I SÉRIE — NÚMERO 4
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poder local — quer a nossa identidade, quer a nossa soberania, quer a nossa legitimidade, enquanto decisores
políticos, nesta Assembleia da República.
Dito isto, feitas as notas necessárias sobre as eleições autárquicas, gostaria de fazer-lhe uma pergunta muito
em particular.
Já muito foi dito sobre a necessidade de o Governo respeitar a independência do poder local. Creio que esse
é um fator fundamental: não olhar às cores de quem está à frente das autarquias, mas, sim, ao povo de cada
uma das autarquias e ao respeito pela sua legítima expectativa, no que toca à participação nos destinos
autárquicos.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr. Deputado, peço-lhe que termine.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Vou terminar, Sr. Presidente. Mas há uma referência que o Sr. Deputado fez na sua intervenção que gostava que aprofundasse um pouco
mais e que tem que ver com a regionalização.
Ouvimos várias vezes o Governo dizer que não há regionalização enquanto houver o atual Presidente da
República. Ouvimos o Partido Socialista e o grupo parlamentar dizerem exatamente o mesmo, mas o Sr.
Deputado disse uma coisa um bocadinho diferente.
Gostava que o esclarecesse, para saber se, de facto, alguma coisa mudou nacionalmente com estas eleições
autárquicas, para o Partido Socialista.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr. Deputado José Luís Carneiro, tem a palavra, para responder.
O Sr. José Luís Carneiro (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, começaria, então, em primeiro lugar, pela resposta ao Deputado António Filipe, que, fundamentalmente, mais do que propriamente uma
pergunta, formulou uma intervenção sobre a importância de constituirmos uma plataforma política, tendo em
vista garantir a autonomia do poder local democrático e servir o desenvolvimento.
Diria que essa plataforma é tanto mais importante, porquanto ela tem sido indispensável, nomeadamente no
diálogo que se tem constituído na Associação Nacional de Municípios Portugueses e, também, na própria
Associação Nacional de Freguesias, em que os diferentes partidos promovem entendimentos essenciais para
que o poder local democrático seja um alicerce e um esteio para a implementação das políticas e para a
concretização das políticas públicas, de modo a que essa implementação venha a contribuir decisivamente para
a qualidade de vida das nossas populações.
Não poderíamos, portanto, estar mais de acordo com aquilo que foi afirmado agora mesmo, sobre a
importância dessa mesma plataforma e desse diálogo político interpartidário, nos fora essenciais ao
desenvolvimento.
No que respeita à intervenção do Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, gostaria de dar conta do seguinte: como
foi referido, também concordamos que há uma dinâmica própria local. Há, desde logo e em primeiro lugar,
projetos políticos locais que, naturalmente, têm maiores ou menores pontes com as propostas de política
nacional. Depois, há os intérpretes locais e, como bem sabemos, há uma relativa personalização na relação
entre eleitos e eleitores, em termos locais. E só por isso é que temos também tantas surpresas na noite eleitoral
das eleições autárquicas, porque quer queiramos ou não, o voto não é estritamente ideológico, é um voto em
que efetivamente as candidatas e os candidatos contam nas opções dos eleitores.
No que diz respeito aos objetivos da descentralização, que, aliás, foi também um dos temas colocados pelo
Sr. Deputado António Filipe, sobre essa matéria temos uma posição muito clara. Temos em curso um dos
processos mais profundos de transferência de novas atribuições e competências dos poderes municipais para
as freguesias, para os municípios, para as comunidades intermunicipais (CIM).
Prevê-se, aliás, cerca de 1000 milhões de euros, para acompanhar esse reforço de transferência de
competências e de novas responsabilidades e, como bem se sabe, durante esta Legislatura demos também um
passo para reforçar os poderes regionais, com a eleição indireta dos presidentes e de um dos vice-presidentes
das comissões de coordenação e desenvolvimento regional (CCDR).