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II SERIE — NUMERO 127

refere à admissão de doentes, altas, número de partos efectuados (discriminando entre eutócicos e distócicos), mortalidade e demora média.

3) Possui o Hospital de Egas Moniz uma unidade

de neonatologia? Em caso afirmativo, quais os meios técnicos que possui?

4) Quadro do pessoal (médico e de enfermagem)

do serviço de obstetrícia e da unidade de neonatologia e o número de lugares preenchidos por categorias e especialidades.

5) Existem equipas de saúde que assegurem em

regime de permanência, durante 24 horas, o funcionamento do serviço de obstetrícia? Em caso afirmativo, qual a sua composição por categorias e especialidades?

6) Como justifica a direcção do Hospital que

no dia 27 de Janeiro de 1984 não se encontrasse presente no Hospital às 3 horas nenhum anestesista?

7) Relatório do serviço de obstetrícia do Hospi-

tal de Egas Moniz sobre os factos ocorridos no dia 27 de Janeiro de 1984 com a esposa do Sr. Carlos Alberto Carvalho Rodrigues, de cujo parto resultou um nado-morto.

8) Os resultados do inquérito que pensamos

tenha sido realizado pela direcção do Hospital.

9) Que medidas tomou o Ministério da Saúde

para garantir o direito à saúde dos cidadãos, evitando que casos dolorosos, como o exposto pelo Sr. Carlos Alberto Carvalho Rodrigues, continuem a ser prática comum nos serviços de saúde?

Assembleia da República, 29 de Maio de 1984.— Os Deputados do PCP: Vidigal Amaro — José Magalhães. _

De: Carlos Alberto Carvalho Rodrigues

Avenida de D. José I, lote 1, rés-do-chão, esquerdo

2700 Amadora (telefone 90 40 88)

Amadora, 3 de Maio de 1984.

Ex.mo" Srs. Deputados da Assembleia da República Portuguesa:

Devido a todo o processo que envolveu o lamentável caso do consagrado ciclista Joaquim Agostinho, a Assembleia da República dedicou-lhe algum do seu tempo na sessão de ontem. Um voto de pesar, um minuto de silêncio e o pedido de um rigoroso inquérito, parece-me que foi o saldo que se pôde apurar.

Como cidadão português, congratulo-me com a atitude por vós tomada, esperando que esse «rigoroso inquérito» se faça e que produza efeitos bastante positivos para bem da saúde de todos os Portugueses. Gostaria ainda de ver publicados os resultados desse inquérito de uma forma tão transparente quanto possível, de forma a poder julgar positivamente o vosso empenho.

No entanto, o que me levou a escrever-vos não foi propriamente o caso de Joaquim Agostinho, mas algumas das considerações que foram feitas na referida sessão parlamentar. Um dos senhores deputados,

não sei se do Partido Socialista se do Partido Social--Democrata, mostrava-se muito indignado pela não existência de condições mínimas para casos tão delicados na capital algarvia, a cerca de 300 km de Lisboa.

Pena é que seja necessário o sacrifício de uma «figura pública» ou uma catástrofe para que os responsáveis do nosso país concluam do «mau estado» em que se encontram os nossos serviços de saúde, principalmente nos hospitais do Estado.

Mas, de facto, o objectivo desta carta é narrar-vos o que se passou comigo na madrugada do dia 27 de Janeiro deste ano no Hospital de Egas Moniz, em que um filho meu morreu durante o parto, por o bloco operatório se encontrar encerrado durante a noite, enquanto a maternidade funciona 24 horas por dia.

Dia 26 de Janeiro, minha esposa deu entrada na maternidade do Hospital de Egas Moniz e logo a parteira que a recebeu previu que o parto se deveria consumar entre as 3 e as 4 horas da manhã, o que, de facto, se viria a verificar. Convém ressalvar que a experiente e atenciosa parteira que a recebeu findou o seu turno de trabalho às 24 horas e por isso já não foi ela quem assistiu ao dramático parto.

A assistência anterior ao parto, na sala de dilatação, foi bastante deficiente e só por acaso o rebentamento prematuro das águas, por volta das 3 horas da manhã, aconteceu com a presença da enfermeira-parteira de serviço, que assim, e por sorte, se viu ilibada de uma quota-parte de responsabilidade.

De imediato, apercebendo-se da gravidade da situação, chamou o obstetra de serviço, cujo profissionalismo e dedicação reconheço. No entanto, era necessária uma intervenção cirúrgica de emergência, já que o próprio bebé comprimia o cordão umbilical, e a dilatação, ainda incompleta, impossibilitava o parto normal. E foi aqui que tudo falhou! Não havia no Hospital uma equipa de anestesistas para que se pudesse salvar o meu filho.

Cerca das 3 horas e 10 minutos chamaram uma das equipas de anestesistas para que acorresse de urgência ao Hospital, mas essa equipa só chegou às 4 horas e 30 minutos. Tarde de mais! Já a criança tinho sido retirada, morta, do ventre da mãe.

Todos estes dados se encontram no relatório médico do obstetra; não garanto é que esse relatório ainda exista, pois é provável que seja demasiado comprometedor para a estrutura hospitalar.

Continuando: formalizei uma queixa contra o Hospital. Em princípios de Março, eu e a minha esposa fomos chamados a depor na Polícia Judiciária; dissemos que apenas queríamos um apuramento de responsabilidades para que casos análogos não voltassem a acontecer; mas, a partir dessa data, nada mais soube. Acredito que já tenha sido encerrado o processo com uma boa desculpa do Hospital.

Como vêem, Srs. Deputados... também em Lisboa, num hospital civil, se morre devido ao mau funcionamento. Se eu fosse uma das «figuras públicas» de relevo, talvez o caso tivesse sido manchetíe de jornal e quem sabe se vocês não teriam pedido o «rigoroso inquérito» para que se apurassem as causas de uma morte que estaria plenamente justificada se se tivesse dado no dia 27 de Janeiro de 1984.

Saudações democráticas. — A bem da saúde de todos os Portugueses, Carlos Alberto Carvalho Rodrigues.