I SÉRIE — NÚMERO 79
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O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Se a frase do Sr. Presidente da República, segundo a qual «não se volta
atrás», é, no mínimo, de uma enorme infelicidade, porque contraditória com tudo o que tinha sido dito antes, o
pingue-pongue que se seguiu entre Primeiro-Ministro e Presidente da República, do tipo «quem manda sou eu,
quem manda és tu», foi absurdo. Digo-o nos mesmos termos em que no passado critiquei o excesso de Dupond
e Dupont entre ambos os protagonistas.
Este foi um bom exemplo de porque é que a comunicação falha e porque é que os cidadãos, quando olham
para cima, se sentem baralhados ou mesmo abandonados.
Se a pandemia, como nos tem dito o almirante Gouveia e Melo, é uma guerra, então, convinha que houvesse
uma voz de comando única, clara e percetível.
A propósito, convém recordar, e admitir, que nem tudo corre mal neste contexto. A vacinação, embora
estejamos aquém de outros países, tem decorrido de forma eficaz, não sendo nada irrelevante para isso o
momento em que foi afastado o comissário político que tratava do assunto, para se pôr à frente do mesmo
alguém capaz e competente.
Aplausos do CDS-PP.
Ainda assim, mesmo na questão da vacinação há perguntas que fazem sentido: qual é a justificação para
um aumento de infeções em pessoas já vacinadas? Está, este fenómeno, a ser devidamente avaliado e
ponderado?
Em segundo lugar, sabendo que os jovens, neste momento, perfazem a maioria dos casos, designadamente
aqueles que estão na idade de frequentar a universidade, ou seja, os dos 20 aos 29 anos, representando um
quinto dos infetados, não faria sentido, dada a inevitável mobilidade que há nessa geração e nos universitários
em particular, procurar também antecipar a sua vacinação?
Por último, aproveitamos esta oportunidade para conhecer de forma mais rigorosa o que representa o
chamado certificado digital de vacinação e qual a sua eficácia.
É evidente que o recuo que o Governo anunciou ontem, designadamente em relação aos dez concelhos em
risco e, nalguma medida, em relação aos 20 em alerta, e o anúncio de novas restrições, incluindo a proibição
de circulação de e para a Área Metropolitana de Lisboa aos fins de semana, significam que o Governo estará a
procurar, como dissemos, travar o dito «cocktail explosivo» e o alastramento da situação grave que se vive em
Lisboa ao resto do País. No entanto, fá-lo com uma fórmula de duvidosa eficácia.
Seria necessário, sim, do nosso ponto de vista, além de melhorar, como já dissemos, a comunicação, outro
tipo de atuação e de medidas, desde logo, não permitir exceções ao cumprimento das regras de segurança e
garantir uma fiscalização eficaz.
É evidente que este tipo de atuação recomendaria um novo Ministro da Administração Interna, uma vez que
este está fragilizado e perde, de dia para dia, qualquer sombra de autoridade. Mas também é preciso rever e
aumentar a testagem e os inquéritos epidemiológicos, garantindo que, em particular, nos agregados familiares
de quem está em isolamento profilático, são, efetivamente, testadas todas as pessoas. É preciso preparar os
hospitais para a eventual quarta vaga e contratualizar, de uma vez por todas e à séria, com os setores privado
e social, para que se recupere dos atrasos em consultas e cirurgias.
Aplausos do CDS-PP.
É necessário prestar atenção e transmitir dados corretos em relação às novas variantes e mutações do vírus,
agindo com celeridade nas medidas a serem tomadas em função da sua disseminação, em vez de as usar como
desculpa sempre que se corre atrás do prejuízo e as coisas começam a correr mal.
Por último, importa saber se, nos excessos cometidos em alguns eventos ou na pressa de abrir e desconfinar,
não terão sido cometidos erros graves. Basta recordar a propaganda do Governo: éramos o primeiro e único
país aberto aos ingleses, para, pouco depois, depois das batalhas campais na Invicta, os mesmos ingleses nos
terem virado as costas. O Ministro dos Negócios Estrangeiros indignou-se, patrioticamente, mas será que eles,
os ingleses, não teriam alguma razão, por muito ingratos que tenham sido? Era a Delta, meus amigos! Qual
bolha?! Era a Delta!