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II SÉRIE — NÚMERO 93

renovar as mentalidades daqueles mais velhos e, por outro, de preparar um futuro não só para nós, mas também, como já aqui alguém disse, para aqueles que vierem depois de nós.

Portanto, temos de criar novos valores não só quando nos deslocamos a locais de discussão entre grupos, como este, em que estão presentes diversos jovens de diversas tendências ou ideologias, temos sempre de ter a preocupação fundamental não de resolvermos o nosso problema exclusivo, mas de resolvermos o problema na globalidade, o problema do País. Temos de apostar num novo discurso e saber dialogar abertamente, para que possamos contribuir para um Portugal melhor, mais justo e fraterno.

De facto, não podemos continuar a criticar os empréstimos ou a acção do Governo aqui ou acolá se, logo a seguir, viermos propor, como resolução de problemas da juventude, que os medicamentos sejam gratuitos, quando sabemos que isso implica investimentos, importações, riqueza que o nosso país não tem. O que temos de fazer é contribuir para a criação de uma riqueza que posteriormente possamos distribuir mais justamente por todos.

Não fujamos, pois, às nossas responsabilidades. Ê este o apelo que aqui deixo, para que, no seguimento deste debate, ultrapassemos um pouco a formalidade que, muitas vezes, se utiliza na Casa onde estamos e possamos dizer e discutir abertamente aquilo que pensamos, sempre numa perspectiva de renovação de discursos. . .

Aplausos.

O Sr. Presidente: —Tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Miguel Coelho.

O Sr. Carlos Miguel Coelho (Comissão de Juventude da AR — PSD): — Gostaria de dizer algumas coisas, referindo, no entanto, três questões prévias.

A primeira questão prévia é a de que falar nesta altura tem as suas vantagens: muito está dito e julgo que é sempre um gesto inteligente não nos repetirmos. Sem querer hierarquizar as intervenções, gostaria de salientar, em relação ao enquadramento das questões de educação, as intervenções da Sr." Deputada Helena Cidade Moura e do Sr. Luís Mil-Homens, com as quais concordo, pelo que me escusarei de as repetir.

O segundo pressuposto prévio é o seguinte: penso que, em questões de educação, devemos fugir à tentação de partidarizar o debate. Provavelmente, muito do que aqui já foi feito e do que tem sido feito em salas contíguas a esta e noutras sedes é partidarizar era excesso um problema que só interessa despartida-rizar. Não quero dizer com isto que a discussão deva ser apolítica ou que a ideologia não tenha a ver com a forma como concebemos a estrutura do sistema de ensino. O que quero dizer é que muitas das nossas preocupações colectivas poderiam ter sido ultrapassadas se já tivéssemos conseguido encontrar consensos em campos onde eles são possíveis, recuando face às tentações da política fácil e da parridarite aguda.

O terceiro e último pressuposto é o de que as poucas reflexões que vou colocar têm a ver com uma perspectiva muito negativa, que é a minha, pessoal, e que julgo ser partilhada pela organização de juven-tudo em que me integro.

Portanto, vou tentar também responder a alguns apelos que já se fizeram ouvir nesta Sala no sentido de não se trazer para aqui a cassette do discurso oficial de um partido qualquer.

Julgo que não valerá a pena tornarmos a colocar as questões sobre o fundo da educação em termos do seu sentido útil para a comunidade que somos. A educação é, com certeza, uma coisa importante na formação da personalidade de cada um e na elevação do nível cultural das populações. Fortalece a democracia, porque esta faz-se com pessoas inteligentes.

Gostaria de sublinhar quatro oposições. A primeira oposição seria educação/vida activa; a segunda, educação/futuro; a terceira, educação/formação de docentes; a quarta, educação/estratégia de desenvolvimento.

Julgo que se analisarmos a questão do insucesso escolar, mais do que qualquer outra, detectamos uma causa fundamental, que é a de que a educação não reage aos desafios do nosso tempo. Hoje, sobretudo ao nível do ensino secundário, para já não falar dc nível superior (sobre o qual me debruçarei mais à frente), qualquer pessoa constata uma frustração acentuada. No ensino secundário, os programas, os currículos e o tipo de ensino estão totalmente desfasados quer do apelo mais imediato da inserção na vida activa, quer, inclusive, daquilo que podemos considerar a formação intelectual básica para o prosseguimento dos estudos.

Se houve coisa que se tentou fazer e falhou, foi a unificação dos sistemas de ensino. Já aqui a Sr.a Deputada Helena Cidade Moura disse que o perfil social dos estudantes no terminus do ensino secundário não havia mudado substancialmente. Se o que se pretendia com a unificação do sistema era evitar a elitização do sistema de ensino, a fórmula que se encontrou talvez tenha apontado para figurinos que acabam praticamente por conduzir à mesma situação.

Não estou a dizer que não haja, nas preocupações que levaram à introdução deste sistema, intenções válidas, que devemos subscrever. O que quero dizer é que a fórmula que foi encontrada não serviu o objectivo fundamental, tendo conduzido a uma situação grave na estrutura do sistema de ensino que temos.

Se constatarmos que o sistema de ensino já não dá resposta aos apelos da vida de hoje, gostaria de pôr em comum a reflexão que tantas vezes fazemos: como é que esse sistema de ensino vai dar resposta às necessidades do mundo do amanhã? Uma criança que entre com 6 anos no 1.° grau da escolaridade, ou seja, no 1.° ano da !.° fase (a antiga l.a classe), sairá do sistema de ensino provavelmente passados 6 anos e, se fizer os S anos de escolaridade, praticamente daqui a uma década. E não me quereria deter agora cora aqueles que vão até ao 11.° ou ao 12.° anos, que saem do sistema de ensino daqui a 12 anos ou mais.

Se constatemos que o sistema de ensino que temos não dá resposta hoje e quisermos problematizar para que é que estamos a formar as pessoas, chegamos à constatação de que o sistema de ensino que hoje temos está menos preparado para dar resposta àquelas crianças e jovens que vão sair do sistema de ensino 10 anos depois. Que sociedade portuguesa teremos daqui a 10 anos? Que tipo de mercado de trabalho em perspectiva podemos definir?

Ao fim c ao cabo em que sentido, em que vectores, com que intenções é que estamos a organizar o sistema de ensino?