I SÉRIE — NÚMERO 16
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Como é que tem coragem de vir aqui falar de pobreza quando os senhores aumentaram a pobreza entre
idosos, não só cortando pensões mas cortando no complemento solidário para idosos, com uma visão ideológica
de compressão dos rendimentos, de compressão das prestações sociais, de desvalorização interna?!
Os senhores fizeram tudo isso e muito mais. Agora não tenho mais tempo, mas terei todo o gosto em debater
consigo este tema.
Os senhores não têm moral para falar de apoios sociais aos portugueses, depois da forma como governaram.
Aplausos do PS.
Protestos do PSD.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção pela bancada do Bloco de Esquerda, tem a palavra a Sr. Deputada Mariana Mortágua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Ministros, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Em 2015 participei nas negociações que levaram a um notável acordo que
estabilizou o País a partir de um projeto de recuperação imediata da crise económica e social deixada pela
direita.
Bem se sabe que não foi fácil. O Bloco aceitou compromissos em nome de medidas que o Partido Socialista
não tinha no seu programa, como o descongelamento das pensões, as alterações ao IRC, a tarifa social de
energia, sem falar no ritmo da recuperação de rendimentos.
Como hoje, não faltaram então as vozes da Comissão Europeia à direita portuguesa, passando pelos serões
televisivos, que asseguravam que as medidas da esquerda eram irresponsáveis e despesistas.
Naquela altura, para ser Governo, o PS não fez coro com os céticos e, assim, o resultado foi mais emprego
e mais justiça para quem sofreu tanto às mãos do Governo PSD/CDS.
O resultado destes anos de governação foi tudo aquilo que o Deputado Barbosa Ribeiro aqui enunciou.
Sabemos, Sr. Deputado, nós votámos a favor desses orçamentos e com orgulho.
Com o fim da Legislatura que conhecemos por geringonça, a situação mudou, o PS recusou um acordo
escrito com o Bloco após as eleições de 2019, não fez caminho para entendimentos em matérias essenciais,
como a lei laboral, e agora recusa as soluções concretas que o Bloco trouxe a negociação.
E sou obrigada a corrigi-lo, mais uma vez, Sr. Primeiro-Ministro: o fim do contrato a termo, seja certo ou
incerto, não é um despedimento. O despedimento é para trabalhadores efetivos, com anos de serviço, como no
Santander ou na Altice, fragilizados pela lei da troica que o Governo insiste em manter em vigor.
Aplausos do BE.
Assim, chegamos aqui com um problema, que é a falta de credibilidade do Orçamento e a insuficiência das
suas soluções. Ano após ano, confrontamo-nos com verbas que não são executadas. Em contabilidade pública,
são menos 923 milhões de euros em despesa corrente, menos 800 milhões de euros em despesas de capital,
menos 100 milhões de euros em pessoal, ou seja, o défice proposto tem uma folga de 1200 milhões de euros.
Sabemos o que dirá o Ministro João Leão. Dirá que as verbas orçamentadas são meramente indicativas e
que nem têm de ser executadas. Mas, então, se tudo não passa de um mero exercício e se os números são
inúteis para verificar compromissos, por que é que o Governo recorre a esses mesmos valores para fazer
propaganda do reforço orçamental das mais variadas verbas do Orçamento?
«Insistimos em contas certas, porque são um compromisso com o País», diz o Governo. Então, veja-se o
Estatuto do Cuidador Informal, que volta a ser contemplado, pelo terceiro ano consecutivo, com 30 milhões de
euros no Orçamento. Apesar do acordo com o Bloco, a execução desta medida foi de 1%, em 2020, e de 2%,
até junho de 2021. Por isso, contas certas é responder a quem cuida dos seus e o Governo falhou.
Na saúde, há verbas de investimento que atravessam orçamentos, sem nunca saírem do papel, como os
casos dos hospitais do Seixal, de Setúbal e de Évora. Para o Hospital de Lisboa Oriental, o Governo chega até
a prometer 10 milhões de euros em equipamentos, em 2021, quando a obra ainda nem sequer foi adjudicada.