I SÉRIE — NÚMERO 33
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O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, em nome do Grupo Parlamentar do PCP, tem a palavra o Sr.
Deputado Duarte Alves.
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Com este agendamento, o Chega fez
um enorme favor ao sistema. Sim, ao sistema de interesses privados que vivem à custa da promiscuidade entre
o público e o privado, o mesmo que financia o Chega…
O Sr. Bruno Dias (PCP): — É verdade!
O Sr. João Dias (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Quem é que financia o Chega?!
O Sr. André Ventura (CH): — Não é o Chega que vende as sedes! Não vendemos sedes nem andamos a
despedir funcionários!
O Sr. Duarte Alves (PCP): — … e que tem todo o interesse em que, a propósito das investigações judiciais
em curso, se discuta tudo, menos as causas de fundo desta promiscuidade.
Querem que se discuta a legalização do lobbying,passando uma esponja sobre o que promove estas
situações de promiscuidade. Sim, foi o caminho de privatização e liberalização de setores estratégicos, como é
o caso da energia e dos recursos minerais, altamente dependentes de decisões políticas, que criaram as
condições para os lucros milionários de empresas como a Galp, a EDP, as multinacionais mineiras, lucros esses
sempre dependentes de decisões políticas que as favorecem.
Não querem discutir que os projetos do hidrogénio vão ter financiamento público, mas os lucros serão dos
acionistas da Galp, os tais que iam levar uma lição exemplar e que, afinal, são os principais beneficiários das
Agendas Mobilizadoras e do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência).
Não querem discutir que o País fica na mão das multinacionais mineiras para conhecer os seus próprios
recursos minerais; que a lei das minas do Governo PSD-CDS, regulamentada pelo Governo do PS, diz que o
Estado, ao atribuir direitos de prospeção, dá automaticamente direitos de exploração e o País deixa de poder
decidir se quer, ou não, explorar determinado recurso, como o lítio, de acordo com critérios de interesse público.
Passa-se uma esponja sobre as políticas de privatização e liberalização para apresentar a legalização do
lobbying como uma panaceia para a corrupção e a promiscuidade.
Nada disto é novo. Aliás, é estranho como é que, havendo há anos uma ampla maioria, da qual o PCP não
faz parte, que defende a legalização do lobbying, esta lei não esteja já em vigor. Uma maioria que, em 2019,
juntou PS, PSD e CDS, a que agora se juntam a Iniciativa Liberal e o Chega.
Sr.as e Srs. Deputados, há várias razões para que o PCP se oponha à legalização do lobbying. Por um lado,
em nome da transparência, aquilo que se acaba por fazer é legalizar o tráfico de influências.
Veja-se uma coisa: este debate foi espoletado pela divulgação pública de um processo em que alguém, por
ser amigo de um Primeiro-Ministro, é suspeito de tráfico de influências. A pergunta que fazemos é se o mesmo
amigo, caso atuasse exatamente da mesma forma, mas em nome de uma agência de comunicação inscrita
como lobista — nesse caso estava tudo bem — estaria acima de qualquer suspeita.
O Sr. João Dias (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Nem notas, nem nada!
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Ou seja, aquilo que hoje é feito contra a lei, continuaria a ser feito, mas ao
abrigo da lei. É isso que o Chega recomenda, com a proposta que aqui apresenta.
O Sr. André Ventura (CH): — Era preciso ler!