18 DE JUNHO DE 2021
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Estamos, hoje, num momento e num contexto muito distintos daqueles que tornaram esses resultados
possíveis, mas estamos certos de que a discussão da Conta Geral do Estado de 2019 é muito atual e oportuna,
pois os seus resultados orçamentais foram e têm sido determinantes no último ano e meio.
É que um país com contas públicas equilibradas é um país mais resiliente, com mais capacidade de fazer
face a crises como a que vivemos desde março de 2020, com a crise pandémica provocada pela COVID-19.
Antes da crise económica provocada pela pandemia, a economia portuguesa crescia há 27 trimestres
consecutivos e apresentava um equilíbrio macroeconómico inédito: finanças públicas sólidas, com o primeiro
excedente orçamental da nossa democracia, desemprego baixo e contas externas equilibradas.
A Conta Geral do Estado de 2019 mostra-nos uma evolução consistente e sustentada, que foi iniciada em
2016 e consolidada em 2019: conseguimos sair do procedimento de défices excessivos; cumprimos todas as
metas orçamentais durante este período, com uma evolução positiva ao nível da execução; alcançámos um
crescimento sustentado da economia e a diminuição do desemprego para mínimos desde 2003; o peso da
dívida, em percentagem do PIB, caiu de 132%, em 2016, para 117%, em 2019, com uma redução significativa
de 15 pontos percentuais.
Mas não é demais salientar que estes resultados orçamentais não foram obtidos à custa do rendimento dos
portugueses. Foram acompanhados por medidas de recuperação e reforço dos rendimentos, de aumento do
emprego, de mais direitos e de melhor proteção social.
A aposta na melhoria dos rendimentos, seja pelo aumento gradual do salário mínimo, pelo descongelamento
de carreiras ou pelo aumento das pensões e pelo reforço das prestações sociais, contribuiu, em grande medida,
para os resultados que hoje discutimos.
Ao mesmo tempo, estes resultados foram acompanhados por uma diminuição do peso dos impostos no PIB
em 1 ponto percentual, ao longo do período entre 2015 e 2020, situando-se em 24,3% do PIB, em 2020, quando,
em 2015, se situava em 25,3%.
Demonstrámos que era possível mudar o paradigma dos anos que antecederam o ano de 2016.
Sr.as e Srs. Deputados, para além de termos registado, em 2019, o primeiro saldo orçamental positivo na
conta das administrações públicas em democracia, importa também destacar o acréscimo do montante de
formação bruta de capital fixo em cerca de 224 milhões de euros, face ao ano anterior, para um peso no PIB de
1,9%. Como referi, a consolidação orçamental permitiu o seguimento da redução do rácio de dívida pública em
percentagem do PIB, aumentando, desta forma, a confiança dos mercados, contribuindo para a estabilidade
financeira nacional. Tal como nos anos anteriores, o Governo fez com que o total de pagamentos em atraso na
administração central diminuísse significativamente, tendo-se registado, em 2019, uma quebra de 39% face a
2018, para o valor mais baixo, em cinco anos, de 313 milhões de euros, tendo diminuído mais 34%, em 2020,
para 208 milhões de euros.
Deve ainda ser destacado o grande esforço em acolher uma grande parte das recomendações do Tribunal
de Contas, de forma a melhorar a qualidade da informação relacionada com as finanças públicas. Das
recomendações feitas em 2017, 64% foram acolhidas, das quais cerca de 70% correspondem à fiabilidade das
demonstrações orçamentais, financeiras, dos elementos patrimoniais e dos sistemas de gestão de controlo.
Por último, destaco as reformas em curso no que diz respeito às finanças públicas, com a implementação do
SNC-AP (Sistema de Normalização Contabilística para Administrações Públicas) — em 2019, cerca de 1200
entidades prestaram contas através deste regime, já ultrapassado em 2020 —, a implementação da Lei de
Enquadramento Orçamental, com impacto no Orçamento do Estado para 2021, no Relatório do Orçamento do
Estado e nos Mapas da Lei e Mapas Informativos, com informação mais detalhada ou nova informação, como o
quadro das políticas invariantes ou o quadro dos investimentos plurianuais estruturantes. A implementação da
Lei de Enquadramento Orçamental constitui, aliás, uma prioridade. Saliento a integração da reforma da gestão
financeira pública, uma medida de modernização e de simplificação muito relevante no PRR, com um
investimento de 206 milhões de euros para os próximos anos, acompanhado por um reforço da coordenação e
do modelo de governação da Unileo (Unidade de Implementação da Lei de Enquadramento Orçamental).
Mas, Sr.as e Srs. Deputados, é por tudo o que referi e por estarmos a viver, à escala global, um momento
único, de uma exigência inigualável face a outros períodos de crise, com impactos muito significativos nas contas
públicas, que é muito importante salientar que o ponto de partida de Portugal, quando começou a pandemia, foi
fundamental para os apoios concedidos em 2020 e em 2021. Termos partido de uma situação de contas públicas
positivas faz, e continuará a fazer, toda a diferença na capacidade de resposta às consequências da pandemia,