I SÉRIE — NÚMERO 15
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reconhecimento ao Sr. Presidente da Comissão, Deputado Fernando Negrão, e ao Deputado relator —
independentemente do desfecho do relatório, bem sabemos que foi um tempo muito curto e que exigiu um
grande esforço e trabalho — e também ao corpo de funcionários que acompanharam a Comissão de Inquérito
e que aqui estão presentes hoje neste debate.
É sabido que a versão original do documento, tal como foi apresentada à Comissão, não reuniu a maioria
dos partidos, a maioria dos Deputados que a integraram, quanto mais um consenso. Ao longo das votações,
foram introduzidas redações que permitiram a viabilização das conclusões, que ficaram mais justas e
verdadeiras no documento final.
Este relatório integra três conclusões importantes e que queremos destacar. Em primeiro lugar, o relatório
apura responsabilidades políticas de uma forma que, diria, nenhum outro fez: responsabilidades da Comissão
Europeia, que condicionaram todo o processo e todas as decisões quer na resolução quer na venda;
responsabilidades do Banco de Portugal, que também já tinham sido apuradas na anterior Comissão de
Inquérito; responsabilidades da administração do Novo Banco e em todas as decisões que tomou desde o
momento da resolução até à administração atual e à gestão atual do Novo Banco sob o Fundo de Resolução;
responsabilidades dos governos que aceitaram as imposições da Comissão Europeia, que tomaram más
decisões, que não defenderam o interesse público e que não foram capazes de ser transparentes com o País
e de assumir as decisões e as consequências das decisões que tomaram. E isto diz respeito à resolução,
porque todos sabemos hoje que não existia um «banco bom», todos sabemos hoje que o banco estava
subcapitalizado e, por isso, todos sabemos hoje que a resolução sem custos foi uma mentira contada aos
portugueses. Mas isto também diz respeito à venda, porque não houve uma venda sem custos. As regras do
mecanismo criado pela venda permitiram que o Novo Banco maximizasse sempre a injeção do Fundo de
Resolução e, acima de tudo, ficou provado que a venda foi feita a um «fundo abutre» com uma estrutura de
propriedade opaca e ninguém, ao longo da Comissão de Inquérito, conseguiu sequer descobrir quem é que
manda no Novo Banco, quanto mais chegar à fala com essa pessoa.
Segunda conclusão: foi desmentida, finalmente, a ficção de uma resolução e de uma venda sem custos —
quem o diz é o Tribunal de Contas. O Fundo de Resolução é dinheiro dos contribuintes, cada cêntimo que
entrou no Novo Banco, que hoje pertence ao Lone Star, é dinheiro dos contribuintes. E, ainda assim, quem
hoje fica com os lucros de um banco limpo, com dinheiro dos contribuintes, é o Lone Star e não o Estado
português que perdeu o direito a controlar o Novo Banco, que é um banco tão importante para a economia
portuguesa.
Terceira conclusão: ficaram mais claros os mecanismos utilizados por grandes devedores para criar e para
escapar às dívidas que constituíram no Novo Banco e na banca portuguesa em geral, em prejuízo de toda a
economia. Estes devedores não representam todos os empresários, Sr. Deputado Cotrim de Figueiredo, estes
devedores não representam todos os empresários do País, estes devedores representam uma elite política,
que foi beneficiada pelas privatizações e pelas políticas de liberalização financeira, representam uma elite
económica, protegida pelo PS, pelo PSD e pelo CDS.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Estes devedores representam uma elite económica que se sente bem nas hostes do Chega e que até ajuda a financiar o partido, representam uma elite económica que o Iniciativa
Liberal se esforça por defender.
Mas, Srs. Deputados, hoje, não é preciso propaganda para desmontar e desmascarar esta elite económica.
De cada vez que os seus representantes se sentam numa cadeira de uma comissão de inquérito, fica à vista
de todos e de todas a sua desfaçatez, a sua arrogância e o seu sentido de impunidade.
Aplausos do BE.
E só por isso, só pela exposição desta elite económica, já valeu a pena.
Aplausos do BE.