I SÉRIE — NÚMERO 8
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passos se têm dado para combater. Como é possível que haja barragens no Algarve com 10 % da sua
capacidade ocupada? E qual a solução apresentada? Limitar o consumo de água, inclusive em casa e para os
banhos, cortar mais de 20 % de água para a agricultura e aumentar o seu preço. Ou seja, a solução do costume
do Partido Socialista — pagar, pagar e pagar.
Aplausos do CH.
Já em relação à Convenção de Albufeira, o que tem feito o Governo português quando os espanhóis nos
fecham as torneiras e não cumprem o acordo? Nada, nada. Silêncio total. Um Governo de inércia que se verga
ao Governo socialista espanhol.
Com a seca, são os agricultores os que mais sofrem. Este Governo, em vez de apelar e ajudar os agricultores
a criar reservatórios de água, pequenos açudes ou retenções de água, de forma mais autónoma e com menos
burocracia, quer é aumentar o preço da água e que esta não seja utilizada.
Sabemos da agenda que existe para acabar com o setor primário em Portugal. Os agricultores estão sob um
ataque cerrado deste Governo e destes ministros, em particular da ainda Ministra da Agricultura. No entanto,
terão sempre no Chega o seu porto de abrigo e a sua voz neste Parlamento.
Aplausos do CH.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para apresentar o Projeto de Lei n.º 853/XV/1.ª e os Projetos de Resolução n.os 821 e 822/XV/1.ª, todos do Bloco de Esquerda, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.
Faça favor.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A seca é uma realidade em todo o nosso País e, sendo certo que há períodos do ano, cada vez menores, em que as regiões a norte ainda
conseguem escapar desta realidade, no último ano, a sul, nenhuma região escapou da situação de seca. Aliás,
nos últimos 20 anos, a precipitação no nosso País diminuiu cerca de 15 % e a perspetiva até ao final da década
é a de que possa ser ainda muitíssimo pior.
Face a isto, face a esta realidade, vemos que há um setor que consome cerca de 75 % da água captada. E,
desse setor, a agricultura, os grandes consumidores de água são os agricultores da agricultura intensiva e
superintensiva.
Resulta, portanto, destes dados uma constatação óbvia: Portugal não está a fazer o suficiente e há setores
que poderiam fazer mais para garantir um uso digno, um uso sensato da água.
Mas o nosso País corre o risco — e corre rapidamente por essa circunstância — de incumprimento da diretiva
da água. Essa diretiva diz que, em 2027, todas as massas de água deviam estar em bom estado ecológico,
encontrando no nosso País um incumprimento, em 45 %, das massas de água.
Ora, portanto, vemos uma situação de seca alarmante e vemos um País que não está a fazer o que devia
para responder a esta situação alarmante.
O Governo, sabemos, chega tarde, a más horas e muitas vezes a toque de caixa dos interesses instalados,
os mesmos que recebem 75 % da água no nosso País, o setor agrícola, em particular da agricultura intensiva e
superintensiva.
É por isso que várias propostas do Governo são exatamente as mesmas que estes setores defendem: maior
artificialização dos leitos hídricos, criação, por exemplo, de estações dessalinizadoras, e nunca tocando, ou
muito pouco, nos modos de produção, que é onde está o problema atualmente instalado.
Quem não pensa estrategicamente, quem não pensa a longo prazo, vai repetir erros, e é o que o Governo
está atualmente a fazer para não tocar nestes interesses económicos instalados.
Ora, o que o Bloco de Esquerda propõe é que, em primeiro lugar, haja um pensamento estratégico, estrutural,
sobre a água no nosso País, que se recupere o Instituto da Água, que a maioria PSD e CDS destruiu no período
da troica, que se reativem as administrações das regiões hidrográficas regionais e que se dê corpo aos
conselhos de regiões hidrográficas.
Com isso, temos um pensamento estrutural no País, temos o envolvimento dos diversos setores, incluindo
das entidades regionais e locais, e temos a criação de uma agenda a longo prazo capaz de defender não alguns