22 DE DEZEMBRO DE 2023
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Mas o Sr. Deputado seguramente reconhecerá que não devemos deixar, em circunstância alguma, por muito
que discordemos do conteúdo das propostas, que sejam as forças — como aqui bem foi já descrito —
antidemocráticas e pouco interessadas em debate sério sobre transparência a sequestrar os debates. Ou seja,
o que estamos a sublinhar com esta intervenção, ou com esta nota de que pretendemos agendar este tema, é
que levamos isto a sério e queremos fazer esta discussão, porque não ter regulamentação alguma é pior do que
ter a regulamentação que já podíamos ter aprovada, mesmo que seja imperfeita e mesmo que depois ainda
precise de ser corrigida.
Mas, ao contrário do que dizia, era essa a pergunta que lhe deixava: reconhece ou não que o facto de ter
existido legislação no Parlamento Europeu foi um dos fatores que permitiu tornar mais fácil a investigação do
Catargate, reconhecer as falências e os buracos que a legislação europeia tinha? Aliás, as propostas que aqui
foram discutidas no passado já resolveram esses buracos, garantindo que não há um acesso generalizado pelos
corredores da Assembleia da República, como descrevia.
Portanto, volto a fazer o apelo. Se o Bloco de Esquerda está preocupado com a transparência — que sei que
está —, se entende que devemos dificultar a vida àquilo que descreve como facilitadores, descreva, nestes
instrumentos de transparência, o que é que lhes falta para que isso consiga ser garantido.
Aplausos do PS.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Mais meia hora! Se ganhasses à hora estavas rico!
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, do Bloco de
Esquerda.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Pedro Delgado Alves, sobre a pertinência
do anúncio do potestativo de dia 3, creio que, dando um passo atrás, perceberá que valorizar este debate com
esse anúncio é um erro político de quem quer combater a extrema-direita. Admito que possamos ter
interpretações diferentes, mas peço-lhe que dê um passo atrás, que verá que a crítica não é tão desajustada
assim.
Sobre o conteúdo da questão, pressionar agentes políticos é crime em Portugal. É ilegal fazê-lo. Garantir
isso na lei é inaceitável, é ilegal.
Protestos do Deputado do PS Pedro Delgado Alves.
Ao colocar como intermediários do acesso a Deputados, a Membros do Governo, que atualmente qualquer
cidadão pode contactar,…
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — E bem!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — … uma profissão não daqueles que vão facilitar a transparência, mas
daqueles que vão garantir que as reuniões têm consequência — é isso que vai ser vendido —, dir-me-á se,
depois, a suspeição que vai pairar sobre determinados agentes, que afinal são os principais facilitadores, não
vai minar toda a agenda política.
Dirá: mas é melhor alguma coisa do que nada. O que lhe digo é que a suspeição que esta lei vai criar e a
criação da legalidade dos facilitadores é perniciosa, é negativa para a democracia. Não sou apenas eu que o
digo, não é o Bloco de Esquerda, não é o PCP; é também a Transparência e Integridade, que disse que esta
proposta que o Chega trouxe — e veremos qual é que o PS trará —, para ser assim, mais vale não a fazer,
porque como está é melhor do que aquilo que foi proposto.
Aplausos do BE.
Protestos do Deputado do PS Pedro Delgado Alves.