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20 DE JUNHO DE 1991

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«Aggeios» significa estuário, angra — o que condiz com a fisionomia do local e se apoia no facto do aparecimento de areia do mar, conchas, vestígios de mariscos e restos de navegação, nos limites dos campos de Angeja, bem como cm certa toponímia marítima, que por ali sobra —, Cabedelo, Porto de Mateus Dias, Porto da Verga, Ilha Velha, Cabo da Nau ou da Naus, Bico do Canal, Boca da Barra, Viela da Marinha, Ribeiro...

A alteração progressiva da fisionomia deve-se, sem dúvida, à variabilidade de localização da Barra de Aveiro, que foi desde a Torreira (1220) até Mira (1576), fixando-se no lugar actual apenas em 1808. O aluvião arrastado pelo Vouga e pelo Anluã contribuiu também decisivamente para a subida do nível dos terrenos da região. Angeja reflecte hoje uma adequada posição a antiga povoação ribeirinha.

Segundo testemunho insuspeito de Gama Barros e Alberto Sampaio, a colonização romana intensificou-se em redor do estuário do Vouga, espalhando nele 15 vilas. Certamente que Angeja é sucedânea de uma delas. E dos romanos terá ficado, nesta região, a dedicação e preferência pela agricultura.

O senhorio de Angeja:

O senhorio da terra de Angeja pertencia, no fim do século xiii, a D. Aldonsa. Encontramo-lo, no século seguinte, nos Cunhas, senhores de Tábua, prosseguindo depois num ramo segundo, de apelido Albuquerque, na pessoa de João Afonso de Albuquerque — que tomou este apelido em memória de sua avó D. Teresa de Albuquerque, casada com Vasco Martins da Cunha.

Embora os genealogistas digam o seu filho Pedro de Albuquerque senhor de Angeja, a verdade é que, tenho tomado parle na conjura do duque de Viseu contra D. João II, rei de Portugal, foi degolado e confiscados os seus bens. E, na sequência disso, é confirmado como sucessor imediato de João Afonso, no senhorio de Angeja, o seu filho Henrique, que faleceu sem geração.

As terras pertenciam ao almoxarifado de Aveiro, mas foram possuídas sempre pelos seus donatários com todos os seus termos, rendas, jurisdições, direitos, foros, tributos, maninhos, rossios, direituras, pascigos, montados, entradas, saídas, pertenças e quaisquer outras coisas à coroa coubessem. Na doação se compreendia sempre a jurisdição cível e crime, que os Albuquerques tinham.

Vagas por morte de Henrique Albuquerque, as terras de Angeja, juntamente com outras que integravam a doação, são colocadas sob o senhorio dos Moniz: Jorge, do concelho do rei D. Manuel I e seu guarda-mor, c, depois, Diogo, fidalgo da casa de el-rei e aleaide-mor de Silves. Por carta de 19 de Agosto de 1512, em atenção aos serviços recebidos de Diogo Moniz, e aos que esperava receber, o rei dispôs que fosse confirmado na doação das mesmas terras o filho mais velho que ficasse do casamento de Diogo com D. Brites da Silva.

É no tempo do donatário Diogo Moniz que o rei D. Manuel dá a Angeja o foral novo, de 14 de Agosto de 1514. Está no Museu de Aveiro o seu original.

Jorge Moniz, filho mais velho de Diogo, é confirmado no senhorio por carta de 15 de Julho dc 1572. Seu filho, Vasco Martins Moniz, é confirmado, depois de várias peripécias, por carta de 22 de Janeiro dc 1585. O filho varão dc Vasco e dc D. Violante, Francisco Moniz, vê confirmado o seu senhorio por carta dc 7 de Fevereiro de 1624. Sem descendentes, sua irmã, D. Juliana de Noronha, obtém confirmação da doação, na sua vida, na dc um filho e na dc um neto, por alvará de 8 dc Agosto de 1662 c

carta posterior de 24 de Setembro de 1672, embora com um senhorio reduzido de algumas das povoações c com uma pensão sobre a casa de Angeja, de 40 000 réis, a favor do sargento-mor da vila do Crato, Gonçalo Gonçalves. O marquesado de Angeja:

