que fez sobre a importância do tema.
Obviamente, o Bloco de Esquerda está disponível para trabalhar sobre este diploma, em sede de
especialidade, mas gostávamos é de saber se o Partido Socialista vai votar a favor e o que é que o Partido
Socialista pensa sobre este diploma, porque este debate é precisamente sobre isso.
De resto, quanto à outra pergunta, confesso que não percebi muito bem, mas registamos também a ausência
do Governo neste debate, que é um agendamento potestativo. Ainda este mês, fizemos um outro agendamento
potestativo sobre o teletrabalho em que o Governo marcou presença e registamos que, num tema que não é
menos importante do que o do teletrabalho, que é o do combate ao trabalho forçado, o Governo entendeu não
marcar presença.
Da nossa parte, insistimos naquilo que é óbvio: fizemos uma lei em 2016, mas sabemos as dificuldades com
que essa lei se confronta. Por isso, entendemos que é preciso dar um passo em frente. Ou seja, precisamos de
passar de uma responsabilidade solidária, que enfrenta as dificuldades da notificação de toda a cadeia, para
uma responsabilidade direta, porque sabemos que quem beneficia com estes abusos laborais, com o trabalho
forçado, com esta escravatura, são os donos das explorações agrícolas.
Portanto, a verdadeira pergunta, gostava de devolvê-la à bancada do Partido Socialista: tendo feito, em 2016,
essa alteração à lei, está o Partido Socialista disponível, ou não, para dar este passo em frente, ou seja, para
responsabilizar diretamente toda a cascata de subcontratações e os donos das explorações agrícolas?
É que, Sr. Deputado, sabemos — e já o disse lá de cima, da tribuna —, que, nos últimos anos, mais do que
serem responsabilizados e condenados, aos donos das explorações agrícolas o Estado tem dado, sobretudo,
benefícios fiscais.
Sobre a intervenção da Sr.ª Deputada Margarida Balseiro Lopes, do PSD, que disse que há anos que as
autoridades sabem deste problema, queria referir que com certeza que também há anos que o PSD sabe deste
problema. Em 2016, já sabia deste problema e nem a responsabilidade solidária esteve disponível para
consagrar na lei.
Temos tido diálogos com os inspetores do trabalho que estão no terreno. Neste momento, creio que há 12
inspetores em Beja e há outros que já foram destacados. Nos últimos 15 dias foram levantados mais de 300
autos e nos últimos meses foram levantados mais de 1200 autos por infrações. Portanto, francamente, neste
momento, do que precisamos é de dar aos inspetores que estão no terreno a capacidade de fazerem o seu
trabalho. Para isso, não é só a capacidade de levantarem os autos, mas de fazerem com que estes processos
tenham consequência. Por isso é que precisamos de mudar a lei.
Vozes do PSD: — Ah!