15 DE OUTUBRO DE 2021
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O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Oliveira, do Grupo Parlamentar do PCP.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, imagino que os portugueses que residem no estrangeiro e que estão a
acompanhar este debate estejam estarrecidos ou talvez até enfurecidos pela forma como o debate está a ser
feito, pelo menos, pelos termos em que o PSD e o PS abordaram este problema que estamos hoje a tratar a
propósito das alterações ao Regulamento Consular.
Isto porque as acusações de que «Os senhores estão a preparar-se para degradar a rede consular!» e de
que «Não, os senhores é que degradaram, os senhores é que encerraram!», verdadeiramente, a única coisa
que confirmam é aquilo que o PCP tem dito sucessivamente, a propósito de decisões que têm sido tomadas por
sucessivos Governos relativamente à degradação da resposta que deve ser dada às nossas comunidades em
função das suas necessidades.
Relembro — estava aqui a fazer um esforço de memória, mas entretanto já confirmei — que, em 2012, tive
oportunidade de eu próprio, a convite das Comunidades Portuguesas na Alemanha, participar num conjunto de
iniciativas, porque o, então, Secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, tinha decidido encerrar o
vice-consulado de Osnabrück, que tinha sob a sua responsabilidade uma área de 63 000 km2 — ou seja, uma
área correspondente, mais ou menos, a dois terços do território continental —, com 23 000 portugueses, que se
sentiram pura e simplesmente abandonados com aquela decisão que o Governo tomava relativamente ao
encerramento daquele vice-consulado.
O Sr. João Dias (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Ministro, se taparmos o nome do autor das apreciações que foram feitas na altura sobre as críticas à decisão tomada pelo Governo de PSD/CDS em relação àquele vice-consulado, diria
que aquelas razões de justiça pelas quais as comunidades portuguesas, na altura, se bateram para impedir o
encerramento daquele vice-consulado são exatamente as mesmas que justificam as preocupações das
comunidades portuguesas relativamente à questão que hoje se levanta.
Ouvimos, da parte do Partido Socialista, dizer que as alterações ao Regulamento Consular, nomeadamente
a da eliminação da previsão, no artigo 3.º, dos vice-consulados e dos consulados honorários, não significam
uma intenção de desarticulação ou de apagamento, mas de melhoria da rede consular.
Gostava de saber, muito em concreto, Sr. Ministro, quantos cônsules honorários e quantos vice-consulados
passarão a assumir as responsabilidades de consulados, quantos deles serão convertidos em consulados. E
também gostava de saber a que é que essa decisão corresponderá em termos de reforço da capacidade de
meios humanos, da capacidade de resposta para questões tão simples como, por exemplo, a da renovação de
documentos de identidade, que continua a ser hoje um calvário para milhares de portugueses por esse mundo
fora.
Percebemos que, no próprio decreto-lei, no artigo 20.º, continua a estar prevista a existência dos cônsules
honorários, mas aquilo que nos interessa verdadeiramente saber — e é essa a questão que queria deixar ao Sr.
Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros — é, em concreto, qual a intenção do Governo que corresponde
a esta intenção do Partido Socialista. Qual é o verdadeiro compromisso que o Governo assume relativamente
ao reforço da rede consular portuguesa?
Olhando apenas para a letra da lei, só temos motivos para preocupações e precisamos que o Governo nos
diga se a estas alterações na lei corresponderão decisões de sentido contrário, ou seja, se a desconsideração,
digamos assim, do ponto de vista formal, dos vice-consulados e dos cônsules honorários corresponde a uma
intenção de investimento na rede consular, com a criação de consulados, nomeadamente com o alargamento
do número de postos consulares do ponto de vista das suas categorias mais elevadas. Estas são perguntas
absolutamente nodais.
Gostava de saber também, Sr. Ministro, em concreto, a que é que isto corresponde em termos, por exemplo,
do reforço do número de trabalhadores e dessa capacidade de resposta. É preciso saber se as perguntas que
têm sido sucessivamente feitas pelos trabalhadores dos serviços consulares e das missões diplomáticas a
propósito, por exemplo, da atualização salarial, da desproteção social e da falta de cobertura nos sistemas de