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II SÉRIE-A — NÚMERO 43

A este fica a ribeira de Soares, atravessada por uma ponte recentemente construída ligando Trevões a Valongo dos Azeites e a Póvoa de Penela, a 19 km de São João da Pesqueira (concelho).

«Da Villa de Trovões»

Duas legoas ao Nordeste de Sindim, seis de Trancoso para o Poente, & nove de Pinhal para a mesma parte, junto da Ribeira de Gallegos está fundada a Villa de Trovoens, à qual deo foral El Rey Dom Affonso Henriques: tem 300 vizinhos com huma Igreja Paroquial da invocação de Santa Marinha, de que he Abbade o Bispo de Lamego, o qual apresenta nella hum Vigário para administrar os Sacramentos aos freguezes.

Tem algumas Famílias nobres, a saber, Cayados, & Gamboas, que procedem de Biscaya, Rebellos, & Sousas.

Tem mais Casa de Misericórdia, Hospital, estas ermidas, Santa Bárbara, Nossa Senhora da Graça, Nossa Senhora da Piedade, São Sebastião & Santo António.

He fértil de Pão. vinho, azeite, linho, frutas, caça, & gado, & tem muitos soutos, com duas fontes.

He dos Condes da Vidigueira, & da Provedoria de Lamego.

Tem feira franca aos 5 de Agosto, que dura três dias.»

(Extraído do t. n da Corografia Portuguesa, do Padre Carvalho da Costa, 1." ed., de 1708, pp. 296 e 297.)

CAPÍTULO n História

Trevões

Freguesia do concelho e comarca de São João da Pesqueira, distrito de Viseu, diocese de Lamego, relação do Porto, Santa Marinha.

População: 795 habitantes em 305 fogos.

Dista 11 km da sede do concelho e 14 km da estação da Ferradosa (linha do Douro) e está situada a cerca de 5 km da margem esquerda da ribeira Faste, afluente da margem esquerda do Douro.

Tem serviço de correio, telégrafo e telefone, escola primária, delegação da Casa do Douro, agente bancário.

Na área desta freguesia há uma mina de chumbo e zinco denominada «Várzea de Trevões».

Não pode pôr-se em dúvida a antiguidade do povoamento do território desta freguesia, pois já possui documentação do século x que o abona positivamente.

A povoação, sede da freguesia, é coberta ao sul pelo declivoso monte de Sampaio, assim chamado pela existência da ermida, de imemorial edificação, dedicada ao pequeno mártir de Córdova do século x, São Paio, da qual ainda aí persevera uma representante onde o titulo se conservou por sucessivas restaurações.

Para trás de este alto cume, estendem-se os terrenos, menos declivosos, de Penela, antiquíssima vila acastelada de que o território de Trevões era termo inicialmente (pelo menos até ao século xn), mas no dito cume parece ter existido um forte castro de que talvez derivaram de Penela as fortificações da Reconquista cristã. Aliás, Penela e Trevões aparecem com os mesmos senhores até ao século x e durante mais de metade deste.

Do território da freguesia dá esta noticia nos fins do século xvn o padre D. Joaquim de Azevedo por conhecimento directo: «É fértil em pão com lavradores mui ricos e abona-

dos; produz muito azeite, vinho, fruta e hortaliça; para os matos do rio andam manadas de porcos monteses; para os mais lados, abunda em caça miúda [...]; dá muito linho, gado, soutos de castanheiros mansos e bravos, para madeira; na vila há duas fontes copiosas, muitas no termo, regando pela ribeira de galegos, que nasce nos vales paredes da Beira; recebe vários regatos pelos limites de Paredes e Penela, passa-se [nele], junto a Trevões em ponte de cantaria e ao pé de Várzeas (Várzeas de Trevões no geral chamada) em ponte de pedra, sob traves de madeira mui fortes, e fazendo moer muitos moinhos se recolhe no rio Torto, nos fins do termo de Trevões depois de uns quinze quilómetros de curso.»

Nos meados do século x ocorre a primeira notícia desta localidade, fornecendo a forma antiga deste topónimo, Trevules, cujo total desconhecimento do local e literário até de investigadores levou Pinho Leal a escrever sobre a sua significação o seguinte (que, porém, deve responsabilizar-se menos a ele do que aos seus dois informadores sobre Trevões, o reitor de então desta freguesia e o que devia continuar a obra de P. Leal em breve, o notável abade de Miragaia, Dr. P. A. Ferreira): «Pretendem alguns que o verdadeiro nome desta vila é Trevões, e procede da grande abundância de trevo que aqui nasce mesmo em cultura.

Será — mas em todos os livros e documentos antigos [sicj se lhe dá o nome de Trovões.

Nem [quanto a mim] colhe 0 dizer-se que no seu antigo pelourinho se via um escudo de armas com cinco folhas de trevo, porque Trevões nunca teve Brazão.

Se no Pelourinho estava o tal escudo com as folhas de trevo é porque em algum tempo seria senhor desta vila algum fidalgo de apelido Travassos [sicj que mandaria gravar no pelourinho o seu escudo, pois [...] muitas terras que não tinham brazãos de armas adoptavam o dos seus donatários, e esta vila nunca teve brazão de armas.»

Trata-se de uma disparatada opinião, porque se Trevões nunca teve brazão de armas, também nunca teve por senhor qualquer Travassos e, além disso, o gravarem-se em escudo as cinco folhas de trevo tem perfeito similar em muitas partes, em resultado de interpretações toponímicas, umas mais e outras menos absurdas (como o caso de Chaves, com as cinco «chaves» inventadas pelos que desconheciam a origem da povoação e a forma antiga do seu nome).

Depois, se Trovões se chamou, de facto, a este lugar a verdade é que tal apenas se verificou após o século x/v até ao século xvni, pois que deste para cá voltou a usar--se a forma antiga —talvez porque só um reduzido número de pessoas, com pruridos de explicação erudita do topónimo e de «correção» do mesmo, entretanto o usasse no local — a qual forma antiga, sendo Trevules nos séculos x a'xn, aparece em prefeita evolução fonética normal, Trevões no século xiii.

Até os bispos muitas vezes se entregavam a este divertimento (Trevões era «Câmara» ou couto episcopal).

«Hoje, traz muito pouco peixe, o que se atribui às frequentes TROVOADAS a que está sujeito este território, e é provável que a essa circunstância deva a vila o seu antigo [sic] nome de TROVÕES, que os seus habitantes mudaram em Trevões.»

Ao contrário, os habitantes, em vez de mudarem, teriam conservado.

A verdadeira significação do topónimo e, por isso, o seu étimo são pouco claros.