O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

27 DE MAIO DE 1985

3047

Já ouvimos aqui discursos rectangulares, discursos que, inclusivamente como disse a Sr." Deputada do MDP/CDE, já se ouviram ou já se leram muitas vezes.

Em relação à deputada do MDP/CDE, gostava de esclarecer que, embora tendo achado a sua intervenção interessante, considero que pecou pelo facto de, na sua declaração prévia, desconhecer factos da realidade e, nomeadamente, o facto de a Juventude ou a Organização de Juventude do MDP/CDE —e não sei se existe— não ter assento no CNJ, por razões que são claras e que são as mesmas por que não está aqui presente, o que é lamentável.

Lamentável é tcmbém o facto de a Juventude do MDP/CDE não ter acompanhado, desde o princípio, o processo de constituição do CNJ e, no momento em que formalmente este vai ser instituído, apareça a tomar lugar num barco em que certamente virá tomar lugar, mas numa fase posterior.

Ainda sobre o que me parece ser um ódio visceral aos passarinhos e talvez também às borboletas, gostava de dizer que, para nós, um sistema de educação tem de ser um sistema de educação integrado no meio natural e no meio cultural em que as pessoas vivem.

Por isso, é importante que as pessoas conheçam o seu meio natural, é importante que as pessoas conheçam os seus passarinhos e as suas borboletas.

Ê igualmente importante —e parece-me que a referência também já aqui foi feita— falar de bichos--da-seda. De facto, fala-se de bichos-da-seda como se estes não tivessem nenhuma importância, mas eles têm uma grande importância económica. E devo dizer que os bichos-da-seda criam mais emprego do que projectadas barragens ali na zona do Guadiana que, além da sua inviabilidade económica, da inexistência técnica de condições aquíferas para a sua construção, vão constituir um desastre natural de proporções assinaláveis.

Assim, não me parece de modo nenhum que seja a forma mais adequada de desenvolver essa zona do País a construção de um projecto que, indo criar estruturas centrais, não vai, minimamente, abastecer de água as zonas do Alentejo que prioritariamente devem ser irrigadas.

Gostava de referir ainda, porque se falou aqui na Lei de Bases do Sistema Educativo, que nós, os Amigos da Terra, apresentámos há 2 anos, antes das eleições legislativas, um questionário a todos os partidos.

Um dos pontos desse questionário era sobre o sistema de educação. Muito concretamente, destinava-se a chamar a atenção para a necessidade de uma lei de bases do sistema educativo se adequar concretamente à realidade do País e, sobretudo, permitir a maior autonomia não só dos agentes de ensino, mas também aos directamente atingidos, que são as pessoas que vão beneficiar, a curto ou a médio prazo, de um sistema de ensino, que inclusivamente, como temos vindo a verificar, não se integra, minimamente, na sociedade em que vivemos.

Passando a outra questão, direi que para nós há milagrosos poderes e maravilhosas actividades como, por exemplo, tirar a água do poço ou cortar a lenha.

Muitas vezes quando se fala do sistema de ensino está-se a falar de um sistema de ensino académico, formal, que não tem muito a ver com coisas essenciais nem com o nosso país; têm, sim, a ver, um

pouco, com os desejos de uma elite que é a elite que está aqui e que pretende ter noções exactas para apresentar programas globais e as visões mais adequadas para o desenvolvimento.

Ora, isso não é verdade. Não há, neste momento, um projecto global para adequar à realidade portuguesa.

Inclusivamente, entendemos que uma lei de bases do sistema educativo deve claramente privilegiar os enfoques local e regional, deve claramente privilegiar uma educação alternativa e, sobretudo, uma educação que tenha a ver com a realidade, com o país que somos.

Havia ainda aqui algumas questões para levantar, sobretudo porque muitas questões que já foram suscitadas por várias intervenções têm a ver com o que é o tema global deste painel —o «Desenvolvimento» —, embora passem já para outro âmbito que é o do emprego, o da formação profissional e o do meio ambiente.

Inclusivamente, uma realidade que nós não podemos esquecer é a realidade dos determinantes económicos.

Parece-me, igualmente, que quando se discute sistema de ensino se deve ter muito em conta a realidade económica do País que somos e, sobretudo, adequar um sistema de ensino à economia e à pequena escala que nós queremos dar à economia.

Para terminar, há ainda outras questões que ficaram no ar e que têm a ver um pouco com a solidão em que muitas vezes estamos — solidão em que estamos, felizmente! E digo felizmente porque nós não só não trocamos as nossas posições de princípio, éticas e filosóficas, nem sequer um prato de lentilhas, como não nos acomodamos a posições que possam ser interpretadas como sugestões de poder. Achamos que há que criar realidade através de outros meios.

Pausa.

Isto de não se trazer um discurso escrito de casa é um bocado aborrecido, porque depois uma pessoa perde-se no meio ...

Mas ainda havia alguns pontos que eu gostaria de abordar e que têm a ver com a questão que também passou aqui de lado e que vai ser tema certamente mais aprofundado no painel de amanhã.

De facto, fala-se aqui muito em verbas, verbas que não existem para a educação, etc. O Jorge Ferreira disse que elas não existiam para a educação, mas que existiam para estes gigantes consumidores dos dinheiros públicos que são as ditas empresas públicas.

Lamentavelmente não se falou aqui do que me pareceu ser um dos grandes cancros consumidores de verbas neste país e que é o serviço militar, o sistema de defesa nacional.

Devo dizer que, infelizmente, pessoas que falam muito de paz recusaram-se a assinar uma petição que os Amigos da Terra apresentaram à Assembleia da República. Não falo da Juventude Centrista, que tem posições peculiares sobre a paz, mas falo da Juventude.Comunista, pois, para ela, paz parece que é um conceito que serve para fazer propaganda, mas que tem muito pouco a ver com a realidade, isto é, quando se trata deste país, quando se trata de medidas concretas para fazer o caminho da paz neste país.