7 DE OUTUBRO DE 2021
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Sr.as e Srs. Deputados, Portugal, as pessoas dadoras e quem necessita da dádiva de sangue não pode
continuar refém destes solavancos. Por isso, o PAN apresenta um projeto de lei para garantir que nenhuma
dádiva de sangue pode ser recusada em função de critérios obsoletos e subjetivos.
Propomos também que aos profissionais que prestam cuidados e serviços de saúde se garanta uma
formação atualizada que afaste os preconceitos dos critérios técnicos e científicos que orientam estas tão
importantes profissões.
Aliás, a prestação de cuidados de saúde e a possibilidade de salvar vidas devem nortear as políticas. Por
isso, a sensibilização das pessoas, das comunidades para a dádiva de sangue é uma estratégia fundamental, a
par das estratégias da gestão dos bancos de sangue e da melhoria da utilização dos seus componentes sem
qualquer desperdício.
Termino, dizendo que, no nosso projeto de lei também temos como objetivo claro que as entidades
empregadoras reconheçam a importância da dádiva de sangue, reconhecendo aquele que é o período que a
pessoa necessita de estar ausente da esfera laboral. Portanto, há também um caminho a fazer nesta matéria
para reconhecer esta natureza solidária e humanista da dádiva de sangue.
Aplausos do PAN.
O Sr. Presidente: — Para apresentar o projeto de lei do Bloco de Esquerda, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Fabíola Cardoso.
A Sr.ª Fabíola Cardoso (BE): — Sr. Presidente, começo por cumprimentar todas as pessoas que participam
nesta sessão plenária.
O Bloco de Esquerda traz à discussão na Assembleia da República um projeto de lei que pretende acabar,
de uma vez por todas, com a discriminação na dádiva de sangue.
O preconceito homofóbico, com ou sem bata branca, não pode continuar a sobrepor-se ao conhecimento
científico e à Constituição da República Portuguesa, que garante a igualdade e a não discriminação.
Para que não restem quaisquer dúvidas, seja de quem for, propomos a proibição da discriminação nas
doações de sangue em razão da orientação sexual, identidade e expressão de género e das características
sexuais, alterando para isso o Estatuto do Dador de Sangue.
Propomos ainda, como os outros três projetos de lei em discussão sobre o mesmo tema, a realização de
uma campanha de incentivo à dádiva de sangue por parte, em particular, de jovens e de esclarecimento sobre
os critérios para o poderem fazer.
Esta é, para muitas e muitos de nós, uma velha luta. Já em 1999, ativistas do Grupo de Trabalho
Homossexual, do PSR (Partido Socialista Revolucionário), da ILGA (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans
e Intersexo) Portugal e da Opus Gay, hoje Opus Diversidades, realizavam protestos públicos, em que
contestavam os critérios de seleção dos dadores de sangue, levando o Instituto Português do Sangue, na altura,
a prometer mudanças. Mas a discriminação na dádiva de sangue continuou.
Em 2010, a Assembleia da República aprovou, por ampla maioria, e sem qualquer voto contra, um projeto
de resolução do Bloco de Esquerda, que deu origem à Resolução n.º 39/2010, que recomendava ao Governo a
adoção de medidas de combate à discriminação dos homossexuais e bissexuais na recolha de sangue. Mas a
discriminação na dádiva de sangue continuou.
Em 2012, o Estatuto do Dador de Sangue, aprovado pela Lei n.º 37/2012, de 27 de agosto, reforçou, no seu
artigo 6.º, que o dador de sangue tem o direito a — e cito — «não ser objeto de discriminação». Este Estatuto
consagra a dádiva de sangue como um «dever cívico» para todas as pessoas. Mas a discriminação na dádiva
de sangue, na prática, continuou.
A recusa de dádivas de homens gays e bissexuais ocorria, apesar da falta de doações de sangue que temos
no nosso País. Mesmo quando a situação se agravou com a pandemia COVID-19, e apesar das escassas
reservas disponíveis em alguns grupos sanguíneos, a prática não se alterou. Perderam-se dádivas e dadores.
As denúncias das associações e dos indivíduos, as notícias e as iniciativas do Bloco de Esquerda continuaram.
O Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda sempre se opôs a esta discriminação, que se fundava no
conceito ultrapassado e preconceituoso de «grupos de risco». Hoje, finalmente, é unânime: não existem grupos
de risco, existem comportamentos de risco, que podem ocorrer em diferentes grupos de pessoas. Esses