6 DE OUTUBRO DE 2023
23
como é que se faz, e, mais uma vez, o Governo faz um processo em que a audição, a auscultação pública, a
participação pública das pessoas diretamente interessadas e das suas organizações é completamente
prejudicada.
A associação nacional dos técnicos de inspeção automóvel escreveu, no parecer que fez, que recebeu o
documento no dia 18 de julho, tendo de dar parecer até ao dia 20 de julho, dois dias depois! E sabemos como
o Governo tem vindo a apressar processos, sendo que estamos agora confrontados com esta questão das
ordens profissionais e recebemos uma comunicação da Sr.ª Ministra, também aqui, para o Parlamento.
Quer dizer, se não há tempo para as próprias organizações se pronunciarem e para haver um processo
minimamente participado, claro que os diplomas vão sofrer as consequências dessa ausência de participação.
Ainda assim, a Associação Nacional de Técnicos de Inspeção de Veículos faz várias sugestões sobre o
diploma, que o Sr. Secretário de Estado há de ter tido oportunidade de ler, pois são públicas e estão também
no site do Parlamento.
Relativamente a mecanismos de reforço da independência dos inspetores face à lógica e à pressão do
negócio, como aqui foi dito, estamos a falar, no fundo, de uma competência que foi externalizada para entidades
privadas e, portanto, se houver inspeções feitas à pressa — se houver pressão para inspeções feitas à pressa,
com objetivos de produtividade —, que são aligeiradas, naturalmente, isso põe em causa a qualidade e a
independência do trabalho dos inspetores.
Foram feitas sugestões relativamente à não concentração monopolista das entidades responsáveis pela
inspeção e a uma maior supervisão do Instituto de Mobilidade e dos Transportes por via do controlo e do registo
do acesso ao software da fiscalização. Mais uma vez, estamos a falar de uma externalização, por parte do
Estado, de um serviço que é competência do Estado e que, se for sujeito a uma pura lógica de mercado ou a
uma lógica de mercado acentuada, está mais vulnerável à fraude, ao tráfico de influências, ao aligeiramento e
à falta de qualidade do serviço que é prestado. E, neste caso, é muito importante, porque estamos a falar da
fiscalização dos transportes.
Foram feitas propostas relativamente ao reforço da independência e também à regulamentação — maior
regulamentação, mais rigorosa, com maior consagração de direitos — da carreira e das condições sociolaborais
dos inspetores. Até porque — como aliás já foi dito, na intervenção anterior, pelo PCP — elas são uma condição
da própria qualidade e independência do serviço que é prestado.
Em suma, Sr. Secretário de Estado, há muitos aspetos deste processo que seria preciso corrigir na
especialidade.
A Sr.a Presidente (Edite Estrela): — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Termino, Sr.ª Presidente.
O que nós esperamos é que estes contributos, precisamente, possam ainda ser alvo de ponderação, reflexão
e integração na versão final deste diploma.
Aplausos do BE.
A Sr.a Presidente (Edite Estrela): — Não havendo mais inscrições para intervir, vamos passar ao
encerramento do debate.
Para o efeito, tem a palavra o Sr. Secretário de Estado das Infraestruturas, Frederico Francisco.
O Sr. Secretário de Estado das Infraestruturas: — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, deixava só duas
notas. De facto, o que está em causa é uma autorização legislativa. Portanto, o Governo irá legislar na sequência
dessa autorização legislativa e, depois, no âmbito do processo legislativo do Governo, as audições que teremos
de fazer — quer às associações do setor, quer às organizações que representam os trabalhadores — serão
naturalmente feitas.
Além disso, esta proposta de lei faz parte de um pacote mais alargado que está a rever o regime que
regulamenta as inspeções de veículos e, no quadro desse trabalho, tanto as associações do setor como as
organizações que representam os trabalhadores têm estado a ser ouvidas e continuarão a ser ouvidas. Esses
contributos são sempre, naturalmente, tidos em conta e acolhidos.