I SÉRIE — NÚMERO 25
40
Nesse sentido, combater a evasão fiscal, não só no comércio eletrónico, mas também em outras áreas, parece-nos fundamental e podíamos começar, por exemplo, por cobrar os 110 milhões de euros que continuam por cobrar à EDP (Energias de Portugal).
Esta também deve ser uma oportunidade para revisitar isenções que possam existir, alargá-las ou até mesmo verificar cobranças que estejam por fazer. Nessa medida, seria importante perceber até onde é que o Governo e o Partido Socialista estão disponíveis para ir.
Se temos de ter uma justiça fiscal, a mesma deve abranger, de forma equilibrada, outros setores que não apenas aqueles já existentes, e garantir que os dinheiros públicos estão efetivamente a ser tributados de forma justa e equitativa, não deixando passar por entre os pingos da chuva determinadas atividades, beneficiando outras ou esquecendo-se ainda de outras que acabam por ficar para trás.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Duarte Alves, do
Grupo Parlamentar do PCP. O Sr. Duarte Alves (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: A diretiva
que este projeto de lei transpõe tem como objetivo declarado combater a fraude associada ao IVA, particularmente num contexto de crescimento do comércio eletrónico.
É correto o alargamento do âmbito e do período de obrigação de conservação dos registos, que pode ter um papel importante no combate à fraude.
No entanto, há um aspeto que não podemos deixar de trazer à discussão: é que esta lei cria um sistema eletrónico central de informação sobre pagamentos, CESOP (Central Electronic System of Payment information), desenvolvido e gerido pela Comissão Europeia, cujo acesso está limitado aos funcionários da rede Eurofisc. Ou seja, primeiro a União Europeia promove a privatização, a liberalização dos mercados, a financeirização das economias; depois, quando essas políticas originam problemas, como é o caso dos problemas associados à fraude no IVA, a solução é sempre aumentar a componente supranacional das decisões, das medidas de fiscalização.
Acompanhando os objetivos da medida, não podemos deixar de assinalar um distanciamento, da nossa parte, face a um rumo de crescente concentração de poderes numa União Europeia cada vez mais federalista e neoliberal.
Aplausos do PCP. A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Rui Tavares, do
Livre. O Sr. Rui Tavares (L): — Sr.ª Presidente e Srs. Deputados: Na União Europeia, se temos um mercado
interno é natural que tenhamos de ter alguma harmonização fiscal, mesmo que uma boa parte das políticas fiscais continuem a ser políticas soberanas dos Estados-Membros.
Mas é preciso lembrar que, sem alguma harmonização fiscal, o que acontece é que perdemos o dinheiro que faz falta às nossas escolas, hospitais, bibliotecas, jardins, às nossas políticas sociais.
Só na chamada «fraude carrossel» do IVA há milhares de milhões de euros que se perdem todos os anos e que os contribuintes europeus poderiam reclamar como tendo de fazer parte de políticas de que todos nós necessitamos. Portanto, desse ponto de vista, o Livre apoia que haja esta transposição de diretiva, só lamenta que ela seja feita muito em cima da entrada em vigor das novas regras.
Gostaria de, numa nota final — porque ainda tenho alguns segundos —, mencionar um assunto que está relacionado, porque tem custado dinheiro a Estados-Membros da União Europeia e porque tem um plano europeu, e consta na ordem de trabalhos, mas sem tempos atribuídos para discussão. Falo da denúncia do Tratado da Carta da Energia, que é um tema que o Livre trouxe aqui logo no início desta Legislatura. Várias vezes o Livre questionou o Governo sobre isso e votámos aqui um projeto de resolução.
Finalmente, Portugal vai denunciar este tratado que tem custado muito aos Estados-Membros da União Europeia, que tem impedido a transição energética e que nos lembra de uma coisa que já aflorou em vários dos