I SÉRIE — NÚMERO 17
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O PAN apresentou-se neste debate do Orçamento com uma postura responsável de diálogo e de negociação
com o Governo, e fê-lo, precisamente, porque o País precisa de respostas.
Sabemos que este Orçamento, tal como tantos outros já aqui trazidos a discussão, está longe da perfeição
ou dos consensos que todos gostaríamos de alcançar. Mas também sabemos que quem escolhe demitir-se
daquilo para que foi eleito demite-se de um trabalho que, em democracia, deve ser um trabalho conjunto. E esta
atitude resulta tão-somente num adiar das respostas imediatas de que as pessoas precisam. E o País, lá fora,
não pode esperar.
Dizemos e repetimos: a Assembleia da República não pode faltar ao mesmo País que disse presente quando
o momento assim o exigiu. Fazer oposição não é só votar contra, é também saber trabalhar em conjunto por
melhores soluções para o País. Houve já quem aqui achasse que cooperar para a procura de soluções era
«folclore parlamentar». Pois, Sr.as e Srs. Deputados, aquilo a que aqui assistimos ontem e hoje, isso, sim, é o
verdadeiro «folclore parlamentar», que nada acrescenta ao País.
Chegados ao fim deste debate, o que é que afinal cada Deputado e Deputada eleito à Assembleia da
República vai escolher para o nosso País, vai escolher para todas as pessoas que estão lá fora, à espera de
soluções, desta que deve ser a Casa da democracia? Será um País em suspenso? Um País marcado pela
insegurança? O adiamento dos fundos comunitários? O adiamento das respostas quando as moratórias
chegarem ao fim?
Foram várias as justificações forjadas para rejeitar o Orçamento do Estado, quando a verdadeira razão é tão-
só a de manter o sectarismo político e satisfazer as clientelas partidárias!
As forças políticas que se empenharam em erguer muros, ao invés de construir pontes, vão ser também
responsáveis pelo cenário desastroso que se antecipa para o País com a decisão que aqui se vislumbra.
Só o processo de especialidade pode permitir fazer as alterações que consideramos relevantes para o
Orçamento, tornando-o num Orçamento mais justo ao nível social, ambiental e intergeracional, aproximando-se
do Orçamento que o País precisa.
Ou será mesmo que, depois de termos a estabilidade do País comprometida, devido a uma crise sem
precedentes, o melhor que esta Casa tem para dar às pessoas é, pura e simplesmente, deitar a toalha ao chão?!
É abandonar o barco?! É deixar um País em suspenso?!
O que estamos a dizer às pessoas lá fora é, precisamente, que esqueçam o hospital de que tanto precisam.
Médico de família? Não, não vão ter! Viver em casas onde se morre de frio? Não, não vamos dar respostas.
Estamos a dizer às gerações mais jovens que não, não vamos continuar a combater as alterações climáticas,
não, não vamos assegurar a necessária transição energética que é fundamental para o País, ou, menos ainda,
acabar com as borlas fiscais que as grandes poluidoras continuam a beneficiar.
Qual é a alternativa?! A alternativa, Sr.as e Srs. Deputados, para alguns deste Hemiciclo, passa por dar palco
e alavancar a ascensão de forças políticas antidemocráticas que estão a crescer no País.
Aplausos do PAN e do PS.
Protestos do PSD.
Que fique bem claro, Sr.as e Srs. Deputados, que, para o PAN, dar espaço àqueles que acham que em
matéria ambiental o caminho passa pela aposta em soluções poluentes, como o transporte individual, o consumo
ilimitado dos recursos naturais, inclusive dos combustíveis fósseis, não é o que queremos para o País.
Se este Orçamento chumbar já na generalidade há avanços tão importantes em matérias estruturais, como
os transportes públicos, que ficarão pelo caminho, incluindo os 1800 milhões de euros previstos para sanear a
dívida histórica da CP (Comboios de Portugal) que, ano após ano, tem levado à degradação da empresa e da
ferrovia.
Qual é a alternativa? Voltar às políticas de Passos e de Portas, que puseram fim aos passes sociais, aos
passes sociais universais para todos os estudantes, que privatizaram empresas públicas lucrativas, como é o
caso aberrante dos CTT (Correios de Portugal), ou que mandaram a nossa geração emigrar e não ser piegas?!
Não, Sr.as e Srs. Deputados, para o PAN, não é esta a alternativa.
Aplausos do PAN e do PS.