I SÉRIE — NÚMERO 15
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Importa perceber quais são as razões, quais são as justificações que estão por detrás da apresentação
destas iniciativas. Duas delas são muito claras: uma delas é entender-se que a corrida de cães, neste caso de
cães galgos, contraria aquilo que é o comportamento natural dos animais; outra, também presente nos
diversos projetos de lei que aqui temos em discussão, é o facto de haver maus-tratos injustificados aos
animais.
Ora, aquilo que também temos de ver é que já existe legislação, em Portugal, que previne os maus-tratos a
animais e que proíbe determinados comportamentos com os animais. A verdade é que a lei já existe. Aliás, o
Código Penal, no artigo 387.º, já define claramente quais são os comportamentos que devem ser punidos
relativamente aos animais de companhia. Portanto, a lei já existe! E depois, como foi já dito e é amplamente
conhecido, casos mediáticos que vieram a público vieram provar que a lei que existe funciona.
Assim, o que temos de nos perguntar, Srs. Deputados, é o seguinte: ora, se a lei existe e funciona, porque
vamos proibir estas atividades? Porque uma coisa é garantida, Sr.as e Srs. Deputados, proibir duas vezes não
proíbe mais. Portanto, o que temos é de responder às necessidades, nomeadamente de regulação e
fiscalização.
Por isso, a proibição que aqui surge, Srs. Deputados, temos de ser francos, é pelo gosto e não porque
existam razões objetivas para se proibir.
Nesse sentido, qual é o alcance destas iniciativas? Há outras atividades com animais, nomeadamente com
cães, e importa perceber o que é que lhes acontece se estas iniciativas fizerem caminho, designadamente os
treinos e a prática de agilidade dos cães. O que é que acontece com os treinos de obediência?
O Sr. João Gomes Marques (PSD): — Acaba tudo!
O Sr. João Dias (PCP): — O que é que acontece com os treinos e o uso de cães em busca e salvamento?
O Sr. João Moura (PSD): — Os cães são para estar no sofá!
Risos.
O Sr. João Dias (PCP): — O que é que acontece com os cães em treino e uso na identificação de estupefacientes? O que é que acontece, por exemplo, com os cães utilizados no apoio a cegos e pessoas com
incapacidade?
Srs. Deputados, tudo isto também contraria o comportamento natural dos animais, portanto, há que
perceber o alcance destas medidas.
Por isso, a questão que o PCP levanta é a de saber se necessitamos de regulamentar, porque proibir as
corridas de cães é, no nosso entender, um erro, pois do que precisamos é ter estas atividades devidamente
reguladas, devidamente fiscalizadas e é isso que exigimos, ou seja, que o SEPNA (Serviço de Proteção da
Natureza e do Ambiente) e a DGAV tenham condições para estar presentes nestas atividades e combater
todas as fraudes que possam acontecer, porque elas podem acontecer no que está regulado, mas se estiver
desregulado, então, entramos numa selva completa.
Por isso, o que importa é cumprir a lei, é criar condições para que ela seja cumprida.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Silva, do PEV.
A Sr.ª Mariana Silva (PEV): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O debate sobre matérias que envolvam o bem-estar animal ganha acrescida importância a cada dia que passa, já aqui o dissemos. De tal
forma assim é que hoje, além de projetos apresentados por três partidos, temos um projeto da iniciativa de
mais de 21 000 cidadãos que se envolveram com este objetivo.
Gostaria, portanto, de começar por saudar cada um dos subscritores deste projeto de lei, pelo contributo
que dão para o aprofundamento da nossa democracia participativa. É já tempo de se compreender que a