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II SÉRIE — NÚMERO 93

nenhum obstáculo a isso, o único obstáculo que há, como é óbvio, é o limite temporal e o desejo de criarmos aqui um debate vivo.

Desde já declaramos abertas as inscrições para o primeiro tema.

Pausa.

Estão neste momento inscritos para intervenções iniciais o Sr. António Filipe, da Juventude Comunista Portuguesa, a Sr." Fernanda Garcia, da Associação Promoção Cultural da Criança, o Sr. José Mário Mil-Homens, da Associação Livre de Objectores e Objectoras de Consciência, as Sr." Deputadas Helena Cidade Moura, do MDP/CDE, e Maria Helena Valente Rosa, do PS, o Sr. Jorge Ferreira, da Juventude Centrista, o Sr. Luís Pinto, da Juventude Socialista, o Sr. Deputado Carlos Miguel Coelho, do PSD, e o Sr. Carlos Fiúza Marques, da Intercultura.

Para um pedido de esclarecimento tem a palavra o Sr. Carlos Fiúza Marques.

O Sr. Carlos Fiúza Marques (Intercultura): — Li no Diário de Notícias, de hoje, que o Plenário da Assem-" bleia da República não funcionou para que os senhores deputados pudessem assistir a esta Conferência. Só desejo saber se isto realmente se confirma.

O Sr. Presidente: — O Plenário funcionou sexta--feira de manhã, no seu horário normal. A Assembleia da República não funciona nem aos sábados nem aos domingos, pelo que esta Conferência, em termos de articulação com o Plenário da Assembleia da República, não obstaculizou ao funcionamento dos seus trabalhos.

Para uma intervenção tem a palavra o Sr. António Filipe.

O Sr. António Filipe (JCP): — O primeiro painel desta Conferência debruçou-se sobre a situação dos jovens em Portugal. As análises que ontem aqui foram feitas relacionam-se directamente com o tema agora em debate: o desenvolvimento.

Pelo que ontem aqui ouvimos e pelo que já sabíamos, é legítimo que consideremos essa situação de dramática. Aliás, das intervenções que aqui ontem foram produzidas nenhuma o negou.

É perfeitamente possível o alheamento dos problemas; mais difícil é, porém, esconder a realidade. Ouvimos ontem dizer aqui que a situação dos jovens não é tão negra como alguns a pintam. Que a culpa da actual situação não há-de ser só dos governos. Prova* velmente, em seu entender, a culpa será do 55 Üe Abril, ou da recessão internacional, ou da Constituição, ou então das nacionalizações, eventualmente dos trabalhadores, talvez da fatalidade do destino.

Mas ninguém sabe explicar, convincentemente, em que é que a situação não é tão negra. Para além de abstraírem em concepções filosóficas, de terem feito citações variadas, velhas ou improvisadas, não conseguiram encontrar outra cor mais suave para pintar a realidade. Demonstrou-se, à evidência, que isso não é possível.

De facto, ninguém pode negar que a economia portuguesa está num perfeito caos, que o País quase não ganha para pagar os juros da dívida externa e que

quem paga este estado de coisas são, em grande parte, os jovens, que querem estudar e não podem, que querem trabalhar e não os deixam.

E nesta situação chegámos ao Ano Internacional da Juventude, que perfilha o lema do «Desenvolvimento», e realizamos esta Conferência sobre os problemas da juventude, que, embora ontem alguém tenha designado de simbólica, pensamos que o não pode ser, ou não fôssemos nós, que somos jovens, capazes de encontrar um melhor contributo para resolver os nossos problemas que ultrapasse o simples simbolismo.

O Ano Internacional da Juventude não pode serviír só para falar dos problemas, tem de servir também para começar a resolver esses problemas, ou pelo menos a contribuir para essa resolução.

Falou-se aqui ontem da falta de propostas concretas. É natural que as não tenha quem pretende fugir dos reais problemas. Pela nossa parte, recusamos o papel de espectadores passivos, que se pretende fazer crer que é o dos jovens. Acreditamos que estes têm um papel activo a desempenhar na transformação do presente, através de uma política que seja a sua.

Houve, no entanto, uma frase que aqui se disse que é parcialmente verdadeira: a culpa da actual situação não é só dos governos. Também pensamos que não. Ê também de quem, após ter já constatado o falhanço do governo PS sozinho, do governo PS /CDS, do governo PSD/CDS e do governo PS/PSD, prefere assobiar aos passarinhos, sem criticar os passarinhos, ou divagar no abstracto, para fugir a justificar o que é injustificável: o apoio que confere a uma política que, tendo já esgotado o leque de coligações logicamente possíveis para a sua manutenção, não resolveu nenhum problema e compromete o futuro próximo.

Responsáveis são os governos e quem tenta camuflar as suas responsabilidades, forma mais discreta e velada de um apoio que não tem cara para assumir em todas as suas consequências.

Ê, aliás, tempo de perguntarmos aos deputados e conferencistas da JSD se ainda não terminou o célebre e solene prazo de 6 meses que em Outubro do ano passado deram ao seu governo para resolver os problemas da juventude.

Já lá vão, pelo menos, 8 e não há notícia oficial de qualquer prorrogamento.

Quem afirma que as causas da crise não assentam na política dos últimos governos que não diga que a culpa é do conflito de gerações, como já para aqui ouvimos, mas que indique quais foram, de facto, as respectivas causas.

Ê bom que não nos iludamos. Os nossos problemas não resultam da crise internacional. Não negamos que existe uma crise latente nos países capitalistas, que tem repercussões graves no nosso país, tanto maiores quanto a dependência que mantivermos em relação a eles. Mas, mesmo assim, fica por explicar por que razão essa crise é muito mais profunda em Portugal que na maior parte dos países capitalistas em crise.

É evidente que a crise também não resulta do 25 de Abril. Antes pelo contrário. Ninguém pode negar a grande importância da Revolução de Abril no melhoramento da vida dos jovens.

ê certo que o 25 de Abril aconteceu já há 11 anos e que muitos jovens já não se lembram dessa data, o que é mais uma razão para que hoje nos perguntemos por que lutaram, afinal, os jovens que lutaram em