D. Juliana casou com D. Pedro de Noronha, 9.° senhor de Vila Verde. O primeiro filho, D. António de Noronha, 1.° conde de Vila Verde, faleceu antes da mãe, pelo que o senhorio das vilas dc Angeja, Bemposta c Pinheiro, à morte de D. Juliana, foi confirmado no seu neto, D. Pedro António de Noronha, 2.° conde de Vila Verde, por carta de 17 .de Abril de 1685.

Por carta de D. João V, de 21 de Janeiro de 1714, foi D. Pedro de Noronha de Albuquerque e Sousa titulado de marquês de Angeja — o l.9 marques de Angeja.

D. António de Noronha, 2.9 marquês de Angeja, é investido como donatário por carta de 3 de Agosto de 1734, em atenção aos serviços prestados por seu pai. O seu filho, D. Pedro José de Noronha e Camões, vê confirmada a doação, somente em sua vida, por carta de 12 de Fevereiro de 1782 — tornando-se também o 3.9 marquês de Angeja. Por alvará de 18 de Agosto de 1788 e carta dc 1 de Julho de 1789, fez-se confirmação a favor do'4.9 marques de Angeja, D. José de Noronha, mais se lhe reconhecendo o senhorado e alcaidaria de Vila Verde dos Francos, por sucessão, e o padroado da igreja de São João da Praça, na cidade de Lisboa, que fora doado ao seu bisavô.

Por morte de seu filho Pedro, sucede-lhe no marquesado o segundo filho, D. João de Noronha Camões. Com a sua morte, em 1828, interrompe-se o marquesado de Angeja, até 1870, altura em que D. Luís o restaura, na pessoa dc D. Caetano Noronha Camões de Albuquerque, conde de Peniche, como 7.9 marquês de Angeja. Seccde-lhe, no título e honras, seu filho D. Manuel Gaspar de Almeida de Noronha Portugal Camões, 8.9 e último marquês dc Angeja.

Estes titulares desempenharam altos cargos ao serviço da Nação, no País e fora dele, mercê do seu bom relacionamento e excelentes qualidades. Sobretudo, foi notável o 3.9 marquês de Angeja, D. Pedro José dc Noronha Camões, ao que parece com algum parentesco com o nosso épico, Luís de Camões.

Inimigo do marquês de Pombal, disfarçou bem a sua inimizade, escapando-lhe à fúria. Morto D. José e afastado o marquês de Pombal, o marquês de Angeja foi nomeado presidente do Real Erário. Obteve tal ascendente polílico-govemativo que pôde suspender o projecto de restauração pombalina de Lisboa. Foi conselheiro de D. Maria I; e ainda inspcclor-gcral das Obras Públicas e do Plano de Reedificação de Lisboa.

Apesar de importantes, estas nobres figuras acolhiam--se, nos seus tempos de lazer, no solar de Angeja. Assim, pôde esta povoação receber e hospedar visitas ilustres, como o príncipe D. Miguel, hóspede por alguns dis do 6." marques de Angeja, D. João, em 1826.

Residiu também por algum tempo em Angeja o primeiro Bispo de Aveiro, quando esta Diocese foi criada, cm 1778, enquanto naquela cidade episcopal erguiam a residência do prelado.

O concelho de Angeja:

Tanto os Albuquerques como os Monizes-Noronhas tiveram, cumulativamente com o concelho medieval dc Angeja, os concelhos limítrofres dc Pinheiro, na freguesia dc São João dc Loure, que era pequeno, Bemposta, que abrangia diversas freguesias, c mesmo Asscquins, simples aldeia de Águeda.