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18 DE MAIO DE 1995

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descendente dos nobres da estirpe de Távora, isto é, de D. Pedro Ramires), conserva vestígios da sua antiguidade altimedieval, românica: fortes paredes, portas e janelas em arco partido.

Diz-se que Nuno Caiado de Gamboa, antepassado dos Mel-los, Caiados e Almeidas locais, ofereceu a esta igreja, em sdém dos altares laterais, a notável imagem de Nossa

Senhora da Conceição, toda de marfim, preciosa escultura de tão alto valor que só em dias de festa se expunha na igreja

Em 1755, a demolição da velha torre para se erguer a nova levou ao achado das antigas pedras lavradas com inscrições góticas.

Os senhores de Trevões — os bispos, e depois os condes da Vidigueira, marqueses de Nisa — nomeavam as justiças do concelho local, bem como o ouvidor (até 1785) e escrivão.

Teve foral de D. Manuel I (Lisboa 15 de Dezembro de 1512), misericórdia e hospital.

O concelho foi extinto pela reforma de 24 de Outubro de 1855.

Francisco da Fonseca Henrique, do Arquilégio Medicina], dá uma pitoresca notícia de uma fonte desta freguesia «Quente no Inverno e fria no Verão; a qual em todo o tempo do ano causa pleurizes, paralisias e apoplexias; o que é tão vulgar, que entendem que coalha o sangue; e não duvido que haja nesta água alguma qualidade vitriólica, tão austera, ou acerba, que engrosse o sangue, ou o coalhe e faça os referidos danos, que de se embaraçar mais, ou menos a circulação do sangue costumão proceder».

(Extraído de Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. xxxii, pp. 747, 748, 749 e 750.)

O nome «Trevões»

O nome «Trevões» provir-lhe-ia de serem freqüentes as trovoadas nesta região, tanto que se atribui a elas a escassez dos peixes na ribeira dos Galegos, que noutro tempo foi abundante principalmente de irez, que os bispos ali pescavam.

Dizem que as tempestades frequentes deram o nome à terra, mas que os seus habitantes a mudaram para Trevões.

Trevões procede da grande abundância de trevo, que por aqui nascia mesmo sem ser cultivado.

Dizia-se também que no seu antigo Pelourinho estava representado o escudo de armas com cinco folhas de trevo, que teria sido um senhor fidalgo desta vila de apelido Travassos que teria mandado gravar as cinco folhas de trevo.

Já em 906 Trevões estaria ligado a Braga por doação de Flâmula, sendo esta data a mais antiga de que há memória.

Em 1149 ter-lhe-ia dado foral D. Afonso Henriques, sen: do ponto duvidoso porque semelhante nunca foi visto nem há dele referência nos arquivos do reino.

Mas há fortes razões para acreditar que esta povoação já existia no tempo dos Romanos, pois se encontraram por várias vezes em 1761 diferentes moedas do povo rei, no sítio da Barra e pelas duas vias romanas que ainda hoje existem a sueste e a sul, que eram o acesso a Trevões antes da estrada asfaltada.

Em 1285 foi elevada a paróquia, tendo como padroeira Santa Marinha.

No século xiii havia uma grande feira franca nos dias 4, 5 e 6 de Agosto; esta feira era uma das melhores da zona.

A razão por que deixaram de a fazer foi o facto de muitos feirantes escolherem este local e a própria feira para fazerem justiça pelas próprias mãos.

Desde o século xti ao século xvn predomina a grande propriedade.

' O paço episcopal do século xn, restaurado por D. Manuel Vasconcelos Pereira no século xvfl, nele se receberam os dízimos de 1853, ainda hoje existente; era habitado pelo

bispo, grande senhor feudal, pároco da vila de Trevões, que apresentava o seu vigário com o título de abade e mais tarde de reitor.

Em 15 de Dezembro de 1512, D. Manuel I deu-lhe foral, conforme se lê no livro de forais novos da Beira (fl. 42. col. 2.»).

Este foral dá-lhe o nome de Trovões.

Nos século xvi a xvin aparecem 11 ermidas (capelas), algumas ligadas a casas particulares.

Existia uma irmandade das almas (teria em 1773 1000 irmãos).

A vinda de fidalgos e famílias nobres para Trevões como Nuno Caiado de Gamboa em 1568, procedendo dele as famílias Almeidas, Caiado e Mello, e outros fidalgos já referidos, dá a entender de que aqui haveria fontes de rendimento.

Um episódio

«Em São João da Pesqueira, cabeça de comarca emergindo dos hombros rijos das encostas do Vinhedo que vão banhar-se no Douro e onde na era dos Cesaros, quedaram os Sulpícios Rufinos, ao rebate da Maria da Fonte agitaram--se liberais e miguelistas oprimidos por Costa Cabral.

Agitaram-se, aliaram-se, e como em todos os concelhos do norte, constituíram-se em Junta Governativa — hostil ao governo de Lisboa, submissa à Junta do Porto.

Eram eles velhos fidalgos solarengos, ricos viticultores regionais ao abrigo do saber e da gravidade do antigo brigadeiro da Legião Portuguesa, o ex-ministro de Estado conselheiro Manuel de Castro Pereira — dos Castros Pereiras, da Carreira.

Quando os povos vexados da Vila Nova de Foz-Côa e contornos pegaram o fogo às casas e armazéns dos Marçãos, eles atribuíram à JUNTA GOVERNATIVA e ao abade de São João, rebento dos Saraivas foragidos de Vila Nova.

Se bem o juraram, melhor procuraram fazê-lo.

Apenas os desastres dos generaes patuleias lhes deixaram limpo o caminho de Foz-Côa, no nascer do ano de 47, tornaram à sua terra, instalaram-se em casas de amigos, enquanto as deles ressurgiam dos tições das traves carbonizadas e foram a Viseu, em homenagem aos chefes vitoriosos do Cabralismo provincial.

E, na volta a Foz-Côa, já com o Saldanha no poder, desquitaram-se do juramento.

Primeiro desceram a Gouvões, Provezende e Sabrosa, na margem transmontana do Douro, em grandes barcos rabelos.

E ali, investidos de alta missão de desagravo, castigaram os que lhes haviam tomado no rio gados è trigos remetidos a casal para sustento das suas forças.

Em seguida, a 25 de Março de 47, arrancaram a caminho da Pesqueira — desta vez sob a chefia de Manuel Marçal.

Mas não meteram logo à vila.

Em Trevões, sólido povoado no terreno sul da comarca, tinha residência habitual Caiado de Almeida, um dos membros graduadores da Junta, a quem, além disso, os antigos guerrilhas miguelistas Andrades de Várzea, nessa altura misturados com os Marçães — e um deles, o mais velho, juiz ordinário no povoado — votaram ódio do que só acaba na morte.

Quebraram, por isso, no rumo de Trevões.

Caiado de Almeida, prevenido por amigo de Riodados da visita dos de Foz-Côa a (empo de se por nas atacas, monta a cavalo, e, arrepiando por mal conhecidas veredas de pastor, larga para a Pesqueira.

Os guerrilheiros invadem a povoação e cercam o solar do Junteiro, já noite fechada.

E por que não são felizes na caça, destroem móveis, comem, bebem, desperdiçam, prosseguindo na sua marcha pouco além do cantar do galo.