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II SÉRIE — NÚMERO 93

tristeza». Ora, a causa desta verdade de sabor amargo deve ser hoje lembrada: os Portugueses perderam a liberdade; perderam a liberdade porque foram arremessados sem piedade para o cárcere do Rossio; perderam a vida; perderam a vida porque foram incriminados pela sua sabedoria e levantados em postes altos para serem queimados vivos.

Nas fogueiras da Santa Inquisição esfarelaram-se os ossos a poetas, escritores, dramaturgos, médicos, mercadores e logistas. Os que conseguiram fugir, voltando as costas ao País, foram contribuir para o engrandecimento de outros povos. Um exemplo só: Diogo Mendes, conhecido banqueiro e um dos homens mais ricos da Europa do seu tempo, emigrou para Antuérpia quando foi fundada a Inquisição Portuguesa.

Defronte do Paço da Ribeira, as fogueiras da Inquisição não queimaram só os homens; simbolicamente, queimaram as escolas (como o Colégio das Artes, em Coimbra) viradas para a renovação da sociedade; queimaram sonhos da juventude; queimaram os livros da sabedoria e até — simbolicamente, repito — o próprio País. Das cinzas, dispersas no vento durante séculos, ficou o imobilismo.

As reformas de Pombal, dos liberais e dos republicanos não foram suficientes para recuperar o atraso e mudar Portugal.

Após a queda da I República, voltámos a cair em desgraça: o obscurantismo salazarista evocava em tudo os tristes tempos da Inquisição. A História voltou a recuar.

Com Abril conquistámos a liberdade. Mas é ainda necessário ensinar muita gente obscura a amá-la, de-fendendo-a constantemente.

Só a liberdade pode gerar o trabalho intelectual e produtivo, só a liberdade pode dotar os homens de entusiasmo e de vontade para, com o exemplo dos nossos humanistas e renascentistas, num mesmo ambiente de estudo e de tolerância, retomarmos a realização da sociedade futura.

A escola teve sempre como objectivo preparar, de uma certa forma, os jovens para uma determinada sociedade.

Quando hoje se fala em transformar o País numa sociedade desenvolvida e culturalmente avançada, é urgente que os ideólogos, políticos, técnicos, empresários e trabalhadores se mobilizem para debater em conjunto as inovações necessárias e realizá-las efectivamente.

O País já esperou demasiado; não se pode adiar por muito mais tempo a mudança.

A juventude portuguesa exige que lhe seja dada uma oportunidade para demonstrar o sentimento da sua liberdade, a consciência da sua responsabilidade, o sentido dos seus deveres na renovação da sociedade.

Ora, para que a transformação se efective é indispensável olhar a escola, o saber que lá se transmite, e reflectir profundamente sobre a inquietação dos jovens, sofrendo as crises do ensino e da vida, porque todos sabemos que «as crises do ensino não são crises do ensino; são crises de vida; denunciam e representam as crises de vida e são crises de vida elas próprias; são crises de vida parciais, eminentes, que anunciam e denunciam as crises da vida geral; ou, se preferirmos, as crises de vida gerais, as crises de vida sociais, agravam-se, condensam-se, culminam em crises do ensino que parecem particulares ou parciais,

mas que, na realidade, são totais, porque representam o todo da vida social; é, com efeito, no ensino que as eternas experiências esperam, por assim dizer, as mutáveis humanidades; o resto de uma sociedade pode passar, com ardis e artifícios; o ensino, não; quando uma sociedade não pode ensinar, não é que acidentalmente lhe falte um aparelho ou uma indústria, é que essa sociedade não pode conduzir-se a si mesma; para toda a humanidade, no fundo, ensinar é aprender; uma sociedade que não ensina é uma sociedade que se não ama, que não se estima [...]».

A democratização do ensino, a urbanização crescente das últimas décadas e a vaga democrática agravada pela descolonização tornaram insuficientes as escolas existentes no País, muitas delas já degradadas, e criaram a necessidade de novas construções escolares.

Não obstante aquilo que já se fez, a situação não deixa de ser dramática.

Os espaços da escola são cada vez mais acanhados e desumanizados, e vale a pena reflectir nas razões que lhes dão origem: as formas de organização social não são fomentadas, os estudantes não são encorajados a responsabilizarem-se uns perante os outros e todos perante a escola. A organização de muitas tarefas escolares poderia estar a cargo dos estudantes e não está.

Os alunos do ensino secundário, à medida que crescem e tomam consciência dos problemas, ao chegaram ao 12.° ano e à fase de acesso à universidade, sentem que não têm uma escola através da qual se possam preparar para a vida profissional.

Que fazer então? Abrir a escola, virá-la para o mundo, para o meio em que está inserida, acolhendo nela com algum carinho não só os estudantes, mas também todos aqueles que podem trazer o seu saber, a sua experiência e a sua competência.

Mas isto não é suficiente. Há que começar por transformar a imagem da escola: construir campos de jogos; incentivar os grupos desportivos e realizar torneios; fomentar o jornal e o teatro académicos; facilitar o acesso a filmes com matérias educativas; proporcionar a intervenção directa dos estudantes.

Tudo isso poderia estar a cargo da organização dos estudantes, desde que se lhes oferecessem meios adequados.

Dotar a escola destes meios seria muito mais do que tornar o seu espaço aprazível: traria à escola e aos jovens um novo entusiasmo pelo trabalho criativo e de grupo; desenvolveria a solidariedade e a amizade, as capacidades física e intelectual, tornando os jovens mais aptos e mais experimentados para enfrentar a vida adulta. Seria, em suma, a democracia em movimento.

Mas é necessário sublinhar que a renovação da escola tem de passar obrigatoriamente pela introdução de novos programas relacionados com as novas tecnologias e pela alteração de outros, assim como peio melhor aproveitamento dos meios áudio-visuais, por diferentes atitudes e mentalidades de muitos dos professores.

São quase sempre os professores que falam na sala de aula, muitas vezes preocupados em cumprir programas demasiado extensos, resultando sempre ezm prejuízos incalculáveis para os alunos, porque não se cuida de saber se os conhecimentos estão a ser interiorizados, os conceitos dominados.