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27 DE MAIO DE 1985

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Entrando agora na participação que gostaria de dar a esta Conferência da Juventude, começarei por definir aquilo que entendo por desenvolvimento e educação.

Consideramos que a palavra «desenvolvimento» está demasiado restritiva quando se pensa no aspecto económico.

Para nós, o desenvolvimento inclui a transformação cultural e a participação do indivíduo numa colectividade. Essa participação é difícil, é preciso encontrá-la, é preciso que o indivíduo a encontre. Lembro neste momento Paulo Freire, que diz que «a liberdade é a prática da sua procura».

Ontem, quando aqui ouvi várias vezes referido o facto de o jovem não se assumir a si próprio como jovem, penso que a essência do problema foi posta.

é evidente que o papel da escola —e eu própria tenho dedicado toda a minha vida à educação— é muito importante. No entanto, não é fundamental em toda esta organização que levará a juventude a encontrar um campo mais activo, mais transformador.

Pelo facto de ser alargada e de haver outros meios de comunicação e educação, a escola hoje já não tem aquele aspecto rígido que tinha de transmissora dos valores sociais preponderantes.

A escola hoje não é isso. Hoje, por exemplo no Brasil, fala-se na «pedagogia da resistência», que se afirma pela preparação pedagógica dos professores e pela liberdade dos alunos. Há aqui uma responsabilização que cabe à escola e que em Portugal tem sido dificilmente assumida, pelas características do nosso povo e da nossa escola.

Ainda há pouco, quando a nossa companheira falava do processo educativo, eu pensava que, se não fossem os padres, os frades e a tropa, em Portugal, possivelmente, éramos todos analfabetos. Isto porque, de facto, os Estados civis não têm tido a sensibilidade suficiente para encontrarem os valores da dinâmica escolar.

Uma outra noção que me parece difícil hoje é a do conceito escola/ligação ao meio. Hoje em dia, o meio é uma entidade extremamente dinâmica e a escola é uma instituição que dificilmente encontrará um compasso para essa dinâmica.

Penso que há que repensar os problemas fora dos preconceitos fixados e em Portugal, mais do que noutro sítio, isso é necessário. Digo isto porque —e foi mais nessa condição que tomei a palavra — sou deputada há 7 anos e trabalho hé 27 anos como psicóloga no Instituto de Orientação Profissional. Ninguém me pode levar a mal que, para fazer a análise dos problemas, eu me sirva mais da experiência profissional que tenho do que da experiência política, que, quanto a mim, é consequência da minha experiência profissional.

Há mais de 20 anos, desde 1964, que tenho estudado as aspirações sociais dos jovens que terminam o curso secundário. Ê um longo trabalho que, como toda a investigação em Portugal, tem sido feito bastante na base da clandestinidade e dos ordenados do meu marido, porque esse trabalho não é pago nem tem qualquer ajuda a níve? oficial. No entanto, tem havido interesse por parte do Centre de Recherches Scientifiques, de Paris, um centro de altos estudos, exactamente pelo curioso que é a situação social do jovem que acaba o ensino secundário em Portugal.

Desde 1964 até 1985, o perfil das aspirações sociais dos jovens em Portugal —e falo daqueles que

se encontram no último ano do ensino secundário — não mudou, o que é um pouco extraordinário.

Fiz uma análise destacada dos anos de 1974 a 1976, em que houve uma ligeira alteração, sobretudo por parte dos homens. Essas aspirações sociais não correspondem ao mercado de emprego, não correspondem aos valores sociais.

Só para exemplificar, devo dizer que enquanto as mulheres têm altíssimos interesses científicos e por actividades ao ar livre, os homens têm altíssimos interesses sociais, literários e, sobretudo, ao nível das rejeições, têm coisas curiosas. Por exemplo, enquanto os homens rejeitam a mecânica, as mulheres escolhem-na e rejeitam a burocracia.

Pelas aspirações sociais detectadas diríamos que estamos num país de condenados a fazerem o contrário daquilo que querem.

£ evidente que compreendem que uma análise feita ao longo de 20 anos tem uma margem de erro muito leve, quer dizer, tem-se mesmo de se considerar essas coordenadas.

Isto poderá ter várias explicações e não me atrevo a dizê-las todas. No entanto, isto está muito na base de uma falta de um projecto de vida real que o jovem português, diria mesmo, a criança portuguesa —porque é a partir dos 7 anos que o jovem começa a formar-se— não tem.

A imagem do pai em Portugal —e estas explicações estão sempre sujeitas a dúvidas— é extremamente débil porque, em geral, o pai vive no subemprego, está constantemente a dizer ao filho: «Vai para todas as profissões menos para a minha»; por outro lado, a mãe é supervalorizada pela quantidade de tarefas a que tem de pôr ombros, desde o emprego à organização da casa, passando pelas falhas de tudo quanto há.

No meio de tudo isto, o que é que os jovens que estão a viver depois do 25 de Abril poderão fazer? Possivelmente o mesmo que fizeram aqueles que nasceram pela época de 1910 e que tiveram apenas 16 anos para se libertarem. Nós já vamos em 11 anos e esperamos que dure um pouco maisl

Já se falou da Inquisição, que correspondeu a uma época de transformação social que foi castrada. Não podemos esquecer que os grandes vultos literários dessa altura eram os «estrangeirados», eram as pessoas que editavam os seus livros no estrangeiro e eram queimados em efígie em Portugal. Não podemos esquecer um Damião de Góis, um homem ecléctico na sua posição entre o catolicismo e o protestantismo e que morreu, diz-se, de pneumonia nos cárceres da Inquisição. Aliás, tradicionalmente, nas prisões portuguesas morre-se de muita coisa! ...

Há, portanto, uma constante que cumpre assumir pessoalmente. Por exemplo, Allport dizia: «A minha individualidade é a maneira específica de entender o colectivo.» Esta é, aliás, uma afirmação de que gosto muito. Ora, esta dimensão falta em Portugal, e falta desde a pré-primária.

Para além disto, nós —aqueles que sabemos ler e escrever e que estamos aqui a prestar-nos — somos um reduto. Continuamos com um terço de analfabetismo. Neste momento, no Ministério da Educação estão a ser cortados os destacamentos de professores primários para os analfabetos. Aliás, a nossa juventude nunca foi convidada a colaborar na extinção do analfabe-