1 DE JULHO DE 2021
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essas regras que a direita colocou na lei laboral e que hoje significam despedimentos mais fáceis e mais
baratos; significam dias de férias que deixaram de existir e, portanto, mais horário de trabalho, sem
remuneração, sem compensação por isso; significam o corte que houve na remuneração do trabalho
suplementar; significam essa degradação, esses cortes que hoje permanecem na legislação do trabalho e que
fazem com que tenhamos menos instrumentos para enfrentar os impactos da crise que estamos agora a viver.
Sr.ª Deputada, permita-me que lhe responda com essa pergunta, porque essa é, verdadeiramente, a
pergunta que paira neste debate.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira, de Os Verdes.
Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: A matéria laboral volta hoje, e bem, a debate, e Os Verdes, aproveitando o agendamento do PCP, e sem
prejuízo da importância que atribuímos às restantes propostas que também estão em debate, trazem para
discussão uma iniciativa legislativa com o objetivo de consagrar o direito a 25 dias úteis de férias anuais.
Na verdade, não é necessário fazer grande esforço para se reconhecer que a legislação laboral tem vindo,
ao longo do tempo, a ser objeto de alterações, provocando um agravamento no desequilíbrio nas relações
laborais, mas sempre em prejuízo de quem trabalha.
Fosse a pretexto da competitividade, do crescimento, do emprego, da crise ou até das imposições
externas, tudo serviu para fragilizar e desproteger a posição do trabalhador na relação laboral. Assistimos,
assim, durante vários anos, mas com particular destaque no período do último Governo do PSD e do CDS-PP,
a uma ofensiva contra quem trabalha, marcada pela degradação acentuada das condições de vida de grande
parte das famílias portuguesas.
Ora, este injusto e imoral acentuar da exploração foi o resultado de opções que foram materializadas
através dessas alterações ao código laboral e que se traduziram na desvalorização do trabalho e até num
ataque sem precedentes aos direitos fundamentais de quem trabalha.
Falamos, por exemplo, das alterações com o propósito de fragilizar e bloquear a contratação coletiva, do
desaparecimento do nosso ordenamento jurídico do princípio do tratamento mais favorável para o trabalhador
ou, ainda, das alterações que vieram reduzir o número de dias de férias de quem trabalha. E, como se previa,
essas opções apenas vieram estimular os despedimentos, tornar o trabalho mais barato, colocar as pessoas a
trabalhar mais e a ganhar menos e, sobretudo, enfraquecer ainda mais a posição do trabalhador na relação
laboral.
Hoje, decorridos estes anos, o que podemos concluir é que estas alterações provocaram situações
dramáticas do ponto de vista social e não resolveram nenhum dos problemas do País e dos trabalhadores,
pelo contrário, vieram agravá-los.
Assim, e não obstante a necessidade de reverter outras medidas em termos laborais, Os Verdes entendem
que é tempo de trazer mais justiça para as relações laborais, consagrando o direito a 25 dias úteis de férias
anuais.
Recorde-se que, quando falamos de férias, falamos de um direito irrenunciável, que não deve estar
condicionado a determinados critérios como a assiduidade e efetividade de serviço ou, até, a antiguidade do
trabalhador, e que tem como objetivo proporcionar o descanso físico e psíquico e garantir condições de
participação e articulação da vida profissional, familiar e pessoal de quem trabalha.
Como sabemos, os trabalhadores restabelecidos física e psicologicamente acabam por apresentar
condições mais favoráveis para melhor trabalharem. Desta forma, qualquer medida que vise degradar as
relações laborais é prejudicial para o trabalhador e para a própria prestação do trabalho em condições que se
querem dignas.
Aliás, vários estudos indicam que ao aumento da produtividade no trabalho estão associados maiores
períodos de lazer e de descanso, e não o seu contrário. Na perspetiva de Os Verdes, os trabalhadores devem