19 DE NOVEMBRO DE 2021
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agrícola da humanidade. Estas duas minas estão localizadas paredes-meias com o nosso único parque
nacional, o Gerês, e com o Parque Natural do Alvão-Marão. Localizam-se em território do lobo, espécie
protegida, e numa área da Rede Natura 2000.
A terceira mina localiza-se na Argemela, que integra o geoparque da serra da Estrela, localizada a
escassos metros do rio Zêzere, que abastece a região de Lisboa.
Todos estes factos não foram motivos suficientes para que o ministro, a quem compete, em nome do
Governo, ser o guardião do ambiente, agisse na salvaguarda desses valores únicos e fundamentais para o
futuro da vida. O Sr. Ministro, de muitas tutelas, privilegiou, nas suas decisões, a tutela dos interesses
económicos privados, muitas vezes internacionais, que devoram os recursos geológicos do nosso planeta.
O Sr. Ministro foi tão longe neste papel que, mostrando-se totalmente insensível aos apelos das
populações, dos autarcas, das associações de ambiente e, naturalmente, de Os Verdes, já assinou os três
contratos de exploração de lítio e assinou, ainda, com a maior discrição, no final de outubro, para além da
Argemela, um conjunto de outros contratos, inclusive para a prospeção e pesquisa de lítio, também em áreas
sensíveis.
O Sr. Ministro prepara-se, também, para avançar com um concurso para mais oito locais de prospeção e
pesquisa de lítio, nas regiões Centro e Norte do País, abrangendo 32 concelhos e toda a envolvente da serra
da Estrela.
Entretanto, avançou a regulamentação da lei de bases da mineração, o Decreto-Lei n.º 30/2021. Foi, aliás,
este diploma que os Deputados do PEV, em conjunto com os Deputados do PCP, avocaram a Plenário e que
está hoje em debate, para o qual apresentamos um conjunto de propostas de alteração.
Essas propostas visam dar resposta a uma maior proteção e salvaguarda do ambiente na atividade
mineira, estabelecendo que não possa haver atividade mineira nas áreas protegidas e classificadas, tanto de
âmbito nacional, como regional e local. Aliás, esta foi uma garantia dada pelo Sr. Ministro a Os Verdes, ainda
na anterior Legislatura, mas a pandemia «litiana» pode também ter efeitos amnésicos.
Protestos do Secretário de Estado Adjunto e da Energia.
Estabelecem, também, a interdição de mineração numa zona de proteção em redor destas áreas e em
áreas que, ainda que não classificadas, são de grande sensibilidade ambiental e desempenhem funções
ecológicas determinantes no combate às alterações climáticas, na preservação da biodiversidade, dos solos e
das práticas agrícolas sustentáveis.
Estabelecem que a avaliação de impacte ambiental tenha lugar antes da assinatura do contrato de
exploração, algo que deveria ser óbvio, visto tratar-se de um instrumento determinante para sustentar a
decisão, e que se alarguem e melhorem as condições para a participação das populações no quadro da
consulta pública, obrigando à realização de sessões públicas em todas as freguesias afetadas.
Os pareceres dos municípios, assim como de outras entidades, se desfavoráveis, devem ser vinculativos
em todas as fases do processo e não só na fase de prospeção e pesquisa, estabelecendo-se a reposição da
supremacia da lei de ordenamento sobre este diploma.
Por fim, estabelecem a defesa do interesse público, clarificando os direitos dos requerentes nas diversas
fases contratuais — de prospeção, de pesquisa e de exploração —, eliminando a amarra que o diploma
regulamentar em debate introduziu na regulamentação da Lei n.º 54/2015.
O que não deixa de ser interessante nesta matéria é que esta amarra, que não existia na lei de bases, surja
agora, neste diploma. Era o argumento que o Governo evocava sempre para justificar a assinatura do contrato
da mina do Romano, na freguesia de Morgade, em Montalegre, e, também, da Argemela.
Diziam, então, estes governantes do PS que estavam amarrados a decisões anteriores do PSD.
O Sr. Secretário de Estado Adjunto e da Energia: — Respeito pelos contratos! Respeito pelo Estado de direito!
A Sr.ª Mariana Silva (PEV): — Não que o PSD tenha deixado uma boa lei de bases, mas estas amarras não existiam, foi o PS que as criou. Ao criá-las, só reforçou os interesses dos privados, nomeadamente o da