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27 DE MAIO DE 1985

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tempos tão adversos para tornarem possível o 25 de Abril. Para conquistarem as liberdades de que hoje usufruímos e a que temos tanto apego, para que possamos hoje dizer que todos nascemos um pouco há 11 anos. Mas, muito mais do que isso, lutaram com a convicção de que a liberdade não existe só para existir. Existe para que os jovens possam alterar as estruturas económicas e sociais que os condicionem, as mesmas que sustentaram o fascismo durante tantos anos e que provocaram a crise com que o regime se debateu nos últimos tempos da sua existência. A democracia só faz sentido se com ela se permitir aos jovens alterar as condições de trabalho, de estudo e de vida, alterando as estruturas que condicionam e emperram o desenvolvimento e o progresso.

Esta realidade compreenderam-na os jovens que há poucos anos atrás puderam participar activamente na transformação operada na situação económica e social do País e que ainda hoje a defendem contra ventos e marés.

E hoje quem não tem consciência de que o País nos últimos anos tem andado para trás? Nenhum governo deixou de dizer que ia desenvolver o País, melhorar as condições de vida, reduzir a inflação, o desemprego, mas também não houve nenhum que não contribuísse para agravar todos estes problemas, e todos' dizem, quando tomam posse, que a situação em que encontram o País é muito pior que a que encontrou o governo anterior.

E, entretanto, o que se conseguiu com o 25 de Abril vão-no destruindo, e a situação vai piorando. Dizer que a culpa é das empresas nacionalizadas, que eles gerem para dar prejuízo, da Reforma Agrária, que desmantelam, ou da Constituição, de que fazem tábua rasa, é um discurso mais que estafado. Chegasse ao ponto de ser com dinheiro público que se montam os bancos privados.

A avaliar pelos esforços que têm feito para deitar abaixo a economia, a questão que ainda podemos colocar a nós próprios, passe a ironia, é por que razão não estão as coisas ainda pior.

A resposta têm sido, em grande parte, os jovens a dá-la. Dão-na nas escolas, nas associações, nas empresas, nas ruas, em todos os locais em que lutam contra as novas leis iníquas e as que estão para vir, de que o governo, aliás, nem sequer faz segredo: parece-lhe que a situação dos jovens ainda não é suficientemente grave e então lembra-se -de criar arrendamentos a prazo para a habitação, consagrar em lei os despedimentos arbitrários, criar serviços de informações. Falam-nos da tal modernização, mas é isto que nos apresentam. Já não é só não ter casa nem emprego. Pode ser também a perda da liberdade.

O governo não resolve nenhum dos nossos problemas; em compensação, abre as portas de par em par para que possam ser os estrangeiros a resolver na nossa terra não os nossos problemas, mas, obviamente, os deles.

Não se dá aos Portugueses a possibilidade de investir ou trabalhar condignamente na sua terra, mas abrem-se as portas às multinacionais; fizeram-se já dois acordos com o FMI, que podem conduzir a um terceiro, em condições ainda mais gravosas, e tudo isto acompanhado de cedências, de ingerências, não apenas económicas, também diplomáticas e militares. Nós, jovens, temos todas as razões para estarmos preocupados com

esta situação, que chega a ser humilhante. Por este caminho podemos chegar a um dia em que o País não progride só porque os estrangeiros não deixam.

Já aqui se disse que têm de ser os jovens a encontrar as soluções para o seu futuro, já que os velhos (creio que entre aspas) até agora não foram capazes de as encontrar. Mas temos para nós que encontrar soluções não é discutir se o menos mau dos ministros é A ou B ■ ou se é melhor alargar a coligação a C ou D para que todos prossigam o mesmo caminho inclinado e os jovens continuem a ficar para trás.

Não podem acusar-nos a nós, jovens comunistas, de criticar gratuitamente este ou aquele governo. Criticamos a política que tem existido, não porque isso nos agrade ou seja a nossa vocação histórica, mas porque, queiramos ou não, essa política é indefensável.

O que se diz é que, defensável ou não, é a única possível. Então, se constatarmos que a actual miséria em que se vive é a única solução possível, só restam duas soluções: ou as divagações metafísicas a que temos assistido da parte dos apoiantes do governo, ou pensar em qualquer outra coisa que não seja o desenvolvimento e o futuro.

A questão que colocamos é simples: é ou não possível os jovens encontrarem medidas para o desenvolvimento?

Se as empresas e sectores nacionalizados, em vez de constantemente descapitalizados e desmantelados por uma gestão ruinosa, fossem viabilizados?

Se os trabalhadores das UCP e das cooperativas agrícolas pudessem produzir em paz, em vez de serem constantemente espoliados e espancados pela GNR, contra a lei e contra as decisões dos tribunais?

Se os pequenos agricultores e empresas privadas fossem apoiados, de forma a prosseguirem as suas actividades de acordo com a sua dinâmica própria, em vez de se confrontarem com a perspectiva da falência, que em vastas zonas atinge já proporções consideráveis?

Se se afirma agora que a regionalização também pode ser um caminho para o desenvolvimento — e nós pensamos que sim—, há que ultrapassar as palavras e passar aos actos. Agora o que não é possível é falar em regionalização e ao mesmo tempo praticar uma política centralizadora, de ataque à autonomia do poder local, de oposição a anseios das populações, como está a suceder com a inviabilização do concelho de Vizela. Dizer uma coisa e fazer outra chama-se hipocrisia!

A viabilização e o apoio aos diferentes sectores da economia só podem ter dois efeitos: um, o aumento da produção nacional; outro, o melhoramento das condições de vida. Não serão estes os nossos problemas fundamentais?

Não deixemos que a árvore encubra a floresta. O que hipoteca o nosso futuro é o grande atraso económico em que vivemos. A causa primeira desse atraso é o deficiente aproveitamento dos nossos recursos, motivado por uma deficiente capacidade produtiva.

Para quê tantos entraves ao desenvolvimento dos grandes projectos nacionais, como o da barragem do Alqueva, de que ouvimos falar quase desde o berço e não há maneira de ser implementado?

O Sr. António Eloy (Amigos da Terra — Associação Portuguesa de Ecologistas):—Felizmente.