29 DE MAIO DE 2021
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saber-se que das 53 resoluções que se enquadram nesta análise, 32 resoluções tiveram algum tipo de
sequência política.
Não obstante as recomendações com sequência política representarem, até ao momento, cerca 60% do
total, importa ter em conta que as resoluções não vinculam o Governo, vinculam a Assembleia da República,
desde logo pela simples razão de poderem contrariar o próprio Programa do Governo. Por outro lado, porque,
se interpretássemos as resoluções como vinculativas, poderíamos estar a transformar a Assembleia num órgão
executivo, invadindo uma competência que apenas diz respeito ao Governo.
Aplausos do PS.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, por último, trago a este debate a consideração da presença dos
membros do Governo no Parlamento, a qual permite momentos relevantes de interação direta com os
Deputados. Não podemos ignorar que há perguntas que, podendo ter sido feitas por escrito, são também
formuladas em audições em comissões ou em debates em sessões plenárias e que são respondidas nesses
contextos. E, apesar da evolução que possamos ter tido nas respostas por escrito aos Deputados, a qual
procurei demonstrar neste debate, é importante afirmar que a presença de membros do Governo na Assembleia
da República aumenta as oportunidades para questionar e obter respostas do Governo.
Ao compararmos as presenças de membros do Governo em comissões parlamentares nas primeiras sessões
legislativas da XIII e da XIV Legislaturas, verificamos um aumento de 50% e, pese embora a redução do número
de sessões plenárias decorrente da situação pandémica, a presença de membros do Governo em sessões
plenárias também foi superior. Esta comparação ganha ainda maior expressão quando alargada à XII
Legislatura.
Este facto deve-se, naturalmente, a uma maior atividade e iniciativa parlamentar de uma Assembleia da
República mais diversa e plural, com mais partidos representados. O Governo valoriza e está comprometido
com a Assembleia da República. Sabemos que existe sempre margem para melhorar a nossa prestação e que
este debate, certamente, ajudará a essa análise.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Tem a palavra o Sr. Deputado João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, para uma intervenção.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr. Presidente, Sr. Secretário de Estado, Sr.as e Srs. Deputados: Já ontem tive oportunidade de dizer que, para uma democracia saudável, é fundamental que se contrariem os
poderes excessivos ou hegemónicos, e é por isso que há sistemas de freios e contrapesos. Um dos contrapesos
mais importantes é exatamente este, que compete à Assembleia da República, de produzir legislação, fazer
recomendações ao Governo e zelar pelo cumprimento dessas mesmas recomendações.
Ora, neste relatório, particularizando as estatísticas que citou, fica-se a saber que desde que o PS é poder,
desde 2016, há 66 casos de leis em que já passou o prazo e que ou não estão regulamentadas parcialmente
ou não estão regulamentadas de todo. Junte-se a isto quase três dezenas de resoluções em que o campo
«sequência política dada pelo Governo» está em branco e teremos, em quadro, aquilo que o Governo mostra e
que não pode deixar de ser interpretado como desprezo por esta Casa da democracia.
Esta é uma questão fundamental: não há democracias, liberais ou outras, sem respeito pelo sistema de freios
e contrapesos, e o Governo do PS não tem mostrado esse respeito. Portanto, pelo compromisso que a Iniciativa
Liberal tem com a defesa e melhoria do sistema democrático, as conclusões deste relatório e a atuação do
Governo, que o mesmo relatório reflete, só podem merecer o nosso repúdio.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real, do PAN.