I SÉRIE — NÚMERO 10
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Esta nova realidade trouxe também consigo uma maior incidência do cyberbullying, que, de acordo com o
que os mesmos estudos nos vêm dizer, já é mais frequente do que o bullying cara a cara.
Para combater esta problemática de forma positiva, o PAN traz, hoje, uma iniciativa que propõe a criação da
figura de «zonas livres de equipamentos tecnológicos», ou seja, sem entrarmos num caminho proibicionista,
visamos que nos recreios seja possível colocar o foco no papel pedagógico das escolas, prevendo-se que, a
partir do próximo ano letivo, todas as escolas tenham um plano de boa convivência na comunidade educativa.
Esta realidade já acontece em Espanha, onde existe um plano anual de atividades de cada escola que tem
de prever atividades lúdico-formativas que favoreçam não só a utilização saudável de equipamentos
tecnológicos, estilos de vida saudáveis e a convivência entre elementos da comunidade educativa, bem como
temas tão importantes como a igualdade de género, a não-discriminação e a prevenção de qualquer tipo de
bullying ou de violência de género.
Mas, neste debate, entendemos que podemos e devemos ir mais longe, promovendo também uma revisão
do Estatuto do Aluno, manifestamente desajustado à evolução dos tempos. É que, ao contrário daquilo que
alguns Deputados defendem nesta Casa, o Estatuto do Aluno não protege os alunos da discriminação, seja ela
em função do território, da origem, da cidadania, do assédio, das ofensas à integridade física, entre tantas outras
questões que, em nosso entender, devem merecer tolerância zero a comportamentos xenófobos,
discriminatórios, violentos. Por isso mesmo, propomos a inclusão do direito à não-discriminação, em razão de
todas estas características e de comportamentos atentatórios à dignidade de qualquer elemento da comunidade
educativa, e punição do assédio no Estatuto do Aluno.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — E as touradas?!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela) — Para apresentar o Projeto de Resolução n.º 896/XV/2.ª (PS) —
Recomenda ao Governo ações urgentes e mobilizadoras da comunidade educativa quanto ao uso de
dispositivos tecnológicos em contexto escolar, tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Lobo.
A Sr.ª Catarina Lobo (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Debatemos hoje um conjunto de
iniciativas do Bloco de Esquerda, do PAN, do PCP e do PS sobre o uso de tecnologias em contexto escolar.
Nada mais atual, nada mais oportuno, nada mais alinhado com o que tem sido o debate público em torno deste
assunto.
Arrisco-me a dizer que não é difícil convergirmos na preocupação com o uso excessivo das tecnologias pelas
crianças e jovens, seja na escola ou fora dela. Este é, aliás, um desafio que as tecnologias têm vindo a impor
às famílias e à sociedade em geral, pelo que as escolas, enquanto contextos educativos formais, não ficam,
nem poderiam ficar, fora desta equação.
O desenvolvimento tecnológico não é de agora e o impacto nas nossas vidas também não. Mas a velocidade
com que acontece e o impacto crescente que produz impõem-nos uma reflexão, tão necessária quanto urgente,
acerca da forma como podemos olhar para as tecnologias, sejam elas telemóveis, smartphones, computadores
ou tablets, bem como para processos de digitalização, como os que envolvem os manuais, a avaliação ou as
ferramentas de ensino e trabalho à distância.
E a realidade é que podemos olhar para a tecnologia de duas formas: como uma vantagem, na medida em
que permite às crianças e jovens aceder a mais informação, a outras formas de aprender e de se conectar com
o mundo e com os outros; ou como um risco, que torna as crianças dependentes e vulneráveis a conteúdos
inadequados e a relações potencialmente perigosas.
Atualmente, já existem alguns indicadores acerca do modo como as tecnologias se relacionam com
diferentes aspetos do desenvolvimento, bem-estar e até saúde mental das crianças e jovens.
O impacto nas competências psicomotoras, na atenção, nas competências socio-emocionais, desde as
idades mais precoces, a par da emergência e evolução crescente de novos fenómenos — que, já existindo
anteriormente, são agora transferidos para o online —, como o cyberbullying, apontado pela UNESCO como a
consequência mais negativa do uso do telemóvel em contexto escolar, são obviamente variáveis de peso que
nos devem convocar a todos para uma reflexão séria e profunda sobre esta matéria. Uma reflexão sem medos
sobre o modo como queremos que as nossas crianças e jovens cresçam e se relacionem com um mundo que
— e já não há volta a dar — é mesmo tecnológico.