2 DE OUTUBRO DE 2021
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O Sr. Carlos Brás (PS): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sr. Secretário de Estado, Sr.as e Srs. Deputados: Neste debate sobre o estado da União, queria colocar ao Sr. Ministro uma questão de política externa, que
tem a ver, exatamente, com a situação que se viveu e que se vive no Afeganistão.
No passado mês de agosto, assistimos todos, um pouco atónitos — e assistiu o mundo inteiro — a
imagens de caos, com a saída das tropas ocidentais do Afeganistão. Caos no aeroporto, caos nas imediações,
queda de Cabul às mãos dos talibãs, em pouco mais de 24 horas.
Sr. Ministro, a pergunta que se impõe é como foi possível isto ter acontecido?! O que estivemos lá a fazer
durante 20 anos?! E digo «estivemos», porque também por lá passaram 4600 militares portugueses. O que
falhou? Onde estavam os serviços de inteligência? Onde estava a informação necessária para prevenir? O
que poderíamos ter feito diferente para, pelo menos, termos evacuado todos aqueles que trabalharam
connosco e com as restantes potências ocidentais?
Queria também que nos desse algumas explicações sobre que políticas migratórias, de asilo ou de apoio
aos refugiados tem a União para fazer face a esta crise.
Ainda anteontem, o Primeiro-Ministro italiano, Mario Draghi, dizia que está na altura de salvar vidas no
Afeganistão. O que é que a União Europeia pretende fazer para, do ponto de vista humanitário, ajudar os
afegãos que estão em tão grandes dificuldades? E do ponto de vista político gostaria também de saber qual é
a posição da União Europeia relativamente ao Emirado Islâmico do Afeganistão e relativamente à necessidade
de reconhecimento que eles próprios também sentem.
Já agora, Sr. Ministro, pedia-lhe o favor, se houver tempo, de nos atualizar sobre a situação da missão em
Moçambique, nomeadamente na província de Cabo Delgado. Qual é o ponto de situação?
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — É a vez do Grupo Parlamentar do PSD. Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Isabel Meireles.
A Sr.ª Isabel Meireles (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Sr.as e Srs. Deputados: Uma das prioridades anunciadas
por Ursula von der Leyen, no seu discurso sobre o estado da União, foi, e cito, «garantir que nenhum vírus
transformará uma epidemia local numa epidemia global».
Considero que esta prioridade é, provavelmente, uma utopia porque é tão impossível conter um vírus na
era global, como travar o vento com as mãos. Aquilo que a União Europeia tem de fazer é não depender dos
blocos ou dos países externos, como aconteceu em 2020 — para que a Europa e os seus Estados, incluindo
Portugal, não fiquem estupefactos por falta de equipamentos médicos adequados —, com especialistas que
desenhem um modelo robusto, nomeadamente a nível industrial, de ataque à próxima crise sanitária.
Assim, Sr. Ministro, aproveito para perguntar qual o esforço de reindustrialização que o Governo pretende
fazer, porque esta questão alinha-se com outra prioridade da União, que é a recuperação económica e
financeira, rumo a uma prosperidade sustentável. Estão o Estado e as empresas nacionais, Sr. Ministro,
preparados para responder a uma nova ameaça viral?
O Governo e, em particular, o Sr. Primeiro-Ministro, general da bazuca, andaram durante as últimas
semanas a anunciar milhões e milhões do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Acontece que o PRR
nacional está muito centrado em obras públicas, mas esqueceu-se das PME (pequenas e médias empresas).
O Dr. António Costa prometeu uma maternidade para Coimbra, uma autoestrada para Viseu, 1000 milhões
de euros para os municípios gerirem a transferência das competências, mas não foi capaz de nos dar a
conhecer um único investimento que o Governo tenha conseguido para Portugal. A Coelima fechou em
Guimarães, a Dielmar encerrou a atividade em Alcains, a Saint Gobain despediu 130 trabalhadores na unidade
de Loures e o que é que o Governo faz? Nada!
A única declaração brilhante — na verdadeira aceção da palavra — veio do Secretário de Estado da
Internacionalização, quando afirmou «nós ganhámos com a COVID-19». Portugal ganhou com a pandemia,
imagine-se! Temos um Secretário de Estado em ilusão e temos um Primeiro-Ministro em negação.
Sr. Ministro, ainda no capítulo do apoio às empresas, o preço da eletricidade, como sabemos, é um fator de
competitividade, e Portugal é um dos países da União com a eletricidade mais cara. Contudo, o Governo