I SÉRIE — NÚMERO 25
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Propomos que se retirem todas as referências à atribuição de direitos na fase de prospeção e pesquisa,
deixando claro que as atividades de revelação de recursos geológicos são exercidas, em exclusivo, pelo
Estado, através dos respetivos serviços e organismos competentes.
Será, para isso, preciso a revitalização do setor público mineiro, designadamente a Empresa de
Desenvolvimento Mineiro (EDM), que é uma entidade pública que tem descrito na sua missão «conceber e
executar, por si só ou em joint ventures, projetos de prospeção, pesquisa, avaliação e aproveitamento de
recursos geológicos». Está assim descrito no site da Direção-Geral do Tesouro e Finanças.
Propomos que as atividades de revelação sejam obrigatoriamente precedidas de estudos para a
identificação de grandes condicionantes ambientais, estudos esses que devem ser sistematizados em cartas
de grandes condicionantes, elaboradas para cada região.
Propomos que a concessão de direitos de exploração fique dependente da submissão prévia de avaliação
de impacte ambiental (AIA) e que esta seja favorável, contendo, nomeadamente, a análise dos recursos
ecológicos e da biodiversidade, dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, da saúde pública e da
qualidade de vida das populações, dos valores paisagísticos e culturais, do desenvolvimento económico e
territorial, uma análise psicossocial e a presença de passivos ambientais.
Propomos que, sempre que se proceda à prospeção ou à atribuição de direitos de exploração a incidir em
territórios integrados em áreas protegidas, seja obrigatório um parecer favorável do ICNF (Instituto da
Conservação da Natureza e das Florestas). Queremos que, relativamente à participação pública, esta deixe de
ser um pró-forma e que seja elaborado um relatório onde seja fundamentada e apresentada, de forma
evidente, a integração ou não dos diferentes contributos recolhidos no processo.
Propomos eliminar a possibilidade de transmissão contratual dos direitos de prospeção e exploração. Sim,
é preciso que os recursos nacionais deixem de ser associados à especulação na venda em mercado das
concessões, de umas multinacionais para as outras, ao sabor dos interesses momentâneos e do lucro
máximo.
Queremos, ainda, que sejam dadas garantias de proteção dos direitos dos trabalhadores em caso de
cessação da exploração.
Com estas propostas, o PCP reafirma a sua posição de fundo, manifestada em 2015, com o voto contra a
lei das minas: conhecer os recursos sem depender de terceiros; avaliar a eventual exploração com base no
interesse público, envolvendo as componentes económica, ambiental e das populações; garantir a valorização
dos recursos em Portugal.
Este é o caminho que permite conciliar o direito à qualidade de vida e à proteção ambiental com a
necessidade de o País desenvolver, de forma sustentável e soberana, a sua indústria extrativa, colocando-a,
não ao serviço dos interesses neocoloniais das multinacionais da mineração, mas sim ao serviço do
desenvolvimento do País.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado João Miguel Nicolau, do Grupo Parlamentar do Partido Socialista.
O Sr. João Miguel Nicolau (PS): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Duarte Alves, temos dificuldade em compreender as razões do requerimento da
apreciação parlamentar apresentada pelo PCP. E se a leitura do requerimento não esclareceu, após a
apresentação aqui feita pelo Sr. Deputado, a dúvida permanece.
Por um lado, o PCP diz que é contra a iniciativa privada e que deve ser o Estado a explorar — até aqui
nada de novo. Portanto, fica a dúvida se o PCP vai pedir a apreciação parlamentar de todas as normas que
visem a regulação dos mercados e as concessões do Estado e se, no fundo, são contra a transparência dos
mercados, ainda que não concordem com eles, tal como são contra a existência de regras claras, em que
todos sabem quais são os seus direitos e quais são as suas obrigações.
O Sr. Deputado Duarte Alves, na sua intervenção, falou muitas vezes em grandes empresas
multinacionais, mas a verdade é que está errado.