29 DE MAIO DE 2021
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O que dizer, Sr. Secretário de Estado, dos relatórios e informações de natureza diversificada, em número
superior às seis dezenas, que o Governo e outras entidades públicas são legalmente obrigados a remeter à
Assembleia da República, mas que teimam em não chegar à Casa da democracia?
E o que dizer, Sr. Secretário de Estado, dos milhares de perguntas e requerimentos que ficaram sem resposta
na 1.ª Sessão Legislativa?
Será, porventura, Sr. Secretário de Estado, tolerável que o Governo possa menorizar a expressão
representativa da vontade popular e obstaculizar o exercício dos poderes de fiscalização e de controlo político
acometido à Assembleia da República? Não, não é tolerável.
Será, porventura, aceitável que o Governo, o maior de sempre, o mais caro de sempre, com os gabinetes
ministeriais, em 2020, a consumirem mais de 73,2 milhões de euros ao erário público, deixe sem resposta 1276
perguntas? Não, não é aceitável, Sr. Secretário de Estado.
Será, porventura, aceitável que este mesmo Governo apenas responda a 2240 perguntas depois do prazo
legal para o efeito? Não, não é aceitável, Sr. Secretário de Estado.
Nada disto é aceitável e tudo isto obstaculiza a missão da Assembleia da República, desvaloriza o papel dos
Deputados, abala a confiança dos cidadãos no Parlamento, degrada a qualidade da nossa democracia.
Nada disto é aceitável, mas tudo isto é recorrente num Governo reincidente, que detesta ser escrutinado,
que detesta ser fiscalizado.
O próprio debate que hoje aqui fazemos, apesar da negação do Sr. Secretário de Estado, ocorre contra a
vontade do Governo e contra a vontade do Partido Socialista, a única força política que votou contra a sua
inclusão na revisão do Regimento.
O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — Verdade!
O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Um Governo que não gosta de ser escrutinado é sempre um Governo que convive mal com a independência dos órgãos de soberania, das entidades de fiscalização e também das
entidades reguladoras.
O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — É verdade!
O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Daí a indisfarçável irritação às auditorias, relatórios ou avaliações críticas à sua ação governativa, venham elas do Tribunal de Contas, do Conselho das Finanças Públicas, da
UTAO (Unidade Técnica de Apoio Orçamental), ou de qualquer outra entidade.
Daí o «despedimento», por telefone, do incómodo ex-Presidente do Tribunal de Contas,…
O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — Muito bem!
O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — … daí a nomeação direta do Dr. Mário Centeno, ex-Ministro das Finanças, para Governador do Banco de Portugal, daí a colocação do Dr. Caldeira Cabral, ex-Ministro da
Economia, na Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões.
O Governo convive mal com o escrutínio e com a independência dos órgãos de soberania, das entidades de
fiscalização e das entidades reguladoras, mas convive bem com os privilégios que alimenta, com a gestão da
proximidade ao poder, que cultiva, e com a fragilização das instituições independentes, que prossegue.
É esta a sua filosofia e isso está patente nos relatórios que hoje, pela primeira vez e por proposta do Grupo
Parlamentar do PSD, apreciamos nesta sessão plenária.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Tem ainda a palavra, para uma intervenção de alguns segundos, o Sr. Deputado Pedro Delgado Alves, do Grupo Parlamentar do PS.
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Só para dar nota de que o Partido Socialista foi, de facto, o único que votou contra. Já o Sr. Deputado Jorge Paulo Oliveira fez