1 DE JULHO DE 2021
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Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o PSD entende que a legislação laboral é demasiadamente
importante para poder ser utilizada de forma partidariamente instrumental. O Código do Trabalho é fruto de um
esforço de concertação e de entendimento tripartido, sendo, por isso, equilibrado e estável. É, acima de tudo,
um instrumento que concilia interesses, aparentemente divergentes, entre trabalho e capital e que está ao
serviço do desenvolvimento económico, que possa garantir a sustentabilidade da evolução social e laboral.
Assim continuamos hoje, como sempre, a entender que devem ser os parceiros e o Governo, em sede de
CPCS (Comissão Permanente de Concertação Social) e em primeira instância, a gerarem os consensos
necessários em eventuais alterações em matéria laboral. Só então caberá ao Parlamento exercer a sua função
legislativa, com o princípio norteador de respeito pelo equilíbrio obtido de modo tripartido. De resto, o princípio
do equilíbrio e da estabilidade são fundamentais para o edifício legislativo laboral. Só assim se garante a
trabalhadores, empresários, juristas ou investidores um terreno de mútua confiança.
Ainda assim, não deixa de ser curioso aquilo que verificamos, por parte de outros partidos. Por parte do
PCP ou do Bloco de Esquerda, admitimos que, de modo ideologicamente coerente, temos projetos que
desequilibram profundamente o Código do Trabalho. Não é de admirar! São partidos que têm uma visão
conflituante das relações laborais e, desse modo, desvalorizam e abominam, até, as convergências
alcançadas na concertação social.
Porém, da parte do PS, consegue descortinar-se um apurado instinto de sobrevivência política e de
manutenção do poder à outrance, mesmo que para tal tenha de abdicar de ser um partido respeitador da
concertação social, do papel insubstituível dos parceiros e dos acordos obtidos, que estão na base da nossa
legislação laboral.
Assim, a pergunta que se coloca de imediato é se irão, PS e Governo, caminhar no sentido oposto ao
necessário pela economia nacional. Ou seja, está o PS disponível para apoiar projetos de lei que, pela sua
unilateralidade, adulteram os equilíbrios do Código do Trabalho, apenas em nome do tacticismo e da
manutenção no poder?
Dito de modo mais assertivo: será esta a moeda de troca para garantir o voto favorável do PCP na
aprovação do Orçamento do Estado para 2022?
Aplausos do PSD.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A concertação social é o palco institucional para a conciliação de
interesses entre empresas e trabalhadores. A obrigação do Governo, enquanto um dos vértices do tripartismo
e, consequentemente, também do partido que o suporta, é a promoção desse mesmo diálogo e não o da
eventual viabilização de diplomas que, a coberto de aparentes boas intenções, mais não fazem do que
desequilibrar a legislação laboral portuguesa, tornando-a mais rígida, dissuadindo o investimento e a criação
de emprego e agindo, assim, em última análise, contra os próprios interesses dos trabalhadores.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Fernando José, do Grupo Parlamentar do PS.
O Sr. Fernando José (PS): — Sr. Presidente, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs. Deputados: Começo por saudar a iniciativa do PCP, bem como o BE, o PAN e o PEV pelos projetos apresentados, afirmando que
as preocupações refletidas são também preocupações que nos unem num objetivo comum e sobre o qual
temos vindo a trilhar um caminho de consensos, na densificação dos direitos dos trabalhadores.
O combate à precariedade laboral, a promoção da Agenda para o Trabalho Digno e o fomento da
contratação coletiva são temas vertidos em cada momento nas medidas do Governo e prioridades na ação
política do Partido Socialista.
Por isso, iremos viabilizar o Projeto de Lei n.º 525/XIV/2.ª, do PCP, referente ao combate à precariedade
laboral e ao reforço dos direitos dos trabalhadores. Seguimos, assim, um caminho percorrido até aqui pelo
Governo, pelo Partido Socialista e por toda a esquerda, um percurso assertivo e que, mesmo num contexto de