24 DE JUNHO DE 2021
3
O Sr. Presidente (António Filipe): — Muito boa tarde, está aberta a sessão.
Eram 15 horas e 5 minutos.
Peço aos Srs. Agentes da autoridade que sejam abertas as galerias.
Antes de iniciarmos o debate de hoje, tem a palavra a Sr.ª Secretária Sofia Araújo para fazer o anúncio à
Câmara da entrada na Mesa de algumas iniciativas.
A Sr.ª Secretária (Sofia Araújo): — Sr. Presidente, muito boa tarde a todas e a todos. Informo a Câmara que deram entrada no gabinete do Sr. Presidente da Assembleia da República, e foram
admitidos, o Projeto de Lei n.º 881/XIV/2.ª (Deputada não inscrita Cristina Rodrigues), que baixa à 14.ª
Comissão, em conexão com a 1.ª Comissão, e os Projetos de Resolução n.os 1346/XIV/2.ª (PSD), que baixa à
9.ª Comissão, 1347/XIV/2.ª (Deputada não inscrita Joacine Katar Moreira), que baixa à 11.ª Comissão,
1348/XIV/2.ª (PEV), que baixa à 8.ª Comissão, e 1349/XIV/2.ª (PSD), que baixa à 7.ª Comissão.
O Sr. Presidente (António Filipe): — A ordem do dia da sessão de hoje consta de um agendamento potestativo, requerido pelo Chega, para a apreciação conjunta, na generalidade, dos Projetos de Lei n.os
807/XIV/2.ª (CH) — Altera o Código Penal e cria o artigo 335.º-A, definindo o crime de enriquecimento ilícito ou
injustificado, clarificando os seus pressupostos objetivos e subjetivos de aplicação, bem como a moldura penal
aplicável, distinguindo ainda consoante o agente seja ou não titular de cargo político e 881/XIV/2.ª (Deputada
não inscrita Cristina Rodrigues) — Cria o crime de ocultação de riqueza com vista à prevenção da corrupção e
aumento da integridade pública.
Para proceder à apresentação do projeto de lei do Chega, tem a palavra o Sr. Deputado André Ventura.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Hoje, depois de algumas vezes e de alguns anos, o enriquecimento ilícito volta a ser discutido nesta Casa. Após um conjunto de tentativas falhadas, quase
sempre boicotadas pelo Partido Socialista, o enriquecimento ilícito chega novamente à Casa da democracia. O
enriquecimento ilícito ou a indignação de um País inteiro, que olha, cada vez mais, para os seus
representantes, para aqueles que acumulam riqueza e para os seus mandatários com enorme desconfiança.
O combate ao enriquecimento ilícito não é a única forma de combate à corrupção, mas é uma forma
importante de combate à corrupção. O combate ao enriquecimento ilícito não é a única ferramenta de luta
contra o mal endémico que destrói o tecido social português, envergonha os portugueses, afasta eleitos e
eleitores e afasta as pessoas, cada vez mais, do nosso sistema político. O enriquecimento ilícito tornou-se
numa mancha tremenda sobre a nossa sociedade.
Quem não viu e quem não podia ver, há uns meses, um ex-Primeiro-Ministro ser lavado, completamente,
perante o olhar atónito de um País que via, hora após hora, minuto após minuto, milhões serem
completamente escondidos, lavados, ocultados ou justificados! Isto, perante a indignação de um País inteiro.
Quando discutimos o enriquecimento ilícito devemos saber que esta Câmara já o fez por várias vezes,
algumas vezes com a oposição do Tribunal Constitucional, que se pronunciou. Mas que ninguém tenha
dúvidas de que representantes do povo só são os que aqui estão sentados a decidir. Representantes do povo
e guardiães da Constituição só há aqueles para quem a Constituição serve e que devem, eles próprios, ser o
referencial dessa Constituição. Nenhuma autoridade há, nesta terra ou noutra, acima do povo português, que
decide soberanamente o seu futuro.
A corrupção custa-nos 21 milhões de euros por ano. Poderíamos dizer que quase 10% da riqueza criada
em Portugal se perde no mar tremendo e incrível da corrupção que temos em Portugal. Se estes dados nos
devem perturbar e levar a pensar o que podemos fazer para transformar este País num país melhor, não
devemos esquecer os últimos dados de que dispomos e que são factos — factos! —, para quem tanto gosta
deles.
Assim, 88% dos portugueses acreditam que o Governo é corrupto ou que há corrupção dentro do Governo
— 88%!; 41% dos portugueses têm a perceção de que a corrupção aumentou nos últimos meses em Portugal;
e 60% dizem que o combate à corrupção é ineficiente.