19 DE NOVEMBRO DE 2021
23
Além das questões de saúde pública, além das questões relacionadas com a necessidade de salvaguardar
os recursos hídricos, a qualidade do ar, a garantia da continuidade das atividades tradicionais, nomeadamente
da agricultura e da pecuária, estes exemplos do passado revelam que, de facto, não está salvaguardado o
interesse público e das populações e que os interesses das populações não foram considerados. Ora, nós
entendemos que também é importante que a opinião das populações não possa ser desconsiderada nestes
processos.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Dou agora a palavra à Sr.ª Deputada Maria Manuel Rola, do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Maria Manuel Rola (BE): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sr. Secretário de Estado, existem muitas formas de se contar uma história e há algo com que, de facto, concordamos: a exploração mineira não é
inócua. Sabemos bem quais os problemas provocados pela extração, por exemplo, de volfrâmio, na mina da
Panasqueira, já aqui foram referidas as sequelas deixadas a todos os níveis na Urgeiriça, ou ainda na
Borralha, um dos contratos que assinou recentemente, pelo abandono a que foi e é votada e ao qual este
contrato assinado não dará resposta.
Por isso, temos de ser cuidadosos e temos também de ser exigentes, mas não é o caso. O Governo quer
fazer passar uma lei banal de mineração por uma lei que protege a população, que protege os territórios e as
áreas protegidas, mas, mais uma vez, não é verdade. Para o demonstrar, vamos ao concreto das abstrações
em que o Governo não quer tocar.
Sobre as avaliações de impacte ambiental, a Comissão Europeia tem sido clara: a legislação portuguesa
não está conforme na informação que tem de ser disponibilizada. Sobre isto, a situação da exploração de lítio
em Covas do Barroso é bastante demonstrativa: no único território português classificado como património
agrícola mundial pela ONU, a APA (Agência Portuguesa do Ambiente) recusa-se e recusou-se a facultar
documentação às associações afetadas pela exploração, mesmo depois da decisão vinculativa da Comissão
de Acesso aos Documentos Administrativos.
Sr. Ministro, o parecer dizia que o acesso à informação ambiental não depende da existência de uma fase
de consulta pública, nem é limitado por ela. Assim, o Ministério do Ambiente e também a APA têm agora uma
queixa aceite pelo comité da Convenção de Aarhus. Deixo, então, a pergunta: Sr. Ministro, se é tudo tão claro,
tão transparente, tão verde, porquê sonegar e reter a informação devida à população afetada em Boticas? Por
que razão não são estes processos privados incluídos na avaliação ambiental estratégica que está a ser feita
no programa do lítio?
Já na Argemela fica evidente a falta de proteção das populações com a proposta de exploração de uma
mina de lítio mesmo em cima da freguesia de Barco, que se encontra encaixada entre a serra da Estrela e a
serra da Gardunha, junto ao rio Zêzere, como se lê no site da câmara da Covilhã. O Zêzere alimenta a
albufeira de Castelo de Bode e alimenta também a cidade de Lisboa. Não existem relatórios de viabilidade
económica, relatórios de viabilidade ambiental e nem sequer de saúde pública, mas já existe um contrato
assinado com a PANNN — Consultores de Geociências, Lda., empresa com capital social de 40 000 €, que
não dá garantias de recuperação e que foi alvo de vários pareceres negativos, nomeadamente dos órgãos da
democracia local afetados.
O Sr. Ministro acha mesmo que é possível fazer exploração mineira em cima das populações e contra a
sua vontade? E na mina do Numão, em que se assina um contrato com uma empresa em insolvência para
exploração de ouro, numa zona de proteção a 500 m do Alto Douro Vinhateiro?!
Sr. Ministro, as zonas protegidas têm de ser protegidas sempre, tal como as populações devem ser ouvidas
sempre, participando em todo o processo.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Tem agora a palavra o Sr. Deputado Nuno Fazenda, do PS. Faça favor, Sr. Deputado.