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27 DE MAIO DE 1985

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consultas de planeamento familiar e garanta o efectivo cumprimento das leis de protecção da maternidade e da interrupção voluntária da gravidez.

Somos por uma política de defesa da Natureza e do património que apoie o trabalho dos grupos juvenis que desenvolvem actividades na preservação do património natural, cultural, histórico, artístico e de defesa do equilíbrio ecológico.

Àqueles que nos acusam de tudo criticar sem nada propor lanço-lhes daqui um desafio: antes de acusar, leiam os nossos documentos. Mais: a todos os conferencistas, convido-os a verificarem os projectos de lei propostos pelos comunistas no hemiciclo aqui ao lado respeitantes a questões juvenis e que integram o conteúdo das pastas que ontem nos foram distribuídas. Isso fala por si.

Continuarão a dizer que não é possível uma política alternativa?

Ê verdade que as perspectivas que o Governo tem ultimamente apresentado aos jovens portugueses relativamente ao seu futuro não podem ser mais risonhas.

Aponta, como já há 8 anos, mas agora com vigor redobrado, para a adesão às Comunidades Europeias. Aí então virá o dinheiro que agora não temos, virá a tal modernização, já se diz até para aí quem nem sabemos o que havemos de fazer com tanto dinheiro.

Mas o que sabemos nós, jovens portugueses, sobre a adesão à CEE que o Governo nos tenha dito que nos permita ponderar sobre os prós e os contras?

Não será a mesma CEE que se debate com a tal crise internacional e onde alastra o número de desempregados e de problemas dos jovens? Não deve ser.

Não será a tal CEE de 10 países da Europa, cujas cimeiras fazem lembrar um saco de gatos, onde uns se pretendem governar, prejudicando outros, e donde alguns já falam em sair? Se calhar, não é.

Por que razão se dirá que a CEE é a Europa quando, afinal, são apenas 10 países numa Europa de 30 e em que mesmo de entre os países capitalistas há 11 que o não são?

Agora já vemos alguns dos que foram aqui há uns anos grandes paladinos da chamada «integração europeia» alertar para os grandes perigos económicos da adesão.

Será mentira que a indústria nacional e a maioria das pequenas explorações agrícolas irão soçobrar face à grande concorrência de países mais desenvolvidos? Parece que não. Será mentira que a nossa zona económica exclusiva vai ser gerida a bel-prazer da CEE, que serão os seus órgãos próprios a decidir dos nossos assuntos e que nos vão substituir nas relações económicas externas? Parece que não. Será que vamos ter uma política diferente se entrarmos para a CEE? Parece que não. A julgar por quem a defende. Assim se compreende melhor por que vêm agora figuras ligadas ao Governo dizer que, afinal de contas, os objectivos da adesão à CEE não passam de objectivos políticos. Objectivos que, tudo indica, podem sair bem caros ao País, mas que são um bom preço, sem dúvida, para as ambições políticas do Dr. Mário Soares na chamada corrida a Belém.

Ê claro que não perfilhamos qualquer concepção de orgulhosamente sós no plano internacional. A adesão à CEE é que, bem vistas as coisas, vai pouco mais longe que isso. O Mundo não são só 10 países quando

há tantos povos com problemas semelhantes aos nossos; quando há países em vias de desenvolvimento; quando há países socialistas; quando há países de expressão oficial portuguesa, com os quais devíamos aprofundar as nossas relações numa base de igualdade e interesse mútuos, pondo fim a projectos de ingerência de teor neocolonialista ou de apoio aos bandos armados que sabotam criminosamente o desenvolvimento desses países.

Será que nos planos interno e externo não é possível, não é desejável, uma nova política? Os jovens que respondam.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr." Conferencista Fernanda Garcia, da Associação Promoção Cultural da Criança (APCC).

A Sr." Fernanda Garcia (Associação Promoção Cultura da Criança): —Foi uma única vez, na nossa história, que o ensino esteve relacionado com o desenvolvimento do Pafs.

Na Idade Média, o ensino constituía um monopólio da Igreja e tudo o que se ensinava aos infantes, aos príncipes ou aos «meninos de espadinhas prateadas, vestidos de seda arrendada de prata», era rezar, confessar e outros exercícios da piedade.

Mudanças económicas e sociais verificadas nos séculos xiii e xiv, a Revolução de 1383, alteraram a situação: o clero sofreu as consequências da transformação histórica; acabou por perder o monopólio de ler e de escrever e o da instrução superior.

O trabalho dos copistas foi substituído pelo trabalho da imprensa, deu-se a divisão do trabalho no campo intelectual. E assim o ensino começou a chegar até aos homens-bons dos concelhos, quer dizer, foi também privilégio de ourives, sapateiros, alfaiates, tanoeiros e outros mesteirais. Em 1431, pelo menos, já a aritmética e a geometria eram divulgadas aos mercadores.

Nessa época, as manifestações culturais relacionaram-se com o trabalho produtivo, com as actividades marítimas e os grandes descobrimentos.

Não vale a pena citar aqui todos os homens famosos saídos desta «nova geração de gentes», a começar pelo grande cronista Fernão Lopes. Todos eles viveram com entusiasmo o novo clima social e mental, caracterizado pela tolerância entre os homens e pela convivência democrática.

Partindo da experiência, que era, no dizer de um deles, «madre das cousas, nos desengana e toda a dúvida nos tira», foram realizando livremente um trabalho extraordinário de verdadeiro amor pelo saber, escrevendo-se livros de crónicas, viagens, cosmografia e ciência náutica. Obras todas meritórias, como o Roteiro de Lisboa a Goa, de João de Barros, «não para ler a damas e galantes, e se aproveitarem delas nas cortes e paços reais, mas para os da Leça e Matosinhos»; quer isto dizer, para a arraia-miúda dos mercadores e dos navios.

Nada neste movimento foi ocasional: a cultura e o trabalho ligaram-se e, por consequência, tivemos o momento mais alto da nossa História. Bem podíamos dizer então ao mundo, com orgulho, como o fez Duarte Pacheco Pereira ou Garcia de Orta, «que se sabe mais num dia agora pelos Portugueses do que se sabia em 100 anos pelos Romanos».

Mas tudo isto foi transitório e a sociedade portuguesa não tardou a mergulhar numa «apagada e vil